Um estudo liderado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental, nos EUA, descobriu que a prática de redução de estresse baseada em mindfulness pode ser tão eficaz quanto o uso de antidepressivo no alívio dos sintomas de transtornos de ansiedade. O estudo foi publicado no Jama Network Open.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 4% da população global, aproximadamente 301 milhões de pessoas, são afetadas por transtornos de ansiedade. Embora a ansiedade ocasional seja uma parte esperada da vida, a ansiedade que persiste ou é desproporcional à situação que a desencadeou pode ser um sinal de uma condição de saúde mental.
Os sintomas dos transtornos de ansiedade, que podem causar sofrimento significativo e interferir na vida diária de uma pessoa, geralmente incluem:
- Preocupação, medo ou ansiedade generalizada ou específica
- Dificuldade de concentração ou de tomar decisões
- Sentimento de irritabilidade, tensão ou inquietação
- Náusea ou desconforto abdominal
- Problemas de sono
- Sensação de perigo iminente, pânico ou desgraça.
Os tratamentos podem incluir um tipo de antidepressivo da classe dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), beta-bloqueadores (para reduzir os sintomas físicos associados à ansiedade) ou benzodiazepínicos — embora esses sejam geralmente prescritos apenas a curto prazo, pois podem levar rapidamente à dependência.
Os pesquisadores recrutaram 276 adultos diagnosticados com um dos seguintes transtornos de ansiedade: agorafobia, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada ou transtorno de ansiedade social. Eles, então, foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um realizou um programa de redução de estresse baseado em mindfulness (MBSR, na sigla em inglês), enquanto o outro recebeu tratamento com o antidepressivo escitalopram por oito semanas.
No meio e no final do estudo, os participantes relataram seus níveis de ansiedade e depressão. O grupo de mindfulness participou de sessões semanais em grupo, onde foram ensinados a teoria e a prática de várias formas de meditação para serem praticadas diariamente. O grupo medicado tomou 10-20 mg por dia de escitalopram e compareceu a acompanhamentos clínicos semanais.
Na metade e no final do ensaio, os avaliadores utilizaram várias medidas relatadas pelos pacientes para avaliação de ansiedade e depressão. Os avaliadores não sabiam a qual grupo de tratamento os participantes pertenciam.
Na metade do estudo, aqueles tratados com escitalopram relataram uma maior redução nos sintomas de ansiedade, mas, após oito semanas, não houve diferença significativa entre os grupos.
No entanto, o grupo medicado apresentou mais efeitos colaterais: 110 pessoas (78,6%) nesse grupo relataram pelo menos um evento adverso durante o estudo, enquanto apenas 21 (15,4%) no grupo de mindfulness relataram qualquer evento adverso.
Os dois tratamentos reduziram os níveis de ansiedade de maneira muito semelhante; por exemplo, uma escala que mede a ansiedade (Promis Anxiety Scale) caiu 8,9 pontos no grupo de medicamentos e 7,3 pontos no grupo de mindfulness. Essas diferenças não foram estatisticamente significativas, segundo a autora principal e médica Elizabeth Hoge, da Universidade de Georgetwon.
O programa de redução de estresse baseado em mindfulness inclui práticas formais e informais de meditação, além de hatha yoga, e foi desenvolvido pela primeira vez em 1990. Tem demonstrado ser útil para reduzir o estresse, os sintomas de depressão e ansiedade, ajudando as pessoas a regularem suas emoções.
Embora o impacto rápido do escitalopram seja notável, o estudo oferece uma clara indicação do potencial de se utilizar estratégias de tratamento mais amplas para a ansiedade e da contínua importância de um cuidado personalizado.
Os participantes do programa de mindfulness podem ter se beneficiado de mais contato do que aqueles no grupo medicado, porque tiveram encontros semanais de 2,5 horas, enquanto o grupo da medicação tinha 30 minutos semanais.
Apesar dessa limitação, os pesquisadores sugerem que, como o programa parece ser tão eficaz quanto o escitalopram, mas com menos efeitos colaterais, ele pode ser oferecido em um ambiente clínico para pessoas com transtornos de ansiedade. Especialmente para quem procura alternativas à medicação.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin