O ensaio Together é conduzido por pesquisadores no Canadá, Estados Unidos e Brasil
Redação Publicado em 26/08/2021, às 15h00
Resultados preliminares de um estudo internacional que envolveu o Brasil indicam que um antidepressivo pode ser útil para evitar o agravamento da Covid-19. Mas, antes que você se anime, saiba que ainda é muito cedo para utilizar a droga para esse fim. Desde o início da pandemia, diversos medicamentos já aprovados no mercado vêm sendo estudados como possíveis armas contra a doença e muitos já foram deixados de lado.
O trabalho, que recebeu o nome de Together, foi estabelecido em junho de 2020 como uma plataforma de ensaio clínico randomizado para testar uma gama de tratamentos potenciais para Covid-19, que podem ser adequados para uso clínico em um ambiente comunitário no Brasil e outros países de baixa e média renda.
O Together é conduzido por pesquisadores no Canadá, EUA e Brasil. Eles são da Universidade McMaster no Canadá, da Universidade nos EUA e Cardresearch – Cardiologia Assistencial e de Pesquisa Ltda. no Brasil. Até o momento, o estudo avaliou sete diferentes terapias reaproveitadas.
A fluvoxamina, usada contra depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), foi identificada no início da pandemia por seu potencial de reduzir a síndrome da tempestade de citocinas (liberação maciça dessas substâncias causando uma resposta imune exacerbada) em pacientes com Covid-19. É um medicamento relativamente barato e em uso desde a década de 1990. Entre os efeitos colaterais estão: ansiedade, agitação, dor de cabeça, tontura, insônia, sonolência, enjoo, ganho ou perda de peso e ideação suicida, entre outros.
Um total de 1.472 pacientes foram aleatoriamente designados para receber fluvoxamina ou placebo. Eles tinham mais de 50 anos de idade ou algum fator de risco conhecido para o desenvolvimento da Covid-19 grave. Todos foram acompanhados por 28 dias para determinar se experimentaram o resultado primário de retenção em um ambiente de emergência superior a seis horas ou hospitalização associada à Covid-19.
A avaliação do antidepressivo foi iniciada em 20 de janeiro de 2021 e interrompida em 6 de agosto de 2021 por recomendação do Comitê de Monitoramento de Dados e Segurança. O comitê recomendou a interrupção, pois os efeitos do tratamento foram convincentes. O medicamento resultou em uma redução de aproximadamente 30% nas complicações pela doença.
Para os autores, os resultados têm o potencial de mudar a forma como a Covid-19 é tratada em todo o mundo, uma vez que a fluvoxamina é barata, bem conhecida e amplamente disponível na maioria dos países.
Um ensaio anterior, menor, nos EUA, foi publicado no Jama e demonstrou uma redução na forma mais grave da doença. O estudo Together fez parceria com pesquisadores dos EUA para avaliar o potencial no Brasil, onde a Covid-19 teve um efeito particularmente negativo na saúde pública e resultou em centenas de milhares de mortes.
A decisão do comitê de monitoramento e segurança de dados de interromper o braço da fluvoxamina por causa de sinais de efeito positivo é um desenvolvimento estimulante para o estudo e para o Brasil. Estamos novamente no meio de uma onda de Covid-19 e esta é uma notícia positiva de que os resultados do nosso ensaio podem ter implicações importantes para o atendimento ambulatorial de Covid-19”, afirma professor Gilmar Reis, da PUC de Minas Gerais, responsável pela pesquisa no Brasil.
“Existem atualmente opções de tratamento limitadas para o manejo clínico ambulatorial de Covid-19. Um medicamento que custa apenas US$ 4 por tratamento de Covid-19 tem grandes implicações para o atendimento em todo o mundo”, disse o professor Edward Mills, pesquisador principal do Canadá. Mas ainda é bom lembrar que há um longo processo para garantir que o antidepressivo seja de fato uma opção para evitar complicações causadas pelo vírus.
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