Doutor Jairo
Leia » Covid-19

Está com sequelas da Covid? Alimentação e suplementação podem ajudar

Peixes de água fria, como salmão, são excelentes fontes de ômega 3, e importantes para a função neurológica - iStock
Peixes de água fria, como salmão, são excelentes fontes de ômega 3, e importantes para a função neurológica - iStock

Cármen Guaresemin Publicado em 06/08/2021, às 12h00

Em junho último, uma meta-análise publicada no Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry revisou evidências de 215 estudos sobre a Covid-19 para confirmar que as sequelas neurológicas são regra e não exceção em pacientes curados dessa doença. A meta-análise relata uma ampla gama de maneiras pelas quais a Covid-19 pode afetar a saúde mental e o cérebro.

Dentre as sequelas mais comuns estão: fadiga, sensação de falta de ar, dores musculares, cefaleia, tontura frequente, dificuldades de memória e concentração, além de insônia. Uma das formas de tratar as sequelas é melhorar os hábitos de vida, incluindo a alimentação. É importante lembrar que pacientes que foram infectados pela Covid-19 passaram por um quadro inflamatório e de estresse oxidativo muito grande, o que significa que a necessidade por alimentos e suplementos que atuem como anti-inflamatórios e antioxidantes tornam-se necessários.

A alimentação é fundamental para a manutenção das estruturas do tecido cerebral e das funções do sistema nervoso em geral. Isto porque ele é composto em grande parte por ácidos graxos e a manutenção dos mesmos é fundamental para a passagem de estímulos e comunicação entre os neurônios, células do sistema nervoso que precisam de glicose como principal substrato para manter suas funções e de aminoácidos para sintetizar neurotransmissores e repor estruturas”, afirma a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

O também nutrólogo e geriatra Juliano Burckhardt, membro titular da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e da entidade International Colleges for Advancement of Nutrology, lembra que o cérebro consome cerca de 25% da taxa metabólica corporal total, por isso o consumo de alimentos para um estado nutricional adequado é muito importante para seu funcionamento e a saúde mental. “Além disso, os neurotransmissores do cérebro, substâncias que atuam na interconexão entre os neurônios e em nossas emoções, precisam dos nutrientes certos para serem produzidos”, afirma o médico.

Equilíbrio em todos os lados

De acordo com Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (Snola), no caso das sequelas é necessário dar um suporte direcionado para qual sintoma prevaleça, e qual deles impacta mais na vida do paciente, enfatizando a importância de buscar um equilíbrio por todos os lados, como uma boa alimentação, exercício físico regular, cuidados com a mente (psicoterapias, meditação e outros) e reabilitação das funções que foram prejudicadas.

Batistella afirma que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma alimentação rica em frutas, vegetais, legumes, grãos integrais e não processados, além de alimentos proteicos, auxiliam na manutenção de uma imunidade mais forte e reduz riscos de doenças crônicas e infecções.

Não custa reforçar o hábito de ingerir cerca de oito a dez copos de água todos os dias. Isso auxilia em todos os processos metabólicos, ajuda a regular nossa temperatura, dentre outros benefícios”, afirma o neuro.

Burckhardt concorda: “No caso da água, este líquido essencial transporta nutrientes e executa a eliminação de substâncias tóxicas do organismo. É importante frisar que a desidratação pode levar a déficit cognitivo e quadros de confusão mental”.

[Colocar ALT]
Beber água é fundamental -  iStock

Segundo Marcella, muitos alimentos são indicados para o bom funcionamento cerebral, entre eles estão: os carboidratos, como cereais, pães e massas integrais, hortaliças e frutas, que devem constituir aproximadamente 50% da dieta, pois a glicose é o principal combustível energético do cérebro; portanto, é fundamental manter os níveis de glicemia estáveis e em equilíbrio ideal ao longo do dia.

Castanha-do-pará, amêndoas e sementes, como chia e linhaça são ricas em vitaminas, minerais e ácidos graxos ômega 3, que reduzem o estresse oxidativo e melhoram o sistema imune, protegendo contra o envelhecimento celular. As sementes de chia e linhaça têm impactos positivos no metabolismo pela grande presença de fibras, segundo a médica nutróloga.

Nutrientes importantes

Marcella também cita que peixes de água fria, como salmão, atum, arenque, cavala, corvina e sardinha são excelentes fontes de ômega 3. Portanto, importantes para a função neurológica, sensibilidade cognitiva, aprendizado e comportamento. Já as frutas e vegetais verde-escuros, que são fontes de vitamina C e potentes antioxidantes, protegem os neurônios dos danos oxidativos dos radicais livres.

Para Burckhardt, alguns alimentos são bons exemplos de nutrientes que devem ser consumidos. Ele cita o abacate, uma fruta rica em gorduras boas, que ajudam a reforçar a estrutura da membrana celular dos neurônios. Além disso, a vitamina E, magnésio e folato, presentes na fruta, são todos nutrientes com propriedades interessantes para os neurotransmissores do cérebro.

“Leguminosas como feijão, lentilha, grão-de-bico e ervilha são fontes importantes de vitaminas do complexo B, fundamentais para o cérebro e a síntese de acetilcolina, neurotransmissor básico para funções de memorização”, destaca Burckhardt. 

Ele também diz que o chocolate amargo, com 70% de cacau, é igualmente bem-vindo. Isso porque, por meio do triptofano e da feniletilamina, este tipo de chocolate estimula a liberação de serotonina, endorfina, anandamida e teobromina, substâncias que aumentam a sensação de bem-estar e melhoram a disposição e o humor. Por fim, as oleaginosas (castanhas e nozes) são ricas em selênio, importante mineral para prevenção e tratamento de depressão e na redução do estresse.

Sintomas leves

Marcella comenta que vários de seus pacientes tiveram a doença, e que a grande maioria evoluiu bem, com sintomas de leves a moderados e se recuperaram com tratamento domiciliar. Ela destaca que existem mais de 50 sintomas relatados na literatura científica relativas a pós-Covid, que pode se arrastar por meses. E os sintomas mais comuns são falta de ar, fadiga e fraqueza muscular, cefaleia, perda de paladar e olfato, queda de cabelo, dificuldades para dormir e de memória, dores articulares, alteração de ritmo cardíaco, função intestinal, desordens emocionas, como ansiedade e depressão.

Em relação aos pacientes que a procuraram após terem a doença por causa das sequelas e queixas pós-Covid, a abordagem é sempre a mesma: diagnóstico, ajustes na dieta, suplementação, que pode ser por via oral ou parenteral, e uso de medicamentos necessários. Ela também indica terapias multidisciplinares, que contam, além do médico, com outros profissionais, como fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e enfermeiros, entre outros.

Alimentos para evitar

Batistella aconselha a moderar o consumo de gordura e óleos, assim como ingerir menos sal e açúcar: “São recomendações, de certa forma, genéricas, porém que impactam negativamente caso o paciente se infecte. Evite não só comer esses alimentos, mas também comer fora de casa durante a pandemia; geralmente nos alimentamos muito melhor e com mais segurança quando somos nós mesmos os responsáveis pela nossa comida”.

Veja também