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App de encontro alimenta busca por procedimentos estéticos

Aplicativos baseados em deslizar fotos são os que mais estimulam a busca por procedimentos estéticos - iStock
Aplicativos baseados em deslizar fotos são os que mais estimulam a busca por procedimentos estéticos - iStock

Redação Publicado em 22/02/2025, às 10h00

Você já deve ter ouvido falar que as redes sociais e a mania dos selfies têm alimentado uma procura desenfreada por procedimentos como Botox, preenchimentos e cirurgias plásticas. Agora, um estudo chama atenção para o potencial dos aplicativos de encontros em fazer o mesmo. Mais de 320 milhões de pessoas utilizam esses aplicativos em todo o mundo.

Um estudo de pesquisadores da Universidade do Sul da Austrália revelou que mulheres usuárias de aplicativos de encontro têm uma probabilidade muito maior de se submeter a procedimentos estéticos e de alterar digitalmente sua aparência na tela do que aquelas que não utilizam os aplicativos.

Vontade de mudar a aparência

A ênfase na aparência, especialmente nos aplicativos baseados em deslizar fotos para a direita ou esquerda, influencia 20% das mulheres a mudarem sua aparência, especialmente por meio de preenchimentos dérmicos e injeções contra rugas, segundo o trabalho.

A pesquisadora Naomi Burkhardt, graduada em Psicologia, liderou o estudo publicado na revista Computers in Human Behaviour e aponta que, embora a crescente popularidade dos aplicativos de namoro tenha reduzido o estigma de usá-los para encontrar o amor, há um lado negativo: 

A natureza visual dos aplicativos de namoro, que priorizam perfis baseados em fotos, coloca uma pressão significativa sobre os usuários para se apresentarem de uma maneira idealizada que não é genuína.”

Atitude positiva em relação a cirurgias

Os pesquisadores entrevistaram 308 mulheres australianas, com idades entre 18 e 72 anos, e descobriram que quase metade delas usou um aplicativo de namoro nos últimos dois anos, e uma em cada cinco relatou ter se submetido a pelo menos um procedimento estético.

As mulheres que utilizam aplicativos de namoro demonstraram atitudes significativamente mais positivas em relação à cirurgia estética em comparação com as não usuárias. Além disso, aquelas que alteram digitalmente sua aparência também são mais propensas a considerar procedimentos estéticos.

Insatisfação corporal e baixa autoestima

Além da pressão para melhorar a aparência física, os aplicativos de namoro podem ser parcialmente responsáveis pelo aumento da insatisfação corporal, transtornos alimentares, ansiedade e baixa autoestima entre as mulheres.

Estudos anteriores já investigaram as conexões entre o uso geral das redes sociais e a maior aceitação da cirurgia estética, mas há poucos dados que analisam especificamente o impacto dos aplicativos de namoro.

Como evitar esse impacto? 

A coautora do estudo, Lauren Conboy, sugere diversas intervenções para lidar com os impactos psicológicos desses aplicativos, incluindo a incorporação de recursos que incentivem a autenticidade.

“A introdução de algoritmos de correspondência baseados na personalidade poderia ser considerada para reduzir a ênfase na aparência física. Além disso, os aplicativos poderiam oferecer intervenções integradas sobre imagem corporal, como exercícios de autocompaixão, para mitigar as pressões de alterar a aparência”, sugere Conboy.

O namoro online tem se tornado cada vez mais popular nos últimos anos, e a tendência deve continuar. O site de relacionamentos eHarmony prevê que, até 2040, mais de 70% dos relacionamentos começarão online.

O coautor do estudo John Mingoia afirma que os aplicativos de namoro têm o potencial de criar ambientes mais saudáveis, onde os usuários possam se conectar sem sentir a necessidade de se adequar a padrões irreais de beleza.

“Esperamos que esta pesquisa oriente futuros estudos para desenvolver intervenções que aprimorem a autenticidade no uso dos aplicativos de namoro, além de ajudar profissionais a identificar melhor as motivações das mulheres que desejam mudar sua aparência”, conclui o especialista.