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App de meditação pode ser útil para crianças, diz estudo

Crianças que praticaram exercícios de atenção plena no aplicativo tiveram menos emoções negativas - iStock
Crianças que praticaram exercícios de atenção plena no aplicativo tiveram menos emoções negativas - iStock

Tirar as crianças de perto de tablets e smartphones tem sido um sacrifício para os pais, que sabem por experiência própria como esses aparelhos são viciantes. Cada vez mais estudos têm chamado atenção para os riscos de passar muito tempo em frente às telas e acessar conteúdos que estimulam emoções negativas, como comparações e cyberbulling.

Mas é sempre bom lembrar que a tecnologia veio para ficar e também traz algumas utilidades. Uma pesquisa realizada por cientistas do consagrado MIT (Massachusetts Institute of Technology) sugere que intervenções de mindfulness (atenção plena) baseadas em aplicativos podem favorecer a saúde mental das crianças.

Evidências científicas têm apoiado os benefícios das diferentes técnicas de mindfulness, que consistem em cultivar uma atenção relaxada ao momento presente, para pessoas de diferentes idades. Alguns trabalhos mostraram que crianças que recebem esse tipo de treinamento na escola apresentam melhora na atenção e no comportamento, bem como na saúde mental.

Pandemia foi pano de fundo

Quando a pandemia de Covid-19 começou em 2020, isolando milhões de estudantes em casa, um grupo de pesquisadores do MIT se perguntou se práticas de mindfulness baseadas em aplicativos poderiam oferecer benefícios semelhantes.

Em um estudo realizado durante 2020 e 2021, eles relatam que as crianças que usaram um aplicativo de mindfulness em casa por 40 dias mostraram melhorias em vários aspectos da saúde mental, incluindo a redução do estresse e de emoções negativas, como solidão e medo.

Os resultados sugerem que intervenções de mindfulness com ajuda da tecnologia poderiam atingir um número maior de crianças em comparação com as abordagens baseadas na escola.

A equipe liderada por Grover Hermann, professor de ciências cerebrais e cognitivas do MIT, também relatou que as crianças com níveis mais altos de atenção plena apresentaram maior resiliência emocional diante dos impactos negativos da pandemia.

Esse experimento específico foi feito com estudantes de 8 a 10 anos de idade, e seus resultados foram publicados na revista PLOS One em julho.

Intervenção ampliada

Os pesquisadores, então, ampliaram esse estudo para verificar se uma intervenção remota baseada em aplicativo poderia aumentar os níveis de atenção plena e melhorar a saúde mental dos jovens.

Para o novo estudo, publicado esta semana na revista Mindfulness, os pesquisadores trabalharam com as mesmas crianças que haviam recrutado para o estudo da PLOS One e as dividiram em três grupos de cerca de 80 estudantes cada.

Um grupo recebeu treinamento de mindfulness por meio de um aplicativo criado pela Inner Explorer, uma organização sem fins lucrativos que também desenvolve programas de meditação baseados na escola. Essas crianças foram instruídas a se envolver no treinamento cinco dias por semana, o que incluía exercícios de relaxamento, de respiração e outras formas de meditação.

Para efeito de comparação, os outros dois grupos foram convidados a usar um aplicativo para ouvir audiolivros (não relacionados ao mindfulness). Um deles foi incentivado a ouvir o conteúdo no seu próprio ritmo, enquanto o outro também teve reuniões virtuais individuais toda semana com um facilitador.

No início e no final do estudo, os pesquisadores avaliaram os níveis de mindfulness de cada participante, juntamente com medidas de saúde mental, como ansiedade, estresse e depressão. Eles descobriram que, nos três grupos, a saúde mental melhorou ao longo do estudo de oito semanas, e todos também apresentaram melhoras em termos de proatividade.

Redução significativa no estresse

Mas as crianças no grupo de mindfulness mostraram algumas melhorias que os outros grupos não apresentaram, como uma diminuição mais significativa do estresse. Os pais dos integrantes desse grupo também relataram que seus filhos experimentaram redução significativa em emoções negativas, como raiva e tristeza. Os alunos que praticaram os exercícios do aplicativo na maioria dos dias tiveram os maiores benefícios.

Os pesquisadores ficaram surpresos ao ver que não houve diferenças muito significativas nas medidas de ansiedade e depressão entre o grupo de mindfulness e os grupos de audiolivros. Os alunos que interagiram com um facilitador no grupo de audiolivros também experimentaram efeitos benéficos em sua saúde mental.

De forma geral, os pesquisadores acreditam que o treino de mindfulness baseado em aplicativo pode ser útil para as crianças, especialmente se elas se envolverem de forma consistente nos exercícios e tiverem incentivo dos pais para isso. Com as vantagens de que esse tipo de intervenção é mais barata do que as abordagens ensinadas em escolas, e podem ser, de certa forma, individualizada – cada criança pode seguir seu próprio ritmo e repetir as práticas que mais gostarem.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin