Estudo revela maior consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil, ligados ao efeito estufa, à crise hídrica e ao desmatamento
Redação Publicado em 11/11/2021, às 16h15
Um novo estudo, realizado através de uma colaboração internacional de pesquisadores da Universidade de São Paulo (Brasil) e de instituições da Inglaterra, aponta que, nos últimos 30 anos, o Brasil passou por uma transição nutricional para uma dieta rica em alimentos ultraprocessados.
A pesquisa, publicada na revista The Lancet Planetary Health, ressalta ainda que esses alimentos são considerados os maiores contribuintes para a piora dos impactos ambientais, como efeito estufa, questão hídrica e desmatamento.
Vale lembrar que os ultraprocessados são itens prontos para comer ou prontos para aquecer, muitas vezes ricos em açúcar, sódio, além de baixos níveis de fibras, proteínas, vitaminas e minerais.
Eles normalmente contêm açúcares adicionados, óleos hidrogenados e melhoradores de sabor. Alguns exemplos incluem petiscos e doces embalados, cereais de café da manhã açucarados, biscoitos, salgadinhos e embutidos.
Embora os efeitos negativos do alto consumo desse tipo de alimento na saúde já sejam amplamente debatidos, incluindo ligações com obesidade, doença cardíaca coronariana, diabetes e câncer, ainda existe pouco entendimento sobre seus efeitos no planeta.
Especialistas argumentam que a Grã-Bretanha passou por uma transição nutricional semelhante nos últimos 100 anos e alertam que, à medida que as economias de mais países crescem, também há a tendência de o consumo de alimentos ultraprocessados aumentar, o que poderia afetar negativamente o cumprimento das metas de mudança climática.
Para a pesquisa, foram utilizados dados de um levantamento de orçamento familiar de domicílios urbanos brasileiros entre 1987 e 2018. Os pesquisadores calcularam o impacto ambiental dos alimentos adquiridos, por 1.000 calorias (kcal) consumidas, de quatro grupos de alimentos:
De acordo com as descobertas, a proporção de alimentos G1 e G2 na dieta dos brasileiros diminuiu, enquanto a quantidade de produtos G3 e G4 aumentou.
Confira:
Os dados mostraram ainda que o crescente impacto ambiental dos alimentos G4 foi impulsionado pelo aumento do consumo de carne ultraprocessada, como hambúrgueres, nuggets, salsichas e outros embutidos, que pelo menos dobraram sua contribuição para os impactos ambientais diários por indivíduo, atingindo cerca de 20% do total relacionado à dieta ao longo dos 30 anos.
Por 1.000 calorias consumidas, essas mudanças na alimentação dos brasileiros foram associadas a um aumento de 21% nas emissões de gases de efeito estufa, 22% na questão hídrica do país e 17% na área ecológica.
Segundo os pesquisadores, a relação entre sistemas alimentares e mudanças climáticas é complexa. Os sistemas alimentares são responsáveis por um terço das emissões globais de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, sofrem com os impactos climáticos que eles próprios ajudam a causar.
Para os autores, os alimentos ultraprocessados já são um problema massivo e crescente e as descobertas sugerem que é preciso agir adotando medidas, como intervenções fiscais (impostos ou subsídios), regulação sobre publicidade, melhoria da rotulagem de alimentos e cardápios com a adição de impactos ambientais.
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