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Bactérias intestinais trocam genes entre si, mostra estudo

Populações bacterianas podem se refazer durante a vida do hospedeiro, passando genes para frente e para trás - iStock
Populações bacterianas podem se refazer durante a vida do hospedeiro, passando genes para frente e para trás - iStock

Redação Publicado em 06/07/2021, às 15h00

Hoje já é bastante divulgado que milhares de diferentes espécies de bactérias vivem no intestino humano, que, aliás, é chamado de segundo cérebro. A maioria delas é benéfica, enquanto outras podem ser prejudiciais. Agora, um estudo publicado por uma equipe liderada pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) revela que essas populações bacterianas podem se refazer ao longo da vida de uma pessoa, passando alguns genes para frente e deixando outros para trás.

Essa mudança ocorre com maior frequência nos microbiomas de pessoas que vivem em sociedades industrializadas, segundo o estudo, possivelmente em resposta a dietas e estilos de vida específicos. Para os pesquisadores, isso teria criado condições muito propícias para as bactérias que habitam nossos intestinos trocarem genes entre si, uma consequência inesperada de se viver em grandes cidades. 

Preservação de espécies bacterianas

O estudo foi realizado pela Global Microbiome Conservancy (GMbC), um consórcio que está coletando amostras de microbiomas de populações humanas sub-representadas em todo o planeta, em um esforço para preservar espécies bacterianas que correm o risco de desaparecer à medida que a humanidade se torna mais exposta a dietas e estilos de vida industrializados.

O GMbC foi lançado em 2016 com a missão de preservar a diversidade do microbioma humano antes que ela se perca e, até agora, o projeto reuniu amostras de 34 populações humanas em todo o mundo. O consórcio inclui cientistas de cada país onde as amostras estão sendo coletadas. O objetivo é a preservação de cepas bacterianas individuais para que seja possível mantê-las indefinidamente nas gerações futuras

Biodiversidade ameaçada

Outro destaque do estudo é que a maioria das espécies de bactérias encontradas no microbioma de populações rurais e isoladas não é encontrada no de invidívuos que vivem em grandes cidades. A composição muda completamente por fatores como tipo de dieta, uso de antibióticos e exposição (ou não) a bactérias presentes no solo. Um dos prováveis efeitos maléficos dessa menor diversidade, segundo os pesquisadores, é um possível reflexo negativo na saúde intestinal das pessoas que vivem em áreas industrializadas. 

Quando bactérias vivem num mesmo ambiente elas podem trocar genes entre si, algo que os cientistas chamam de "transferência horizontal de genes". Em 2011, o autor sênior do estudo Eric Alm, diretor do Centro de Informática e Terapêutica de Microbioma do MIT, já havia descoberto que o intestino humano é um local propício para isso acontecer. No entanto, com a técnica usada na época, os pesquisadores só foram capazes de determinar que essas transferências de genes provavelmente aconteceram nos últimos 5.000 anos.

No estudo atual, os pesquisadores foram capazes de estimar com muito mais precisão quando essas transferências ocorreram. Para fazer isso, eles compararam as diferenças genéticas entre variadas espécies de bactérias intestinais. Quando compararam pares de espécies que vieram da mesma pessoa, encontraram uma taxa de similaridade genética muito maior do que aquela observada em pares da mesma espécie tirados de duas pessoas diferentes, confirmando que a transferência horizontal de genes pode acontecer ao longo da vida de uma pessoa.

Trocando traços

Dependendo da espécie, os pesquisadores descobriram que as bactérias podem obter entre 10 e 100 novos genes a cada ano, e que a taxa de troca de genes era significativamente mais alta em pessoas que viviam em sociedades industrializadas. Também foram observadas diferenças nos tipos de genes que eram mais comumente trocados.

Eles citam, como exemplo, a descoberta de que entre as populações de pastores que tratam rebanhos com antibióticos, os genes para resistência aos antibióticos estão entre aqueles trocados com maior frequência. Outro dado é que pessoas de sociedades não industrializadas, especialmente de caçadores-coletores, têm altas taxas de troca de genes envolvidos na degradação das fibras. Isso faz sentido porque essas populações geralmente consomem muito mais fibra alimentar do que as populações industrializadas.

Mais doenças intestinais? 

Já entre os micróbios presentes em populações industrializadas, os pesquisadores encontraram taxas mais altas de troca de genes cujo papel é justamente facilitar a transferência entre eles. Agora, a ideia é investigar como esses genes podem influenciar a ocorrência de doenças inflamatórias, como a síndrome do intestino irritável, que é observada com muito mais frequência em sociedades industrializadas.

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