A menopausa é uma fase da vida que pode trazer muitos incômodos para a mulher, como ressecamento vaginal, ondas de calor e prejuízos ao sono, que por sua vez podem afetar o humor e a libido.
Mas existe uma ideia muito difundida de que a menopausa aumenta drasticamente o risco de depressão, ansiedade e outros transtornos de saúde mental, o que causa estigma e até receio entre as mulheres.
Para quem está se aproximando dessa fase, uma boa notícia: uma grande revisão de estudos que acaba de ser publicada na prestigiada revista médica The Lancet mostra que menopausa não é necessariamente sinônimo de problemas de saúde mental.
O trabalho reforça que, embora certas mulheres com histórico de transtornos como depressão e ansiedade possam ter uma tendência maior a sofrer com as mudanças hormonais, esse risco não é universal. Ou seja: quem nunca sofreu com depressão ou ansiedade não terá um risco maior de ter esses transtornos só porque está na menopausa.
"Temos uma imagem negativa na mídia sobre a menopausa, mas sem olhar para a saúde mental de alguém antes dela, é muito desafiador entender o que pode estar biologicamente relacionado à menopausa", afirmou uma das autoras do estudo, a psiquiatra Hadine Joffe, do Brigham and Women's Hospital, nos EUA.
Os sintomas relacionados à menopausa, ou o período que chamamos de climatério, podem começar a partir dos 45 anos (ou antes, para algumas mulheres) e durar de 4 a 10 anos.
Essa fase da vida pode ser emocionalmente desgastante devido aos sintomas físicos causados pelas flutuações hormonais. No entanto, também costuma coincidir com eventos estressantes de vida, segundo os pesquisadores. E, de acordo com a análise, é possível que esses eventos sejam mais determinantes para a saúde mental da mulher do que as mudanças hormonais.
Para chegar às conclusões, os pesquisadores reuniram e revisaram dados de estudos anteriores que examinaram a incidência de problemas de saúde mental durante a menopausa. Eles se concentraram em pesquisas que examinaram a saúde mental antes da menopausa e, em seguida, acompanharam essas mulheres durante a transição.
Os resultados mostraram que, enquanto alguns estudos ligavam sintomas depressivos à menopausa, a depressão grave ocorria apenas em mulheres que haviam sido previamente diagnosticadas com a condição.
"Se você nunca teve depressão antes, é extremamente improvável que tenha um primeiro episódio de depressão clínica durante a transição da menopausa", disse Joffe.
Os sintomas de depressão foram observados com mais frequência em mulheres que passaram por uma transição de menopausa muito longa, tiveram sono ruim devido a ondas de calor ou experimentaram eventos estressantes recentes na vida.
A equipe também não encontrou evidências convincentes de que a menopausa aumente universalmente o risco de ansiedade, transtorno bipolar ou psicose.
Os resultados também indicam que a terapia hormonal não é um tratamento apropriado para a depressão clínica durante a menopausa, segundo os pesquisadores. Em vez disso, os médicos devem considerar o histórico e a situação atual de vida de uma mulher quando ela relata sintomas de saúde mental durante a menopausa.
A mensagem principal do estudo, de acordo com Joffee, é que as pessoas não devem presumir que se uma mulher tiver problemas de saúde mental durante a transição da menopausa não dá para garantir que as alterações hormonais são os vilões.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin