Como os cães coabitam com humanos há séculos, representam uma espécie ideal para estudos comportamentais
Redação Publicado em 27/08/2021, às 17h00
Há séculos ouvimos que nós, humanos, somos a única espécie que pode raciocinar, inclusive sobre as crenças e intenções de outros humanos. Porém, esta máxima tem sido questionada com as descobertas de que primatas não humanos também podem ter uma “teoria da mente”. Porém, o que dizer de outras espécies com as quais não compartilhamos uma similaridade genética tão próxima?
Se levarmos em conta a longa história evolutiva de coabitação próxima com humanos, os cães representam uma espécie modelo ideal para estudar as origens filogenéticas do comportamento social humano e da cognição.
Com a intenção de estudar o tema, uma equipe do Clever Dog Lab do Messerli Research Institute, na Universidade de Medicina Veterinária de Viena (Áustria), contou com o apoio de muitos tutores de cães que trouxeram seus animais de estimação para participarem das pesquisas. E também com a sorte de que a maioria dos cães estava ansiosa para participar dos jogos que envolviam pensar em troca de recompensas alimentares, criando, assim, a oportunidade de descobrir vários aspectos da vida mental de outra espécie.
A equipe começou a investigar as habilidades de tomada de perspectiva em cães há cinco anos. Durante o experimento, os cachorros sabiam a diferença entre um ajudante humano que podia ver a localização do alimento escondido (“conhecedor”) e um que não podia e que, portanto, estava simplesmente adivinhando (“adivinhador”). Para mostrar de forma convincente que os cães raciocinam sobre os estados mentais ocultos dos humanos, no entanto, os pesquisadores precisaram dar um novo passo: investigar se eles também poderiam reconhecer a diferença entre uma crença verdadeira e uma falsa.
De fato, os testes de compreensão de falsas crenças são, de certa forma, o “padrão ouro” para demonstrar o surgimento da teoria da mente em crianças em torno da idade de 4 a 5 anos. Inspirados em trabalhos anteriores com crianças e grandes macacos, os pesquisadores criaram um jogo não verbal, no qual os cães tinham a possibilidade de recuperar a comida que tinham visto escondida em um de dois contêineres.
Antes de poderem escolher um dos recipientes, no entanto, os cães receberam conselhos errados de um “experimentador”, que sugeriu que procurassem comida no recipiente que os cães sabiam que estava vazio. Alguns deles seguiriam a falsa sugestão?
Curiosamente, mais cães o fizeram quando o experimentador pensou que o recipiente sugerido estava mesmo com ração (crença falsa), em comparação quando pensou que estava vazio (crença verdadeira).
Uma possibilidade para explicar o comportamento surpreendente dos cães é que eles perceberam a sugestão (errada) do comunicador mal informado como um erro “de boa vontade”, mas a sugestão do comunicador experiente como enganosa ou motivada por outra intenção desconhecida.
Os resultados do estudo confirmam as descobertas positivas anteriores sobre a capacidade de assumir a perspectiva dos cachorros, fornecendo evidências de que eles podem ser sensíveis também às crenças humanas. No entanto, mais pesquisas são necessárias antes de conclusões definitivas sobre as habilidades de raciocínio dos cães.
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