Assim como nosso corpo sofre quando exageramos em alguma atividade física, o cansaço mental é um sinal de que nosso cérebro está sobrecarregado: a concentração começa a falhar e a sensação é de ter sido sugado.
Antes de mais nada, é bom lembrar que essa fadiga mental acontece porque pensar demanda energia. “O neocórtex, parte do cérebro responsável por entender, questionar e inibir impulsos, ocupa 5% desse órgão, mas consome 25% da energia cerebral”, explica o psiquiatra Marco Abud, fundador do canal Saúde da Mente.
O excesso de informações a que somos expostos o tempo todo também gera adrenalina, o que, ao longo do tempo, produz esse cansaço mental. A sensação pode vir acompanhada de ansiedade, irritação e queda de produtividade, além de sintomas físicos, como coração acelerado, dores de cabeça e de estômago.
Uma revisão de estudos publicada em 2017, no periódico Sports Medicine, inclusive mostra que a exaustão mental é capaz de prejudicar a performance física, fazendo com que tarefas ou exercícios simples sejam considerados muito difíceis. Os pesquisadores, da Universidade de Bruxelas, na Bélgica, concluíram, após analisar 11 pesquisas, que os critérios ligados à resistência física (como capacidade aeróbica, consumo de oxigênio e força máxima) não foram afetados pela sensação de cansaço mental. Ou seja: que fez o desempenho dos sujeitos analisados piorar foi mesmo o maior esforço percebido.
Confira:
Estar num período de instabilidade, como o da atual pandemia, faz com que as pessoas fiquem sob estresse continuamente. Isso acaba interferindo nos momentos de descanso, o que gera ainda mais fadiga e dificuldade de concentração no dia seguinte – e está fechado o ciclo vicioso. Abud explica que existem quatro tipos de pensamento que atrapalham o sono:
Esses obstáculos para o sono podem ser mais graves para quem sofre de depressão ou ansiedade, mas também podem acometer pessoas que não têm esses transtornos. É a insônia, pura e simplesmente.
A terapia cognitivo-comportamental, segundo o psiquiatra, tem o objetivo de modificar essas crenças: “A primeira forma de fazer isso é identificar e questionar a realidade desses pensamentos; o segundo passo é, uma vez que você os perceba, direcionar sua atenção para outro estímulo”, descreve. É um exercício que precisa ser praticado e repetido para ser incorporado. Mas ele garante que é possível fazer isso num curto espaço de tempo.
Saiba mais: como dormir (e acordar) como um anjo
- Cuidado com o açúcar: excesso de doce causa um pico de glicose, e uma consequente redução brusca, o que deixa a mente meio nebulosa (o famoso “fog” mental).
- Não fique muito tempo sem comer ou tomar água: o jejum prolongado e a desidratação também deixam o cérebro mais lento, o que vai aumentar a sensação de fadiga.
- Invista em sono de qualidade: isso é fundamental para reenergizar a área do cérebro ligada ao raciocínio e aprendizado. Desligue os eletrônicos no mínimo numa hora antes de dormir, evite estimulantes e procure dormir e acordar no mesmo horário.
- Faça uma coisa de cada vez: ser multitarefas virou a realidade da maioria das pessoas, ainda mais na pandemia, mas isso é algo que atrapalha muito a concentração e o desempenho mental, mesmo que você não perceba.
- Dê pausas para os eletrônicos: quando estiver focado no trabalho ou no estudo, deixe o celular no silencioso, ou até em outro ambiente. A mania de ficar grudado nos aparelhos leva a interrupções constantes, o que é sinônimo de multitarefas.
- Tenha uma lista de tarefas: só você é capaz de estabelecer limites e decidir o que deve ser feito agora e o que pode esperar mais ou até ser delegada.
- Não se esqueça do lazer: caminhar, dançar, pintar, cozinhar, ler...qualquer que seja a atividade que lhe dê prazer, ela deve fazer parte da sua agenda.
- Atividade física é remédio: exercícios regulares não só melhoram a saúde física, como afastam o risco de transtornos mentais, problemas de memória e insônia.
- Se não conseguir, busque ajuda: o aconselhamento de um profissional pode ser necessário caso você tenha a sensação de que perdeu o controle.
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Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin