Redação Publicado em 01/11/2022, às 13h00
O ensino superior pode ser estressante para os alunos, e algumas instituições de ensino oferecem alívio na forma de eventos em que os alunos podem interagir com animais nos Estados Unidos. Cerca de 86% desses eventos oferecem a chance de ter a companhia de um cachorro. Um novo estudo baseado em pesquisa descobriu que os alunos também estão interessados em aliviar o estresse por meio de algum tempo de qualidade com gatos.
O estudo descobriu que os alunos que exibem o traço de emotividade da Teoria dos Cinco Grandes (extroversão, amabilidade, abertura, conscienciosidade e neuroticismo) estão especialmente interessados em visitas de gatos. O estudo foi publicado no jornal multidisciplinar das interações entre pessoas e outros animais Anthrozöös.
“A ideia por trás do termo ‘emocionalidade’ é que é um indicador da força da resposta emocional das pessoas a um estímulo e como reage e se comporta em resposta a esse estímulo como resultado. Portanto, pontuar alto no traço de emotividade destaca que você provavelmente reagirá de forma intensa a um sentimento ou experiência”, explicou ao site Medical News Today Patricia Pendry, da Washington State University, coautora do estudo e professora de desenvolvimento humano.
Ela completa: “Embora nosso estudo não tenha examinado os mecanismos subjacentes, levantamos a hipótese de que o traço de emotividade pode refletir um estado de espírito que permite que as pessoas respondam fortemente – até mesmo de forma apaixonada – a sinais bastante sutis, que os gatos são conhecidos por exibir”.
Como parte do estudo, os pesquisadores pediram a 1.438 entrevistados em 19 escolas, cinco da das quais eram universidades e as demais faculdades, para completar uma pesquisa. Desses entrevistados, 905 eram estudantes e 533 eram professores ou funcionários da escola.
“Em um estudo piloto de pesquisa, meus colegas e eu concluímos, falando em Animais de Apoio Emocional, que participantes com cães e participantes com gatos experimentaram uma diminuição estatisticamente significativa na depressão depois de viver com seus respectivos animais”, disse ao MNT Janet Hoy-Gerlach, professora da Escola de Justiça Social da Universidade de Toledo em Ohio, que não esteve envolvida no novo estudo.
No entanto, Janet apontou que as pessoas com gatos experimentaram uma diminuição maior em seus índices de depressão: “Este novo estudo destaca o potencial terapêutico da companhia de gatos para o bem-estar humano. Mais pessoas poderiam ser alcançadas com benefícios relacionados se os gatos fossem mais amplamente incorporados à programação de intervenção assistida por animais, com diretrizes específicas da espécie modificadas para as necessidades e o bem-estar dos bichanos”.
As necessidades e o bem-estar dos gatos são preocupações que Dennis Turner, do Instituto de Etologia Aplicada e Psicologia Animal, na Suíça, levantou ao MNT: “Devo dizer que não sou a favor de um programa de visitação de gatos em uma universidade ou campus escolar, como sugerido aqui. Isso, ao contrário dos gatos da vizinhança, que visitam os terrenos da universidade. A última tendência internacional, mesmo para programas de visitação de cães, é permitir ao animal ‘escolha e consentimento’ no que deve fazer. Mesmo que um gato possa ser treinado e habituado a ser transportado em uma caixa ou andando na coleira, dúvidas permanecem”, observou Turner.
Turner apontou ainda que as pessoas que conduzem esses programas de alívio do estresse e visitas assistidas por animais podem não estar cientes dos sinais de angústia em gatos, “que podem ser bastante individuais e variados”: “Um gato que está fazendo terapia com pessoas precisaria ser muito extrovertido e confortável com novas pessoas e estar bem com viagens, enquanto um felino servindo como Animal de Apoio Emocional poderia ser 'caseiro', que é amoroso com sua própria pessoa/família, mas não com gente nova”, disse Janet.
“Esta é uma questão ética, assim como é para cães treinados para fazer isso. As várias organizações internacionais de relações homem-animais (IAHAIO) e Intervenção Assistida por Animais (ISAAT) afirmam que não deve haver consequências negativas para o animal de companhia envolvido em tais atividades, e que o comportamento natural e as necessidades do dele devem ser respeitados e cumpridos em todos os momentos”, afirmou Turner.
Janet conta que é sugerido que o mito dos gatos como distantes e indiferentes às pessoas seja mais sobre condicionamento comportamental do que qualquer outra coisa. Ela lembra que há um ótimo documentário novo na Netflix (Dentro da Mente de um Gato) sobre felinos que explora essa noção. Para ela, gatos que são criados com pessoas e socializados podem oferecer uma fonte consistente de afeto, conforto e companheirismo que pode apoiar as pessoas na autorregulação quando estão angustiadas.
“Para pessoas com alta emotividade que têm sistema nervoso mais sensível/reativo, esse apoio pode ser especialmente impactante. O calor do corpo de um gato, a vibração de um ronronar, a textura do pelo, são todos estímulos sensoriais que podem nos ajudar com o ‘grounding’ (palavra em inglês, que traduzindo significa aterrar, enraizar; é uma prática que nos permite ter um contato direto e transformador com a Mãe Terra), por exemplo, permanecer no momento presente, quando estamos angustiados”, afirma Janet.
Além disso, ela disse que os cães também podem fornecer esse tipo de apoio, mas que “o tamanho de um gato e [suas] necessidades de cuidados mais simples” podem ser um apelo para algumas pessoas quando se trata de viver com eles como companheiros.
Patricia disse que selecionar o tipo certo de gato foi crucial para estabelecer essa conexão emocionalmente favorável. Aquele que gosta de interagir com humanos e se comporta de maneira que demonstre essa alegria por meio da participação contínua, em vez de tentar treinar os gatos para responder de uma certa maneira, seria o ideal, disse ela.
Enquanto isso, Janet afirmou que a conexão é a chave: ter um animal de apoio é, em última análise, ter um relacionamento recíproco e mútuo com outro ser vivo do qual se obtém conforto e benefícios biológicos, psicológicos, sociais e emocionais. O animal também deve obter esses benefícios.
“O matchmaking (processo de combinar duas ou mais pessoas, aqui espécies) como em qualquer relacionamento de sucesso, é fundamental”, finaliza Janet.
Para quem sente que a presença de um gato faz diferença no seu emocional, melhor que ter o animal como apoio, pode ser adotá-lo. Isso evitaria o estresse do ir e vir. Porém, é preciso tomar muitos cuidados, como telar o espaço, e se lembrar que é preciso não só cuidar da alimentação e do bem-estar do animal, como manter as vacinas em dia e levá-lo periodicamente ao veterinário.
Fonte: Medical News Today
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