Cármen Guaresemin Publicado em 14/06/2022, às 10h00
Ela é considerada um terror entre as mulheres: a celulite confere à pele um aspecto ondulado e com "furinhos", a chamada “casca de laranja”, e afeta com maior incidência regiões como nádegas, coxas e abdômen. Um estudo recente mostrou que, anatomicamente, há diferenças que justificam a maior incidência nelas que nos homens.
"A pele é composta por duas camadas de gordura (superficial e profunda), separadas pela fáscia superficial. Nos homens, há maior número de lóbulos de gordura subcutânea e de bandas fibrosas, mais conexões fibrosas entre a fáscia superficial e a derme em comparação com o sexo feminino”, explica Cláudia Merlo, médica especialista em Dermatologia e Cosmiatria pelo Instituto BWS. Ela completa: “Dessa forma, uma força maior é necessária para romper as conexões fibrosas e é justamente por isso que eles sofrem menos com a formação de celulite”.
Ela lembra que existem tratamentos para a alteração estética, mas eles devem ser iniciados após o paciente ter consciência da importância da mudança do estilo de vida, senão não haverá resultado.
De acordo Cláudia, os principais hábitos ruins relacionados ao desenvolvimento e piora da celulite são: dieta inflamatória (com consumo de alimentos de alto índice glicêmico), sedentarismo, obesidade e baixa ingestão hídrica. E isso também justifica o aparecimento de celulite em mulheres mais magras.
“Ao ver uma mulher magra, não estamos realizando uma avaliação de composição corporal; sendo assim, ela pode ter alto percentual de gordura e consequente celulite. Não sabemos dos hábitos de vida dessa pessoa e, além disso, do consumo de alimentos inflamatório que ela ingere”, explica. O problema também aumenta com a idade, devido à perda de colágeno e de todas as estruturas de bandas fibrosas que compõem a pele.
Dieta, exercícios físicos e drenagem linfática são altamente indicados para tratar a celulite. “Em consultório, temos injeções redutoras de gordura, que são aplicadas em regiões com maior resistência de eliminar com dieta e exercícios físicos, subcisão das bandas fibrosas, radiofrequência e bioestimuladores de colágeno injetáveis”, diz a médica.
Os procedimentos podem ser associados, de acordo com a avaliação médica sobre a necessidade da paciente. Claudia explica que as injeções redutoras de células de gordura promovem a destruição dessas membranas e, consequentemente, menor edema local após resultado final. A radiofrequência aquece os tecidos até 42 graus, aproximadamente, e realiza o estímulo de colágeno. Já o bioestimulador de colágeno injetável é aplicado para estimular as células formadoras dessa proteína (fibroblastos).
Desses tratamentos, apenas as injeções redutoras de gordura apresentam algum tipo de downtime: “Há um processo inflamatório (dor, calor, vermelhidão e inchaço) que se estende por volta de até 20 dias”, diz a médica. Na subcisão, o tempo de recuperação é maior (30 dias), já que uma agulha bisturizada é inserida sob a pele, com movimentos contínuos, para quebrar os septos fibrosos.
A médica enfatiza que, quanto aos resultados, é esperado a melhora da textura e a redução dos relevos da pele: “Esse resultado não é definitivo, pois a celulite tem causas multifatoriais, então o problema pode surgir novamente ao logo da vida”.
Claudia lembra que é importante também destacar que a consulta com um médico é fundamental. Isso porque muitas pessoas têm lipedema e não sabem. Trata-se de uma disfunção hereditária crônica. "É uma doença progressiva caracterizada pela deposição anormal de gordura em membros inferiores e, às vezes, pode acometer membros superiores. Atinge quase que exclusivamente mulheres e tem início na puberdade, dando indícios de um componente hormonal na sua fisiopatologia. Porém, ainda não sabemos ao certo suas causas. A gordura do lipedema é diferente da gordura da obesidade, tende a formar nodulações no subcutâneo, além de ter um componente inflamatório importante. A análise médica é crucial para identificar o problema e iniciar o tratamento”, explica.
A seguir, a médica comenta alguns equívocos comuns sobre a celulite:
Os cremes cosméticos/dermocosméticos que prometem tratar a celulite funcionam.
Mito. Os cremes cosméticos para celulite não são capazes de tratá-la, pois não conseguem atingir camadas profundas, onde está a gordura, sistema linfático e traves fibrosas, que são estruturas relacionadas com a causa da celulite.
Há alimentos que ajudam a diminuir ou aumentar o problema.
Verdade. Alimentos com alto índice glicêmico (carboidratos simples, doces, massas refinadas, sucos) aumentam o acúmulo de gordura. Existem aqueles que são individualmente inflamatórios, os quais devemos descobrir por meio de exames bioquímicos ou pela introdução desses alimentos e observação clínica. Ao mesmo tempo, podemos reduzir essa situação com chás diuréticos, como cavalinha, mas não há nada isoladamente que possa resolver essa situação multifatorial.
Refrigerante causa celulite.
Parcialmente verdade. Os refrigerantes sempre foram grandes vilões devido à alta concentração de açúcar. No entanto, existe a vertente dos refrigerantes sem açúcares, que são ricos em sódio e levam à retenção hídrica. Vale lembrar que os alimentos ricos em sódio só levam à retenção hídrica se estiverem associados a outros com alto índice glicêmico e, consequentemente, elevam a concentração de insulina.
Álcool também causa celulite.
Verdade. O álcool piora a celulite por ser uma substância inflamatória e de alta concentração de calorias, o que, consequentemente, contribui com o ganho de peso e obesidade.
Massagens diminuem a celulite.
Verdade. A drenagem linfática é um dos pilares do tratamento da celulite, vale ressaltar que, isoladamente, não haverá resultado caso não haja mudança do estilo de vida, tal como dieta saudável e prática de exercício físico.
Roupa apertada piora a situação.
Verdade. Isso ocorre porque o sistema linfático torna-se prejudicado. Assim, deve-se optar por roupas mais confortáveis.
Meias de compressão ajudam.
Verdade. Desde que sejam orientadas por especialistas vasculares (cirurgião vascular ou fisioterapeuta vascular), pois são inúmeras as características de compressão, portanto, o uso é individualizado.
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