Redação Publicado em 27/05/2022, às 16h00
Nossos cérebros raramente registram memórias únicas — em vez disso, ele as armazena em grupos para que a lembrança de uma memória significativa desencadeie a recordação de outros momentos conectados pelo tempo.
No entanto, à medida que envelhecemos, nossos cérebros gradualmente perdem essa capacidade de ligar memórias relacionadas.
Nesse cenário, pesquisadores da Universidade da Califórnia (Estados Unidos) descobriram um mecanismo molecular que pode ser a chave por trás dessa conexão entre memórias. Além disso, o estudo também identificou – através de testes em camundongos – uma maneira de restaurar essa função cerebral.
Os achados foram publicados na revista Nature e, para os pesquisadores, sugerem um novo método para fortalecer a memória humana na meia-idade e uma possível intervenção precoce para a demência.
A equipe explicou ainda que nossas memórias formam uma grande parte de quem somos e a capacidade de vincular experiências relacionadas ensina como se manter seguro e operar com sucesso no mundo.
As nossas células são repletas de receptores. Assim, para entrar nessa estrutura, uma molécula necessita travar em seu receptor correspondente, o que funciona como uma espécie de maçaneta para fornecer acesso para dentro.
Os pesquisadores se concentraram em um gene chamado CCR5, que codifica o mesmo receptor pelo qual o vírus do HIV pega carona para infectar a célula cerebral e causar perda de memória em pacientes com Aids.
Confira:
Nesse estudo, a equipe descobriu, então, um mecanismo central implícito à capacidade dos ratos de ligarem suas memórias de duas gaiolas diferentes. Um microscópio minúsculo abriu uma janela para o cérebro dos animais, permitindo que os cientistas observassem neurônios disparando e criando novas memórias.
Aumentar a expressão genética do CCR5 no cérebro de ratos de meia-idade interferiu na ligação da memória, o que resultou no esquecimento dos animais sobre a conexão entre as duas gaiolas. Em compensação, quando o gene foi excluído, os ratos foram capazes de vincular memórias que ratos normais não podiam.
Durante o estudo, foi descoberto ainda que uma droga utilizada para o tratamento da infecção pelo HIV também supriu CCR5 do cérebro dos animais.
Segundo os pesquisadores, o medicamento poderia ser usado para ajudar a restaurar a perda de memória na meia-idade, bem como para reverter os déficits cognitivos causados pela infecção do HIV.
Mas, para isso, ainda é necessário organizar um ensaio clínico e testar a influência dele na perda precoce da memória com o objetivo de realizar uma intervenção o mais cedo possível. Para a equipe, uma vez que a forma como a memória declina for compreendida, há um grande potencial de retardar o processo de demência.
A grande questão é: por que o cérebro precisa de um gene que interfira em sua capacidade de vincular memórias? De acordo com os pesquisadores, a vida seria impossível se nos lembrássemos de tudo, o que levanta a suspeita de que o CCR5 permite que o cérebro conecte experiências significativas filtrando detalhes menos significativos
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