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Como perder peso pode impactar sua saúde mental

Estratégias consideradas prejudiciais foram associadas a maior tendência à depressão - iStock
Estratégias consideradas prejudiciais foram associadas a maior tendência à depressão - iStock

Redação Publicado em 25/04/2025, às 10h00

Um novo estudo sugere que a forma como as pessoas tentam perder peso pode ter um impacto significativo na saúde mental.

A pesquisa, publicada no Journal of Affective Disorders, mostrou que comportamentos saudáveis de perda de peso, como consumir mais frutas e vegetais, optar por alimentos com menos calorias e praticar exercícios, estão associados a menos sintomas de depressão.

Por outro lado, abordagens que não são consideradas saudáveis — incluindo pular refeições, tomar pílulas para emagrecer ou provocar vômitos — estão ligadas a uma maior tendência a sintomas depressivos.

Diferentes estratégias para emagrecer

À medida que os comportamentos de perda de peso se tornam mais comuns, aumentam as preocupações sobre as consequências para a saúde mental de certas práticas. Embora estratégias como melhorar a alimentação e aumentar a atividade física sejam frequentemente recomendadas, muitas pessoas recorrem a métodos mais extremos que podem ser emocionalmente prejudiciais.

A equipe buscou avaliar como diferentes estratégias impactam os sintomas de depressão, especialmente considerando a crescente popularidade dos esforços para emagrecer em contextos clínicos e não clínicos.

“Dada a crescente prevalência tanto da obesidade quanto da depressão, entender como diferentes métodos de emagrecimento afetam o bem-estar mental é crucial para a saúde pública”, explicou Zheng Zhang, autor do estudo e doutorando na Universidade Normal do Sul da China.

Estudo com mais de 9 mil adultos

Os pesquisadores usaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (Nhanes), um estudo amplo e contínuo sobre tendências de saúde nos Estados Unidos. Eles analisaram as respostas de 9.334 adultos, com idades entre 20 e 79 anos, que tentaram perder peso no último ano. Cerca de 61% dos participantes eram mulheres, e a idade média era de 47 anos. Os participantes relataram seus comportamentos de perda de peso e responderam a um questionário padronizado que avaliava sintomas depressivos nas duas semanas anteriores.

Métodos protetores x prejudiciais

As estratégias de perda de peso foram divididas em duas categorias:

- Métodos protetores: incluíram praticar exercícios, optar por alimentos com menos calorias e aumentar o consumo de frutas e vegetais.

- Métodos prejudiciais: incluíram pular refeições, usar fórmulas líquidas para dieta, tomar pílulas para emagrecer (com ou sem prescrição médica) e provocar vômitos ou usar laxantes.

Emagrecimento x saúde mental

Os pesquisadores utilizaram modelos estatísticos para avaliar como esses comportamentos estavam associados aos sintomas depressivos, levando em consideração fatores como idade, renda, escolaridade, tabagismo e índice de massa corporal. Veja os resultados:

- Os pesquisadores descobriram que pessoas que relataram usar estratégias protetoras tinham significativamente menos probabilidade de apresentar sintomas depressivos.

- O exercício, por exemplo, foi associado a uma redução de 39% na probabilidade de depressão, enquanto o consumo de mais frutas e vegetais foi ligado a uma redução de 22%.

- Por outro lado, os participantes que adotaram estratégias prejudiciais apresentaram um risco substancialmente maior de sintomas depressivos.

- Pular refeições esteve associado a um aumento de 71% no risco de depressão.

- Aqueles que relataram provocar vômitos ou usar laxantes tinham mais que o dobro de chances de apresentar sintomas depressivos.

- A quantidade de estratégias utilizadas também fez diferença. Pessoas que usaram mais métodos protetores tendiam a relatar menos sintomas de depressão, enquanto aquelas que usaram múltiplos métodos prejudiciais estavam em risco significativamente maior.

- Aqueles que recorreram a três ou mais métodos prejudiciais tinham quase o triplo da chance de relatar sintomas depressivos em comparação com quem não usou nenhum.

Fatores demográficos têm impacto

Os pesquisadores também exploraram como esses efeitos variavam de acordo com fatores demográficos. Por exemplo:

- Estratégias protetoras foram especialmente benéficas para indivíduos já em maior risco de depressão, como mulheres, pessoas com menor nível educacional e aquelas em situação de pobreza.

- Já as estratégias prejudiciais estavam particularmente ligadas ao aumento dos sintomas depressivos entre pessoas mais jovens, homens e aqueles sem condições crônicas de saúde.

Esses achados sugerem que tanto grupos vulneráveis quanto mais favorecidos podem precisar de orientações personalizadas quando se trata de perda de peso e saúde mental.

Sucesso também importa

Importante destacar que os efeitos emocionais dos comportamentos de perda de peso pareciam mais acentuados em pessoas que não conseguiram emagrecer. Por exemplo, indivíduos que usaram estratégias extremas mas não conseguiram reduzir o peso relataram níveis mais altos de sintomas depressivos, sugerindo que a combinação de resultados malsucedidos e métodos prejudiciais pode contribuir para o sofrimento emocional.

Embora o estudo evidencie padrões importantes, ele apresenta limitações. Por exemplo: os pesquisadores não podem determinar se os comportamentos de perda de peso causaram alterações nos sintomas depressivos ou se pessoas com mais sintomas tendem a escolher certas estratégias. Além disso, todas as informações foram autorrelatadas, o que pode introduzir vieses relacionados à memória ou ao desejo de se adequar socialmente.

Para os pesquisadores, essas descobertas podem ser úteis para orientar a escolha de intervenções para perda de peso que beneficiem não apenas o bem-estar físico, como também o psicológico. Em outras palavras, é preciso que abordagem seja mais holística, e que as pessoas também priorizem sua saúde mental ao escolher os métodos de emagrecimento.