Jairo Bouer Publicado em 22/04/2020, às 19h53
O humor das pessoas varia bastante de um dia para o outro, e até mesmo ao longo do dia. Ao escolher uma atividade para afastar o desânimo ou colocar a raiva para fora, por exemplo, as pessoas buscam regular essas sensações, muitas vezes sem nem pensar muito antes de agir. É o caso do sujeito que, ao acordar cheio de energia, decide ir para academia e caprichar no treino até ser cansar. Ou da pessoa que convida um amigo para jantar porque está triste e precisa melhorar seu ânimo. Num período como o atual, em que é preciso ficar em casa, essa possibilidade fica comprometida, e por isso muita gente tem relatado maiores níveis de estresse e ansiedade.
Segundo especialistas da Universidade de Oxford, quando as pessoas perdem essa capacidade de regulação, algo que eles chamam de “homeostase do humor”, elas ficam mais propensas à depressão. Eles chegaram à conclusão após analisar dados de 58.328 homens e mulheres de países com diferentes condições socioeconômicas. O objetivo foi entender como a escolha de atividades no cotidiano ajuda as pessoas a regularem seu humor.
Para os pesquisadores, do departamento de psiquiatria da universidade, ensinar as pessoas a fazer isso pode ser chave na prevenção e tratamento de sintomas depressivos. Os autores do estudo sugerem que isso poderia ser feito com ajuda de aplicativos para smartphone, já que grande parte da população não tem acesso a psicoterapia. Num momento como o atual, que os tratamentos presenciais estão limitados, a tecnologia também poderia ser útil.
Ao monitorar o humor em tempo real, sistemas inteligentes poderiam fazer recomendações de atividades para ajudar na regulação de emoções negativas. Claro que essas sugestões teriam que ser personalizadas, já que cada um tem suas preferências. Os autores do estudo acrescentam que há questões culturais envolvidas, também. Em países com renda mais alta, por exemplo, a atividade física foi mais associada à melhora do humor, enquanto nos de renda mais baixa a religião tende a cumprir esse papel.
Vários experimentos têm mostrado que a tecnologia pode ser uma ferramenta essencial, ainda, no diagnóstico precoce de sintomas depressivos. Isso poderia até levar à redução do suicídio. Já existem aplicativos em desenvolvimento capazes de identificar alterações no humor com base na movimentação do usuário, qualidade do sono e até de suas mensagens de texto. Muitos dados desse tipo já são coletados em smartphones e relógios fitness.
A depressão é uma causa mais importante de incapacidade em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 264 milhões de pessoas de todas as idades sofram do transtorno e a maioria dos casos ocorrem em países de média e baixa rendas. Recursos terapêuticos mais acessíveis para essas populações são bem-vindos, mas é bom que todas as questões de privacidade sejam bem discutidas, ou o preço pago pela saúde mental pode ser alto demais.
Para saber mais (em inglês):
“Mood Homeostasis, Low Mood, and History of Depression in 2 Large Population Samples” (Jama Psychiatry)
https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/fullarticle/2764306
“Our phones can now detect health problems from Parkinson’s to depression. Is that a good thing?” (Vox)
https://www.vox.com/the-highlight/2020/2/5/21056921/phones-health-apps-data-digital-phenotyping