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Compartilhar refeições é um novo marcador de felicidade

Comer com alguém faz um bem enorme para o seu bem-estar - iStock
Comer com alguém faz um bem enorme para o seu bem-estar - iStock

Pessoas que compartilham mais refeições com outras pessoas têm maior probabilidade de relatar níveis mais altos de satisfação com a vida e bem-estar. É o que mostra ma pesquisa liderada por um acadêmico da Universidade College London (UCL), no Reino Unido.

O estudo integra um capítulo do World Happiness Report (Relatório Mundial da Felicidade), que por sua vez é publicado pela Universidade de Oxford, a Gallup e a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

Compartilhar refeições vale ouro!

Os pesquisadores descobriram que a frequência com que alguém compartilha refeições é um indicador tão forte dos níveis de satisfação com a vida e de emoções positivas quanto sua faixa de renda. Além disso, esse indicador pode revelar mais sobre seu bem-estar do que estar ou não empregado.

A equipe usou dados de uma pesquisa da Gallup em que mais de 150 mil  entrevistados foram questionados sobre seu bem-estar e a frequência de compartilhamento de refeições com pessoas que conheciam durante a última semana. Os dados foram coletados de 142 países em 2022 e 2023. As descobertas abrangem todas as idades, gêneros, países, culturas e regiões.

Quem come sozinho é menos feliz

No geral, países onde as pessoas compartilham refeições com mais frequência relatam níveis mais altos de satisfação com a vida. Em comparação com pessoas que jantam sozinhas, aquelas que sempre compartilham almoço e jantar relatam, em média, um ponto extra em sua avaliação de vida, em uma escala de 0 (pior vida possível) a 10 (melhor vida possível).

Para se ter uma ideia do que isso significa, se os residentes do Reino Unido relatassem um ponto extra de avaliação de vida, esse seria o segundo país mais feliz do mundo (atualmente é a Dinamarca, depois da Finlândia). Esse padrão também é verdadeiro quando se observa pessoas dentro do mesmo país, e mesmo depois de contabilizar idade, renda ou tipos de moradia.

Veja o que diz o pesquisador Alberto Prati, da UCL:

Esta é a primeira vez que dados sobre compartilhamento de refeições foram coletados e analisados ​​em escala global. Já sabíamos o quão importantes as conexões sociais são para o bem-estar, mas ficamos surpresos com a força da conexão do compartilhamento de refeições com avaliações de vida e emoções positivas."

América Latina e Caribe no topo

Países da América Latina e do Caribe relataram compartilhar o maior número de refeições em uma semana de sete dias, compartilhando quase dois terços dos almoços e jantares (nove refeições).

Europa Ocidental, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia ficaram em segundo lugar, compartilhando em média pouco mais de oito refeições por semana.

Em contraste, países do Sul da Ásia relataram compartilhar menos de quatro refeições de almoço e jantar ao longo de uma semana, enquanto o Leste Asiático relatou compartilhar quase seis em uma semana.

Tendência é comer sozinho

Os autores usaram os EUA como um estudo de caso para analisar a evolução recente do compartilhamento de refeições. Para isso, eles usaram dados da Pesquisa Americana de Uso do Tempo e analisaram tendências em torno de compartilhamento de refeições e jantar sozinho de 2003 a 2023.

A análise mostra que as pessoas, nos EUA, costumam jantar mais sozinhas do que há 20 anos, o que, segundo os pesquisadores, é motivado pelo fato de os jovens serem mais propensos a compartilhar menos refeições com amigos e familiares.

Os autores especulam que isso pode estar ligado a mudanças na estrutura social ao longo do tempo, além de um declínio geral no capital social — ou seja, coesão da comunidade e conexões com outros que formam uma sociedade funcional.

Pandemia teve impacto

Os pesquisadores notaram, em particular, um aumento no número de adultos norte-americanos que fazem refeições sozinhos, inclusive os mais jovens. Em 2023, por exemplo, 26% relataram fazer todas refeições sozinhos no dia anterior à abordagem, o que foi um aumento de mais de 50% desde 2003.

Adultos com mais de 65 anos têm mais probabilidade de comer sozinhos nos EUA, embora desde 2018 as taxas de menores de 35 anos comendo sozinhos tenham aumentado de forma acentuada. Os pesquisadores especulam que a aceleração recente, do início de 2020 em diante, pode ser atribuída a mudanças forçadas no comportamento social após a pandemia.

Dá para mudar!

"Acreditamos que essas descobertas têm implicações políticas úteis e destacam o número de refeições compartilhadas como um índice comparativo promissor, mas pouco estudado, para pesquisa social”, acrescenta Prati.

Se você tem comido sozinho para aproveitar o horário das refeições para checar mensagens ou trabalhar, talvez esteja na hora de rever seus hábitos. Que tal convidar alguém comer com você e deixar o smartphone no bolso? Segundo o estudo, quem costuma compartilhar refeições não só tende a relatar emoções mais positivas, como também aprecia melhor a comida.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin