Em dose baixa, o THC realmente pode ajudar a relaxar, mas o efeito é o oposto quando se aumenta um pouco a quantidade
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h47 - Atualizado às 23h54
Quem usa maconha em geral diz que a droga ajuda a relaxar e aliviar o estresse, embora não existam muitos estudos que comprovem esse efeito. Agora, uma pesquisa confirma que uma dose baixa de THC (tetrahidrocanabinol), o principal composto psicoativo da maconha, ajuda a acalmar. Mas uma dose um pouco mais alta, suficiente para causar um “barato” moderado nos usuários, tem o efeito oposto: aumenta a ansiedade.
Os pesquisadores, das universidades norte-americanas de Illinois e de Chicago, recrutaram 42 voluntários saudáveis, de 18 a 40 anos, que já haviam tido experiências com a maconha, mas que não eram usuários diários.
Os participantes foram divididos em três grupos: o primeiro recebeu uma cápsula com 7,5 mg de THC; o segundo, 12,5 mg; e o terceiro recebeu um placebo. Nem os voluntários, nem os pesquisadores sabiam quem havia recebido o quê.
Os integrantes da pesquisa passaram por duas sessões diferentes, com cindo dias de intervalo entre elas. Na primeira, eles foram convidados a se preparar para uma entrevista simulada, de cinco minutos, em que os participantes eram filmados e podiam visualizar seu próprio desempenho. Eles também tiveram que fazer um cálculo matemático utilizado para induzir o estresse.
Nas segunda visita, cada um tinha que falar sobre um livro ou filme favorito por cinco minutos e, depois, fazer um jogo sozinho por mais cinco minutos. Antes, durante e depois das atividades de ambas as sessões, os voluntários tiveram seus níveis de ansiedade avaliados com perguntas. A pressão arterial, a frequência cardíaca e o cortisol (hormônio do estresse) também foram medidos.
Os participantes que receberam 7,5 miligramas de THC relataram menos estresse nos testes do que aqueles que receberam um placebo, e a tensão deles também diminuiu mais rápido. Já os que receberam 12,5 mg de THC antes das duas sessões ficaram com um humor pior, e relataram que as primeiras tarefas eram ameaçadoras antes mesmo de começar os testes. Eles ainda fizeram mais pausas durante a entrevista simulada, em relação ao placebo.
Não houve diferenças significativas na pressão arterial dos três grupos, nem na freqüência cardíaca ou nos níveis de cortisol – antes, durante ou após as tarefas.
Os autores do estudo observam que conseguir aprovação para estudos em humanos com doses controladas de maconha não é fácil, por questões éticas. Mas eles são importantes, uma vez que ainda faltam evidências científicas sobre os efeitos da droga, apesar de o uso recreativo e medicinal serem aprovados em várias localidades.