Transtorno acomete 3,5% das mulheres e 2% dos homens ao longo da vida
Tatiana Pronin Publicado em 14/06/2023, às 09h00
Você provavelmente já ouviu falar em transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia. Mas o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) é um dos mais comuns, apesar de, muitas vezes, negligenciado. Isso faz com que muita gente sofra durante anos até chegar ao diagnóstico e tratamento.
O transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) é caracterizado por episódios recorrentes de:
- ingestão de grandes quantidades de alimentos, a ponto de causar desconforto, muitas vezes em um curto intervalo de tempo;
- uma sensação de perda de controle durante o episódio;
- sentir vergonha, angústia ou culpa depois.
Diferente da bulimia, que também envolve episódios de ingestão excessiva de alimentos seguidos de muita culpa, no TCAP a pessoa não costuma adotar medidas compensatórias (como, por exemplo, provocar vômito, tomar laxantes e fazer jejum) após os episódios. Mas não é raro que indivíduos com o transtorno acabem desenvolvendo bulimia, ou vice-versa.
É importante destacar que a compulsão alimentar periódica é muito diferente do que as pessoas entendem como gula ou exageros eventuais. É comum que alguém coma dois ou três pedaços de bolo, ou quatro fatias de pizza, e se arrependa em seguida. Mas isso é muito diferente de ingerir um bolo inteiro, ou a pizza toda, quase sem sentir o prazer da comida, de pé, escondido dos outros, uma ou várias vezes por semana. Além de todas as consequências negativas à saúde física, o TCAP afeta o dia a dia da pessoa, levando ao isolamento e à depressão.
De acordo com a Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade), o transtorno da compulsão alimentar periódica acomete 3,5% das mulheres e 2% dos homens ao longo da vida.
Nos EUA, segundo o Insituto Nacional de Saúde Mental, esse é o transtorno alimentar mais comum, e afeta cerca de 3% da população.
A ciência ainda têm buscado respostas para as causas da compulsão alimentar. É possível que exista algum tipo de predisposição genética, por exemplo. Traumas, em especial o abuso sexual, podem aumentar o risco de desenvolver o transtorno, bem como restrições alimentares intensas.
É comum que pessoas com o TCAP se envolvam em dietas da moda, que incluem cortar grupos inteiros de alimentos. Também é frequente que evitem comer em público ou junto com outras pessoas.
Além de sofrer com flutuações constantes no peso, para cima ou para baixo, muitas pessoas com o transtorno podem desenvolver obesidade. Além das consequências a longo prazo, como risco aumentado de diabetes e doenças do coração, o TCAP pode ter consequências de curto prazo, como cólicas estomacais, refluxo ácido, dificuldades de concentração e outros transtornos de saúde mental.
O tratamento do transtorno deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, que pode envolver psiquiatra, psicólogo e nutricionista. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é considerada o tratamento de primeira linha, já que ajuda a pessoa a identificar emoções que deflagram comportamentos disfuncionais para, então, modificar esses padrões. Outros tipos de psicoterapia e grupos de ajuda mútua também podem ser úteis, e estudos recentes têm apontado benefícios da terapia comportamental dialética adaptada ao controle de transtornos alimentares.
A única medicação aprovada para o transtorno de compulsão alimentar, atualmente, é a lisdexanfetamina (LDX), também usado para o transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Alguns médicos também podem prescrever certos antidepressivos (em especial se o paciente também apresenta depressão). Outros medicamentos que têm se mostrado úteis em alguns estudos são o anticonvulsivante topiramato e a naltrexona, também indicada para transtorno do uso de álcool. Todas essas substâncias possuem efeitos colaterais e contraindicações, por isso devem ser utilizadas com acompanhamento médico.
Fontes: Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), Dr. Jairo Bouer, National Eating Disorders Association (NEDA), National Institute of Mental Health (NIMH) e The New York Times.
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