Consumo moderado de café pode proteger contra lesão renal aguda

Estudo contou com dados de 14 mil adultos nos EUA; nefrologista comenta resultados

Redação Publicado em 28/06/2022, às 10h00

Consumo habitual de café pode ser um fator de proteção contra a doença, mas exagerar pode fazer mal aos rins - iStock

Um estudo sugere que o consumo regular de café, sem exageros, pode estar associado a menor incidência de lesão renal aguda (LRA). A bebida faz parte da rotina de boa parte das pessoas, no Brasil e em vários outros países, e a pesquisa talvez venha a indicar um novo potencial benefício desse hábito. 

O que é lesão renal aguda (LRA)?

“Comum principalmente em pessoas hospitalizadas, a lesão renal aguda é caracterizada pela perda súbita da capacidade dos rins de realizarem funções básicas como filtragem de resíduos e substâncias nocivas do sangue”, explica a médica nefrologista Caroline Reigada, especialista em medicina intensiva que integra o corpo clínico de hospitais como São Luiz, Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).

A doença é provocada por lesões e obstruções no rim e diminuição do fluxo de sangue para o órgão. Os sintomas são retenção de líquido e redução da quantidade de urina, no início, e depois fadiga, falta de apetite e de ar, náusea e confusão em casos mais graves. O tratamento precisa ser intensivo, pois há risco de morte, mas, segundo a médica, a condição é reversível dependendo do estado de saúde do paciente. 

Adultos acompanhados por 24 anos

O estudo é de coorte, ou seja, envolve a observação de grupos de pessoas com características em comum. Foram utilizados dados de cerca de 14 mil adultos com idade média de 54 anos, de pesquisa em andamento sobre doenças cardiovasculares nos EUA. Em um intervalo de 24 anos, esses indivíduos foram questionados sete vezes sobre o número de xícaras de café que consumiam diariamente. No período, 1.694 desses participantes sofreram com lesão renal aguda.

Os autores do estudo observaram que indivíduos que bebem qualquer quantidade de café tem menor risco de desenvolver lesão renal aguda em comparação com aqueles que não consomem a bebida. E o risco seguiu a tendência do estudo mesmo após a inclusão de variáveis como idade, sexo, raça, nível educacional, consumo diário de calorias, prática de atividade física, tabagismo, ingestão de álcool, qualidade da dieta, índice de massa corporal (IMC), diabetes, uso de anti-hipertensivos e taxa de filtração glomerular estimada (TFGe), que mede a função renal.

Após levarem em consideração os dados demográficos, socioeconômicos e de estilo de vida dos participantes, os pesquisadores observaram risco 15% menor de lesão renal aguda nos indivíduos que tomavam qualquer quantidade de café em comparação com os que não tinham o hábito. Os resultados permaneceram estatisticamente significativos após a contabilização de fatores como IMC, diabetes, uso de anti-hipertensivos e TFGe.

“A cafeína é capaz de alterar a função renal através de uma variedade de mecanismos, incluindo natriurese (eliminação de sódio na urina) e modificação da hemodinâmica renal e do sistema renina-angiotensina-aldosterona (responsável por regular a pressão arterial), que são fatores importantes no desenvolvimento de LRA. Outras hipóteses que podem explicar os efeitos protetores do café estão relacionadas a mecanismos não-renais, como inflamação reduzida, função endotelial aprimorada e sensibilidade à insulina melhorada”, afirma a médica.

Em artigo publicado em maio na revista médica Kidney International Reports, os pesquisadores afirmam que são necessários mais estudos para avaliar esses mecanismos de proteção, e também para verificar se aditivos como açúcar e leite poderiam ter algum impacto nos resultados.

Nada de exagerar no café!

A nefrologista ainda lembra que o consumo excessivo de café pode ter o efeito contrário, ou seja, prejudicar os rins: "A bebida é rica em oxalato, substância que pode se acumular nos rins e favorecer a formação de cálculos renais, popularmente conhecidos como pedras”. 

A quantidade segura para o consumo da bebida é de uma a quatro xícaras de café ao longo do dia. "Considerando que uma xícara de café expresso tem de 25 a 50 mg de cafeína e uma xícara de café coado, dependendo do tamanho, pode ter de 50 a 150 mg de cafeína. A partir de 400 mg de cafeína ao dia uma pessoa adulta pode ter efeitos colaterais em virtude do consumo excessivo. Portanto é melhor não consumir mais quatro ao dia, que é a quantidade segura para ter os benefícios e não ter risco dos malefícios", ensina. Os riscos do exagero são  insônia, taquicardia, irritabilidade, dor na "boca do estômago", ansiedade e cefaleia, entre outros. 

Outros hábitos saudáveis

Ela ainda menciona outros hábitos que ajudam a afastar o risco de uma lesão renal aguda: tomar água, ter uma alimentação balanceada e praticar exercícios físicos, além de não fumar, evitar o consumo excessivo de sal e de bebidas alcóolicas.

Uma vez diagnosticado, o tratamento da LRA pode variar de acordo com a causa que levou à diminuição da função dos rins, podendo incluir mudanças no estilo de vida, principalmente na alimentação, diálise e uso de medicamentos diuréticos. 

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