Coração: dicas essenciais para evitar infarto e derrame

Mesmo quem possui casos na família pode se proteger, garante médico da Clínica Mayo

Tatiana Pronin Publicado em 07/02/2025, às 10h00

Seu estilo de vida tem um peso bem maior que a genética, segundo cardiologista - iStock

Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte neste planeta. Sendo assim, a maioria das pessoas tem um histórico familiar dessas condições e, portanto, um risco aumentado. Para alguns, a perda de alguém próximo pode ser o estopim para procurar um cardiologista e começar a cuidar melhor da saúde. Já outras pessoas apenas descobrem que têm uma doença cardíaca ao sofrer um infarto ou derrame. 

Para quem conhece a sua propensão genética a condições como hipertensão, diabetes ou doença arterial coronariana, pode surgir a dúvida sobre o quanto vale a pena se esforçar. Se esse for o seu caso, a resposta é simples: com certeza!

Genética não é destino

Em uma conversa com jornalistas da América Latina esta semana, o cardiologista Stephen Kopecky, da Mayo Clinic em Minnesota, nos EUA, garante que cuidar do estilo de vida pode mudar a trajetória de uma pessoa:

Genes ‘ruins’ podem aumentar seu risco de sofrer infarto ou derrame em 40 ou 50%. Já o estilo de vida pode aumentar seu risco em 400%”.

Isso acontece por causa da chamada epigenética: quando você tem hábitos saudáveis, você “liga” seus genes bons e “desliga” os ruins. Ou seja, a genética não define o seu destino.

Veja o exemplo a seguir. Se você herdou a tendência a ter colesterol alto (hipercolesterolemia familiar), seguir uma dieta saudável e fazer exercícios, apenas, não vai normalizar os seus níveis – é preciso tomar remédio para isso. Mesmo assim, o médico garante que a mudança de hábitos vai baixar seu risco de sofrer infarto ou derrame em 80%.

Como proteger seu coração

Todo mundo sabe que é preciso se exercitar, comer de forma saudável, beber pouco, não fumar, gerenciar melhor o estresse e ir ao médico com regularidade. Mas numa época em que recebemos tanta informação nos nossos smartphones, nem sempre é muito fácil distinguir o que é modismo, o que ainda está em estudo e o que já está bem estabelecido em medicina.

Devemos seguir a dieta cetogênica ou paleolítica ou evitar por completo o consumo de carne? Se eu tenho histórico familiar de doenças cardíacas, devo evitar exercícios extenuantes? É possível evitar que alguém morra do coração de repente, sem ter tido sinais prévios? Veja, a seguir, algumas recomendações feitas por Kopecky. Mas adianto que não existem fórmulas mágicas, por isso não deixe de consultar o seu cardiologista também.

Lipoproteína A: um novo marcador

Você sabe o que são lipoproteínas? São partículas que transportam gordura no nosso sangue. Algumas delas são bem conhecidas, como o colesterol ruim (LDL) ou bom (HDL). Mas existe um novo exame que pode trazer uma pista importante para a saúde do seu coração, e que precisa ser feito apenas uma vez na vida: o de lipoproteína A, ou Lp(a).

Cerca de 20% da população tem níveis altos de Lp(a) no sangue. Isso não apenas tem um efeito irritante para o revestimento das artérias, como facilita o surgimento de coágulos que podem reduzir o fluxo de sangue (levando ao infarto, se o afetado for o coração, ou ao derrame, caso seja o cérebro). Há séculos, essa proteção extra contra sangramentos era muito bem-vinda, mas hoje não mais. Quem descobre ter esses níveis altos deve se tratar com mudanças de estilo de vida e medicamentos, além de avisar seus familiares, para que eles também realizem o teste.

Jovens devem se preocupar com o coração?

Todo mundo deve adotar hábitos saudáveis e fazer exames de rotina desde cedo. Se uma criança vai começar a praticar um esporte que exige bastante esforço, por exemplo, é recomendável avaliar seu coração antes. Mas os cuidados mais intensos não devem ser deixados lá para a meia-idade, como a maioria das pessoas faz.

“A partir dos 27 anos, a saúde do coração começa a decair”, conta o cardiologista da Clínica Mayo. Assim, aos 30 anos, é importante que as pessoas comecem a prestar atenção em seus níveis de colesterol, triglicérides e glicose, meçam sua pressão arterial com frequência, fiquem de olho na balança e na cintura, priorizem um sono de qualidade, avaliem sua relação com o estresse e cultivem relacionamentos, porque suporte social também favorece a saúde.

A maioria desses cuidados, conforme comenta Kopecky, as pessoas podem tomar por conta própria. Outros, como evitar a exposição à poluição (um fator de risco importante para a saúde cardiovascular), já são mais difíceis de serem controlados. Por fim, check-ups regulares são fundamentais, e, a partir de certa idade, quem apresenta fatores de risco pode se beneficiar muito de exames como a tomografia cardíaca, para avaliar e evitar a probabilidade de um infarto.

Riscos para homens e mulheres

Existem algumas diferenças no que se refere à saúde cardiovascular deles e delas. Em geral, os homens adoecem por volta dos 40 ou 50 anos, enquanto as mulheres tendem a adoecer dez anos depois, após a menopausa. A aspirina, que é indicada para quem já tem doença cardiovascular, pode ser um pouco mais eficaz para homens, do que para mulheres, para prevenir infarto. Mas para a prevenção do derrame, o remédio tem melhor efeito nelas.

Por outro lado, as mulheres são mais propensas a sofrer de uma condição pouco comum chamada “síndrome do coração partido”. Diante de uma situação de forte estresse emocional, como a morte de uma pessoa querida, ou uma grande perda financeira, a pessoa desenvolve um quadro de insuficiência cardíaca severa. A boa notícia é que existe tratamento, embora um terço das pacientes tenha risco de recair diante de um novo evento estressante.

Álcool e carne vermelha: consumir ou não?

O cardiologista esclarece que tudo bem consumir carne vermelha, mas ninguém precisa tanto desse alimento hoje em dia, em que temos tanta variedade de fontes proteicas à disposição. Para quem não abre mão, cerca de 85 g ou 113 g num dia já é mais do que suficiente. Mas o pior tipo de carne vermelha para a saúde – esta sim deve ser evitada – é a processada (por ex: presunto, linguiça, salsicha, bacon, salame etc). E não só por causa da gordura, mas também por causa do sódio, que aumenta a pressão arterial. Kopecky lembra que nosso coração bate cerca de 100 mil vezes ao dia, por isso mesmo pequenas variações na pressão (quando a máxima passa de 11,5, por exemplo) já são prejudiciais.

Bom, a questão do álcool é mais complicada, já que é muito difícil fazer grandes estudos clínicos randomizados (com pessoas escolhidas aleatoriamente) e controlados (você pede para um grupo beber e outro, não) de qualidade. Inclusive porque dois terços da população consomem álcool. O que o cardiologista da Mayo afirma, com base em alguns estudos recentes, é que beber um pouquinho de vinho (no máximo 145 ml de vinho, para os homens, e 85 ml, para as mulheres) pode favorecer o coração, quando isso é associado a uma dieta saudável, rica em grãos integrais, legumes, verduras, frutas, um pouco de azeite e um pouco de carne magra.

Mas existem controvérsias e contraindicações. Em primeiro lugar, porque estudos observacionais já mostraram que o consumo de álcool aumenta o risco de morte em geral. Segundo, porque algumas pessoas que sofrem de arritmia – e você pode não saber que sofre – não podem consumir nenhuma quantidade de bebida alcoólica. Em resumo: 1) algumas pessoas não devem beber nem um pouco; 2) quem bebe, deve consumir o máximo descrito acima; e 3) quem não bebe não deve começar.

O médico reforça que é preciso tomar cuidado com os alimentos que acompanham a bebida. Estudos feitos nos EUA e em alguns países, segundo ele, indicam que quem compra vinho também tende a comprar alimentos mais saudáveis. Já quem consome cerveja tende a comprar guloseimas ricas em gordura e sódio, o que já anularia qualquer potencial benefício do álcool.

Dieta cetogênica e jejum intermitente

Esses dois planos alimentares estão na moda, mas o médico da Mayo tem algumas restrições a ambos. Em relação à dieta cetogênica, ele acredita que 50 a 60% do nosso cardápio diário deva ser composto de carboidratos saudáveis, ou seja, os tais grãos integrais, legumes, verduras e frutas. Esses alimentos são ricos em antioxidantes e em fibras, que são fundamentais para evitar o colesterol e o aumento do peso. Restringir esse grupo alimentar e se concentrar nas carnes pode até causar uma redução de peso inicial, mas a longo prazo a tendência é as coisas voltarem ao que eram antes assim que a pessoa aumenta o consumo de carboidratos.

Já o jejum intermitente especialista. Comer o tempo todo certamente não é algo necessário para o ser humano (nossos ancestrais faziam no máximo duas refeições ao dia). Mas também não adianta fazer um jejum de 16 horas e, no período restante, comer mais do que você comeria ao longo do dia. Aquilo que ingerimos, no final das contas, é o que importa.

É bom evitar a cafeína?

De um modo geral, o consumo de café e de chá traz benefícios à saúde. Mas algumas pessoas têm palpitações quando se excedem – essas devem reduzir o consumo. Fazer uso indiscriminado de bebidas cafeinadas, algo que é comum em jovens que precisam passar a noite estudando, também não é indicado, ainda mais para um adulto. Como em tudo na vida, é bom adotar a moderação.

É melhor evitar muito esforço físico?

Esse é um mito, de acordo com o cardiologista. Mas existe uma condição genética chamada “cardiomiopatia hipertrófica”, que é uma causa comum de morte súbita em jovens. Quem sofre dessa alteração pode fazer exercícios pesados, como levantar muito peso. (Essa é a razão pela qual crianças devem ser examinadas antes de adotar algum esporte mains intenso). Quem conhece algum familiar que perdeu a vida durante a atividade física deve consultar o médico também. Problemas nas válvulas do coração, como quem possui a “válvula aórtica bicúspede”, também precisa tomar alguns cuidados, mas isso costuma se manifestar somente por volta dos 50 ou 60 anos.

Já quem possui outros fatores de risco, como colesterol ou pressão altos, pode se exercitar sem problemas depois de consultar o médico. Muita gente não tem tempo de ir à academia três vezes por semana, mas mesmo exercícios feitos em casa, com alguns segundos ou poucos minutos de intensidade mais alta, já podem trazer benefícios.

Sinais que não devem ser ignorados

Em certas situações, obstruções nas artérias podem avançar rápido. Mas muita gente apresenta algum sinal prévio. Kopecky explica que eventuais problemas podem ocorrer em três áreas: na parte elétrica do coração (arritmias, ou batimentos irregulares), no músculo (se o coração não consegue bombear o sangue adequadamente), ou nas artérias (se placas de gordura dificultam a passagem de sangue).

No caso das arritmias, a pessoa pode sentir palpitações (coração acelerado), batimentos irregulares, ou até tontura e desmaios. Falta de ar fora de situações de esforço, como ao se deitar, por exemplo, podem sinalizar algum problema no bombeamento do sangue. Já falta de ar e desconforto no peito ao fazer esforço são típicos de obstruções nas artérias. Todos esses sintomas precisam ser investigados pelo médico, que pode solicitar exames de sangue, eletrocardiograma, ecocardiograma e, eventualmente, a tomografia das artérias.

Mensagens finais

O médico da Mayo deixa claro que não existe fórmula mágica para se livrar do risco cardiovascular, como investir em determinado suplemento e continuar se alimentando mal. O estilo de vida envolve muitas variáveis. Mas duas coisas são certas, segundo ele: 1) pequenas mudanças, como substituir as salsichas por feijão de vez em quando, podem fazer muita diferença; e 2) nunca é tarde demais para começar a se cuidar. 

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