Resultados preliminares sugerem efeito protetor de compostos gerados pela microbiota intestinal
Redação Publicado em 05/03/2021, às 21h47
Estudo conduzido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) demonstra que compostos produzidos pela microbiota intestinal a partir da quebra de fibras alimentares podem ter importância para o controle da inflamação causada pela Covid-19.
Os dados, publicados na revista Gut Microbes e divulgados pela Agência Fapesp, sugerem que o consumo de fibras não interfere na entrada ou replicação do vírus Sars-CoV-2 no intestino. Mas, em células in vitro, essas moléculas reduziram a expressão de um gene importante para a entrada do vírus nas células e de um receptor de citocina que favorece a inflamação.
Sintomas gastrointestinais como diarreia, vômito e dor abdominal podem afetar até metade dos pacientes e 17,6% dos casos graves de Covid-19. Essas alterações estão, em parte, associadas à entrada do vírus nas células intestinais e a alterações no funcionamento normal delas.
Além disso, estudos recentes indicam que indivíduos acometidos pela doença apresentam modificações importantes da microbiota intestinal, incluindo diminuição de bactérias que produzem ácidos graxos de cadeia curta – moléculas que regulam as células intestinais e de defesa do organismo.
Por isso, os pesquisadores testaram se esse tipo de ácido graxo teria efeito direto na infecção de células intestinais pelo vírus da Covid-19. Outros trabalhos já indicavam que a alteração na microbiota intestinal e em seus produtos poderia modificar a resposta imune durante o quadro infeccioso.
Pesquisas anteriores em animais apontaram uma proteção proporcionada por compostos produzidos pela microbiota intestinal contra o vírus sincicial respiratório (RSV), que causa bronquiolite, entre outras doenças respiratórias.
No trabalho mais recente, amostras saudáveis de tecido do colón intestinal e de células epiteliais da mesma região foram infectadas com o novo coronavírus em laboratório e analisadas em seguida.
Os pesquisadores dizem que não houve diminuição da quantidade de vírus. No entanto, as amostras de biópsias intestinais tratadas apresentaram queda significativa na expressão do gene DDX58, que interfere na produção de citocinas pró-inflamatórias, e do receptor de interferon-lambda, que medeia a atividade antiviral. Além disso, a proteína TMPRSS2, importante para a entrada do vírus nas células, ficou menos expressa. Tudo isso teria um efeito protetor contra a inflamação.
O trabalho contou com amostras de tecido do cólon de 11 pacientes sem Covid-19. E os testes também foram realizados em células do intestino que ficam em contato próximo com a microbiota. Tanto as amostras de tecido quanto as células foram infectadas com o Sars-CoV-2.
O próximo passo, segundo os pesquisadores, é fazer a investigação em modelos animais.
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