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Culpa do sobrevivente: o transtorno dos que escapam de tragédias

Eles também podem se perguntar se havia algo que poderiam ter feito para evitar o evento traumático - iStock
Eles também podem se perguntar se havia algo que poderiam ter feito para evitar o evento traumático - iStock

Redação Publicado em 15/05/2024, às 10h00

A tragédia pela qual está passando o estado do Rio Grande do Sul, infelizmente, trará ainda consequências graves mesmo após as águas baixarem de vez. Falando apenas da área da saúde, segundo pesquisas feitas a partir de outras grandes enchentes que aconteceram no mundo em anos recentes, a probabilidade é de um aumento significativo nos casos de diversas doenças infecciosas, como problemas respiratórios, leptospirose, diarreias, hepatite A e dengue. Já no aspecto psicológico, há uma grande possibilidade de surgiem muitos casos de um transtorno pouco conhecido chamado “culpa do sobrevivente”.
Esse distúrbio pode ocorrer em relação a um evento traumático ou à perda de uma vida. Quando uma pessoa sobrevive a um acontecimento do qual outras não sobreviveram, isso pode levar a sentimentos de culpa. Os sobreviventes podem questionar por que escaparam da morte enquanto outros perderam a vida. Eles também podem se perguntar se havia algo que poderiam ter feito para evitar o evento traumático ou preservar as vidas que se foram.
Embora já tenha sido um diagnóstico por si só, os profissionais de saúde mental consideram agora a culpa do sobrevivente como um sintoma significativo do TEPT (transtorno de estresse pós-traumático). As pessoas que podem sentir culpa do sobrevivente incluem:
-veteranos de guerra
-socorristas
-sobreviventes do Holocausto
-sobreviventes do 11 de setembro
-sobreviventes do Furacão Katrina
-sobreviventes do incêndio na Boate Kiss 
-sobreviventes do câncer
-receptores de transplante
-sobreviventes de um acidente
-sobreviventes de desastres naturais (o caso do RS)
-testemunhas de um evento traumático
-familiares daqueles que desenvolveram uma condição hereditária fatal
-aqueles que perdem um membro da família por suicídio
-pais que sobrevivem ao filho
Embora nem todos experimentem a culpa do sobrevivente, a investigação sugere que os sentimentos de culpa são comuns após eventos traumáticos ou que ameaçam a vida. Em um estudo de 2018, os investigadores entrevistaram pessoas que recebiam tratamento numa clínica de estresse traumático no Reino Unido. Descobriram que 90% dos participantes que sobreviveram a um evento quando outros morreram relataram sentir sentimentos de culpa. As descobertas de um estudo de 2019 sugerem que 55–63,9% das pessoas que sobrevivem ao câncer de pulmão, por exemplo, sentem culpa.

Sintomas

Quando as pessoas sobrevivem a um evento traumático, podem sentir sentimentos de culpa:
- por sobreviver quando outros não conseguiram;
- pelo que eles fizeram durante o evento traumático;
- pelo que eles não fizeram durante o evento traumático.
Pessoas com culpa de sobrevivente muitas vezes podem apresentar outros sintomas de TEPT, incluindo:
-flashbacks do evento traumático;
-pensamentos obsessivos sobre o evento;
-irritabilidade e raiva;
-sentimentos de desamparo e desconexão;
-medo e confusão;
-falta de motivação;
-problemas para dormir;
-dores de cabeça;
-náusea ou dor de estômago;
-isolamento social;
-pensamentos de suicídio.

Causas

Tal como acontece com o TEPT, a culpa do sobrevivente pode fazer com que a pessoa veja o mundo como um lugar injusto e inseguro. Apesar do distúrbio ocorrerr em pessoas que vivenciaram um evento traumático, nem todas as que vivenciam tal acontecimento desenvolvem sentimentos de culpa.
Os fatores que aumentam o risco de uma pessoa sentir culpa após sobreviver a um evento traumático incluem:
-uma história de trauma, como abuso infantil;
-ter outros problemas de saúde mental, como ansiedade ou depressão;
-uma história familiar de problemas psiquiátricos;
-falta de apoio de amigos e familiares;
-uso de álcool ou drogas.
A pesquisa sugere que os sobreviventes podem ter crenças falsas sobre seu papel em um evento, o que pode levar a sentimentos de culpa. Essas crenças podem incluir ideias exageradas ou distorcidas sobre a capacidade de prever ou prevenir um resultado, o papel dessa pessoa em causar resultados negativos e irregularidades feitas por ela. Ter essas crenças aumenta a gravidade dos sintomas do TEPT, incluindo sentimentos de culpa e angústia.

Dicas para lidar com a culpa do sobrevivente

A pesquisa sugere que muitas pessoas com culpa de sobrevivente e outros sintomas de TEPT se recuperam sem tratamento no primeiro ano após o evento. No entanto, pelo menos um terço das pessoas continuará a ter sintomas de TEPT durante três anos ou mais. As dicas a seguir podem ajudar as pessoas a se recuperarem da culpa do sobrevivente e de outros sintomas relacionados ao trauma. No entanto, se uma pessoa sentir que não consegue lidar com a situação sozinha ou se os sintomas forem graves ou contínuos, é importante procurar tratamento profissional.
Aceite e permita os sentimentos: embora a culpa do sobrevivente nem sempre seja racional, é uma resposta reconhecida ao trauma. Aceite e permita que os sentimentos surjam. Reserve um tempo para processar a culpa, a tristeza, o medo e a perda que acompanham um evento traumático e a perda de uma vida. Se esses sentimentos forem avassaladores ou não começarem a ficar mais controláveis com o tempo, é importante que a pessoa procure ajuda.
Conecte-se com outras pessoas: compartilhe sentimentos com familiares e amigos. Ou, se os entes queridos não compreenderem esses sentimentos, procure um grupo de apoio relevante. Tanto os grupos de apoio presenciais quanto as comunidades online permitem que os sobreviventes se conectem com outras pessoas, se expressem e façam perguntas.
Use técnicas de mindfulness: a atenção plena pode ser benéfica para pessoas que sofreram traumas, especialmente durante flashbacks ou períodos de emoções intensas e dolorosas. Experimente técnicas de ancoragem, que podem incluir focar na respiração, sentir os tecidos próximos e perceber sons dentro e fora da sala. Outro estudo relata uma ligação entre a culpa, a submissão e a introversão do sobrevivente. Os investigadores levantam a hipótese de que a culpa do sobrevivente pode ser um mecanismo evolutivo para apoiar a vida em grupo.
Pratique o autocuidado: experimentar um evento que envolve perda ou potencial perda de vidas é assustador e avassalador. Os sobreviventes podem se beneficiar ao realizar atividades que os façam sentir bem, como:
-tomar banho
-ler
-ficar em repouso
-meditar
-manter um diário
-fazer arte
-ouvir música suave
-tentar a aromaterapia
Também é importante que a pessoa:
-durma o suficiente;
-coma uma dieta balanceada;
-exercite-se regularmente.
Durante a recuperação, pode ser útil evitar drogas e álcool. Essas substâncias podem causar distúrbios emocionais e há um risco maior de transtorno por uso de substâncias entre pessoas com TEPT.

Faça algo de bom para os outros

As pessoas que sobrevivem a um evento traumático podem sentir-se melhor se ajudarem os outros de alguma forma. Uma pessoa pode desejar:
-compartilhar com as pessoas sua experiência;
-ser voluntário em uma instituição de caridade local;
-doar sangue;
-fazer uma doação de caridade;
-dar apoio a outros;
-enviar um kit de cuidados para alguém.

Quando procurar ajuda profissional

Uma pessoa deve procurar ajuda profissional se sentir culpa intensa, flashbacks ou sonhos perturbadores e outros sintomas de TEPT. Ela deve considerar a possibilidade de obter ajuda profissional, como conversar com um médico ou psicoterapeuta especializado em traumas.
A terapia é o tratamento primário para o TEPT, mas algumas pessoas também podem necessitar de medicação. O tratamento pode ajudar as pessoas a começar a recuperar o controle de suas vidas e a sentir alívio dos sintomas. Sobreviventes que tenham pensamentos de morte ou suicídio, ou que tenham tentado suicídio, devem obter atendimento médico imediato. A pesquisa indica que sobreviver a um evento traumático que envolveu a perda de vidas pode aumentar o risco de suicídio.

Prevenção do suicídio

Se você conhece alguém em risco imediato de automutilação, suicídio ou de ferir outra pessoa:
-Faça a pergunta difícil: “Você está pensando em suicídio?”
-Ouça a pessoa sem julgamento. 
-Fique com a pessoa até que chegue ajuda profissional. Tente remover quaisquer armas, medicamentos ou outros objetos potencialmente prejudiciais.
Se você estiver pensando em suicídio, lembre-se que o Centro de Valorização da Vida (CVV) é formado exclusivamente por voluntários e oferece apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente 24 horas por dia. É só ligar 188. Há também um chat e um e-mail para entrar em contato. 
Fonte: MedicalNewsToday

Nós, do site Doutor Jairo, entramos na campanha em prol das vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, e convidamos você a ajudar também. Veja como: 

Governo do Estado do Rio Grande do Sul – conta SOS Rio Grande do Sul (Pix: CNPJ: 92.958.800/0001-38) – https://sosenchentes.rs.gov.br/

Os Correios têm recebido e transportado doações gratuitamente - https://www.correios.com.br/ - tel para informações: 0800 725 0100

Central Única das Favelas (Cufa) - PIX: [email protected] – https://cufa.org.br/doar/

Aeroportos do Brasil (ABR) tem publicado em seu instagram a lista dos aeroportos que estão recebendo doações para o RS – https://www.instagram.com/abr.aeroportos/

ONG Grad Brasil tem arrecadado doações para ajudar no resgate de animais – PIX: 54.465.282/0001-21 – https://www.instagram.com/grad_brasil