Uma inflamação descontrolada, ou melhor, uma reação exagerada do sistema imunológico pode explicar por que algumas mulheres têm quadros de depressão
Jairo Bouer Publicado em 20/11/2019, às 21h23 - Atualizado às 21h27
Uma inflamação descontrolada, ou melhor, uma reação exagerada do sistema imunológico pode explicar por que algumas mulheres têm quadros de depressão severa durante a gravidez e após o parto. A afirmação é de pesquisadores das universidades de Maryland e do Michigan, além do Instituto Van Andel e do centro de atendimento Pine Rest Christian Mental Health Services, nos EUA.
O trabalho da equipe, publicado no periódico científico Brain, Behavior and Immunity, concentrou-se nos casos de depressão grave, e não no famoso “baby blues”, aquela melancolia passageira que boa parte das mulheres têm após o parto.
Uma em cada cinco gestantes sofrem com o transtorno antes e após o nascimento da criança. Também estima-se que 14% das gestantes tenham ideias de suicídio. Quando não coloca em risco a vida da mãe e do filho, a depressão pode ter consequências sérias para toda a família e ainda afetar o desenvolvimento do bebê.
Reação inflamatória
A equipe analisou amostras de sangue de 165 gestantes e descobriu alguns fatores inflamatórios que parecem contribuir para o surgimento e a gravidade da depressão.
Toda gravidez gera uma espécie de inflamação, e isso é fundamental no início, pois impede que o sistema imunológico da mãe ataque o feto, que é um corpo estranho. Mas, aparentemente, algumas mulheres têm uma reação inflamatória mais intensa ou prolongada que o ideal.
A análise mostrou que duas substâncias envolvidas na inflamação – a interleucina 6 (IL-6) e a interleucina 8 (IL-8), apresentaram aumento. Ao mesmo tempo, a interleucina 2 (IL-2), outra substância fundamental para a imunidade, teve redução. Os pesquisadores também perceberam que, junto com essas alterações, houve uma diminuição drástica nos níveis de serotonina, um neurotransmissor ligado ao humor e o bem-estar.
Para os autores, essa reação em cascata associada à inflamação interfere no processo de formação de serotonina, que ocorre a partir do aminoácido triptofano. Quanto mais reduzido o nível de serotonina, maior a gravidade da depressão. Por isso, uma reação descontrolada deixaria algumas gestantes mais vulneráveis ao transtorno. A esperança é que essas descobertas um dia possam levar a um tratamento mais específico e eficaz nessa fase em que o uso de remédios deve ser feito com extrema cautela.