Jairo Bouer Publicado em 08/04/2020, às 17h10
A depressão é um dos transtornos mentais mais comuns no mundo, e estima-se que cerca de 15,5% dos brasileiros enfrentarão o quadro ao longo da vida. O tratamento envolve terapia e medicamentos, mas nem todos os pacientes respondem completamente aos antidepressivos. Um estudo que acaba de ser publicado na Nature Communications pode abrir caminho para que essa proporção aumente no futuro.
Pesquisadores de um consórcio internacional descobriram uma proteína, a GPR56, que estaria envolvida tanto na biologia da depressão quanto no efeito dos antidepressivos. De acordo com os coordenadores da pesquisa, da Universidade McGill, no Canadá, esse pode ser um novo alvo para o desenvolvimento de medicamentos no futuro. Além disso, se as conclusões do consórcio forem confirmadas, a GPR56 poderá servir como marcador para indicar quem deve responder, ou não, às drogas mais utilizadas hoje.
Os cientistas analisaram mudanças na atividade dos genes de 400 pacientes tratados com antidepressivos. Eles identificaram aqueles que responderam bem aos remédios e aqueles que não responderam. Além disso, contaram com um terceiro grupo que consumiu placebo, para servir de controle. Os resultados indicaram mudanças significativas nos níveis da proteína naqueles indivíduos que melhoraram com o tratamento farmacológico. A mesma alteração não foi observada no grupo que não respondeu, nem no grupo placebo.
A proteína, que pode ser detectada facilmente com um exame de sangue, já tinha sido estudada em ratos e em tecidos humanos. A equipe canadense descobriu que a GPR56 se altera na depressão, e também se modifica com a administração de antidepressivos. Essas mudanças são mais evidentes no córtex pré-frontal, área do cérebro envolvida na regulação de emoções e no aprendizado.
Cerca de 40% dos pacientes respondem ao primeiro antidepressivo receitado pelo psiquiatra. Após outras tentativas, a taxa de resposta sobe para 70% ou mais, mas ainda existem cerca de 20 ou 30% de indivíduos considerados resistentes ao tratamento farmacológico. Há outras possibilidades terapêuticas para essas pessoas, mas quanto mais cedo a melhora vem, menor o tempo de sofrimento e o risco de suicídio.
Se você ou alguém que você conhece começou um tratamento contra depressão e não obteve melhora após algumas semanas com as doses indicadas pelo médico, não perca a esperança, e muito menos largue o medicamento por conta própria. Converse com o psiquiatra sobre outros recursos disponíveis. E lembre-se que psicoterapia, atividade física e apoio familiar também são fundamentais para sair do quadro.