A depressão é um dos problemas de saúde mental mais comuns em todo o mundo. Estima-se que cada pessoa tenha 15% de chances de desenvolver o transtorno ao longo da vida. Mas as mulheres parecem ser mais vulneráveis a ter a enfermidade, que envolve tristeza persistente, fadiga, falta de prazer, alterações de sono, apetite e concentração.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que, em todo o planeta, cerca de 5,1% das mulheres e 3,6% dos homens vivenciaram um episódio depressivo no ano passado. Levantamentos feitos nos EUA e no Canadá trazem números parecidos, conforme artigo publicado há alguns anos no Journal of Psychiatry and Neuroscience. No Brasil, segundo a pesquisa Vigital 2021, do Ministério da Saúde, 14,7% das mulheres têm a doença, contra 7,3% dos homens.
Há várias hipóteses para explicar por que as mulheres sofrem mais de depressão, ou por que são mais diagnosticadas, como citaremos a seguir. Mas é bom lembrar que o transtorno é multifatorial, ou seja, pode envolver uma predisposição genética, além de fatores ambientais, por isso não dá para apontar um único culpado.
Além disso, o transtorno pode se manifestar de diferentes maneiras, dependendo da idade, do gênero e de questões culturais. Enquanto as mulheres podem apresentar sintomas mais típicos do transtorno, como choro fácil, sentimentos de culpa e desesperança exacerbados. Já eles tendem a externalizar mais suas emoções, com rompantes de agressividade ou uso de substâncias, o que pode mascarar a depressão.
É sabido, ainda, que as mulheres são mais propensas a buscar auxílio médico e mesmo a psicoterapia, quando estão em sofrimento. É que, apesar de muita coisa ter mudado na sociedade, muitos homens ainda são ensinados, desde cedo, a esconder suas lágrimas e eventual vulnerabilidade.
Mas há outros fatores capazes de explicar essa predisposição maior das mulheres à depressão, como as flutuações hormonais que afetam as mulheres ao longo da vida. Afinal, muitas delas têm sintomas exacerbados nos dias que antecedem ou durante a menstruação, na gravidez ou no pós-parto, bem como no climatério.
Questões socioculturais também contam, e muito. As estatísticas mostram que as mulheres são muito mais vulneráveis à violência sexual, por exemplo, algo que configura um fator de risco importante para a depressão.
Vários estudos têm destacado o estresse vivenciado pelas mulheres que trabalham duro (ganhando menos que os homens) e ainda acumulam as tarefas domésticas e o cuidado de filhos e parentes, como ficou claro na pandemia de Covid. Há suspeita, inclusive, de que o cérebro mais propenso à empatia, das mulheres, seria um fator de vulnerabilidade.
Todos esses fatos sinalizam de que políticas específicas para combater desigualdades e aliviar a sobrecarga sobre as mulheres são fundamentais, mais do que flores e mimos neste dia escolhido para homenageá-las.
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Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin