A maioria das mulheres entra na menopausa por volta dos 50 anos de idade. Mas não são poucos os casos em que a última menstruação acontece mais cedo. Nem sempre existe uma causa que explique a situação, por isso também não é possível prever quem terá uma fase reprodutiva mais curta.
É importante destacar que o diagnóstico da menopausa só ocorre depois que a mulher passa 12 meses sem menstruar. Antes disso, não é possível ter certeza de que não haverá mais um período menstrual, até porque os exames de dosagem hormonal podem variar muito.
“A chamada menopausa precoce, que é na faixa dos 40 aos 45 anos, ocorre em torno de 5 a 10% das mulheres”, diz o ginecologista Igor Padovesi, especialista cerficiado pela Sociedade Norte-Americana de Menopausa e integrante da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Quando ocorre antes dos 40 anos, a menopausa é chamada de prematura, também referida como falência ovariana prematura. A estimativa é que isso ocorra com 1% das mulheres.
Numa era em que muitas mulheres deixam para ter filhos mais tarde, a situação pode ser desafiadora. Padovesi relata que, em alguns casos, não muito comuns, a mulher descobre que está na menopausa apenas ao tentar a gravidez.
“É uma situação, por exemplo, de mulheres que vinham usando anticoncepcional ou DIU, e estavam sem menstruar por conta disso, e quando suspendem para engravidar acabam descobrindo que estavam numa menopausa precoce”, conta. Nesses casos, é possível realizar o sonho da gravidez com óvulos doados.
Além do impacto na fertilidade e de todos os sintomas já conhecidos da queda hormonal, como fogachos, insônia, ressecamento de pele e de mucosas, parar de menstruar muito cedo pode afetar a saúde da mulher a longo prazo.
“A grande e principal questão é que, se não tratada com a terapia hormonal correta, a menopausa precoce aumenta os riscos de infarto, derrame e doenças cardiovasculares”, enfatiza o médico.
O especialista esclarece que, na maioria dos casos, não se identifica uma determinada causa para a menopausa ou falência ovariana precoce.
“Pode ter causas autoimunes, genéticas; relacionadas a tratamentos como quimioterapia, radioterapia e, eventualmente, outras medicações que possam ter um prejuízo da função dos ovários”, cita Padovesi. Outras questões que podem estar envolvidas são cirurgias nos ovários, ou, mais raramente, a síndrome do X frágil, relacionada ao cromossomo X.
Para um leigo, é estranho imaginar que um ginecologista não tenha uma formação adequada para diagnosticar e tratar a menopausa. Mas essa é a realidade no Brasil e em outros países.
Pesquisas recentes indicam que somente 20% dos programas de residência em obstetrícia e ginecologia oferecem algum treinamento sobre o tema, enquanto 80% dos residentes médicos relatam se sentir "pouco confortáveis" para discutir ou tratar a menopausa.
"Atendo mulheres que chegam até mim depois de passar por vários profissionais que não trataram a menopausa prematura, o que é meio absurdo, mas ainda muito comum”, comenta Padovesi.
Para piorar tudo, os sintomas da chamada perimenopausa podem surgir de três a dez anos antes de a mulher deixar de menstruar. “É muito difícil determinar quando ela começa de fato, porque os sintomas são bem vagos, inespecíficos, são múltiplos, existe um espectro grande de sintomas que é atribuível a essa fase e nesse período da transição, eles oscilam”, explica o ginecologista. E os exames laboratoriais também não mostram se uma mulher está perto ou longe da menopausa.
O médico lembra que existem muitas causas possíveis para uma mulher deixar de menstruar, além da falência ovariana precoce, como a síndrome dos ovários policísticos, distúrbios da tireoide, e aumento da prolactina (hiperprolactinemia).
Os tratamentos de certas doenças também podem causar alterações menstruais, bem como estresse físico (como atividade física excessiva, comum em atletas) ou até psíquico. Qualquer que seja o caso, é importante consultar o ginecologista para saber o que está acontecendo.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin