Dieta rica em ácidos graxos ômega-3 diminui enxaquecas, sugere estudo

Pesquisa mostrou que mudanças específicas na alimentação podem diminuir dor crônica

Redação Publicado em 06/07/2021, às 09h00

Mulheres eram maioria no estudo e muitas delas tinham enxaquecas várias vezes ao mês - iStock

Uma dieta rica em dois ácidos ômega-3, EPA (eicosapentaenóico - ácido gordo poli-insaturado essencial da família ômega 3) e DHA (docosahexaenóico - ácido graxo vital para o desenvolvimento e manutenção da saúde), reduziu a frequência e intensidade da dor de cabeça em pacientes com enxaqueca, mostrou um ensaio clínico randomizado (quando os grupos de participantes são escolhidos de forma aleatória).

O estudo, publicado no jornal The BMJ e realizado por pesquisadores do Instituto Nacional para o Envelhecimento, nos Estados Unidos, mostrou que pessoas que consumiram uma dieta rica em EPA e DHA, quando comparadas às que consumiram mais ácido linoleico (ômega-6), tiveram reduções de 30% a 40% nas horas totais de dor de cabeça por dia, inclusive a versão mais intensa, e também a diminuição dos dias com o problema durante o mês. Segundo os pesquisadores, este é o primeiro ensaio controlado de tamanho moderado que mostra que mudanças específicas na dieta podem diminuir a dor física crônica.

Os ácidos EPA e DHA são encontrados em peixes gordurosos, como salmão, anchova, atum e sardinha. Já o linoleico é um ácido graxo poli-insaturado comumente derivado de milho, soja e óleos semelhantes, e presente em algumas nozes e sementes. Dietas industrializadas modernas tendem a ter baixo teor de EPA e DHA e alto teor de ácido linoleico. Os ácidos graxos são precursores das oxilipinas, que estão envolvidas na regulação da dor e da inflamação. Em outros tipos de testes, o ácido linoleico demonstrou o contrário: aumentou a dor.

O estudo contou com 182 pessoas, com idade média de 38 anos, sendo que 88% delas eram mulheres. Elas tinham uma média de 16,3 dias de dor de cabeça por mês e 5,4 horas de dor de cabeça por dia, sendo que dois terços (67%) preencheram os critérios para enxaqueca crônica (mais de 15 dias de dor de cabeça por mês).

Os participantes receberam kits refeições que incluíam peixes, vegetais, homus, saladas e itens de café da manhã, e foram aleatoriamente designados para uma das três dietas com EPA, DHA e ácido linoleico alterados como variáveis. O grupo controle tinha uma dieta com altos níveis de ácido linoleico e baixa quantidade de EPA e DHA, imitando a ingestão média dos americanos. Ambas as dietas aumentaram a ingestão de ômega-3: uma com altos níveis de EPA e DHA e de ácido linoleico (o grupo H3); outra tinha altos níveis de EPA e DHA e baixos de ácido linoleico (o grupo H3-L6). A frequência da dor de cabeça foi avaliada diariamente com um diário eletrônico.

Dietas + medicamento

Em comparação com a dieta de controle, as demais tiveram diminuídas as horas totais de dor de cabeça por dia e por mês. A dieta H3-L6 diminuiu mais os dias de dor de cabeça por mês do que a dieta H3 (-2,0, IC 95% -3,2 a -0,8), sugerindo benefício adicional da redução do ácido linoleico na dieta.

Para os pesquisadores, os resultados foram notáveis, já que estudos recentes com tratamentos farmacológicos para a prevenção da enxaqueca relataram reduções de aproximadamente 2 a 2,5 dias de dor de cabeça por mês no grupo de intervenção em comparação com o placebo. Já este novo estudo sugere que uma intervenção dietética pode ser comparável ou até melhor, e que intervenções dietéticas combinadas com tratamentos farmacológicos podem ter um benefício ainda maior.

Como limitações do estudo, os pesquisadores incluíram o uso de HIT-6 – um questionário padrão - como resultado primário, em vez de uma medida de dor mais específica. Apesar da pesquisa, os participantes não conseguiram reduzir o ácido linoleico na dieta para a meta de energia do estudo no grupo H3-L6. A maioria dos participantes era de mulheres relativamente jovens e os resultados podem não se aplicar a outras populações.

Na opinião dos pesquisadores, há uma necessidade não atendida de tratamentos seguros e eficazes para dor crônica. As descobertas deste novo estudo podem abrir portas para novas abordagens de controle de dor em humanos. Porém, eles admitem que ainda é cedo, mas que estudos adicionais podem tornar possível a definição de dietas que, acompanhadas de medicamentos, poderão melhorar a qualidade de vida dos pacientes com dor crônica.

Veja também

saúde alimentação

Leia também

Enxaqueca: conheça oito gatilhos comuns para as crises


Minha alimentação está péssima na pandemia. Como voltar aos trilhos?


Café da manhã rico em proteína pode prevenir fissura por alimentos calóricos


Estudo associa abuso na infância e tendência a ter enxaqueca