Pesquisa foi feita em ratos, mas pode trazer dados sobre o câncer de fígado em humanos
Redação Publicado em 03/10/2022, às 13h00
Um estudo feito em camundongos sugere que dietas ricas em fibras processadas, como as que são utilizadas pela indústria de alimentos, pode aumentar o risco de desenvolver câncer de fígado em algumas pessoas. O trabalho foi publicado no periódico Gastroenterology.
Os pesquisadores descobriram que o risco de desenvolver câncer de fígado entre cobaias com um defeito congênito que aumenta o teor de ácidos biliares era substancial quando eles ingeriam uma dieta enriquecida com fibras fermentáveis como a inulina.
Ainda que o estudo tenha sido feito em animais, os pesquisadores sugerem que a triagem dos níveis de ácidos biliares pode ajudar a prever o risco de câncer de fígado. Pessoas com níveis mais altos dessas substâncias podem, por exemplo, precisar ter cuidado com a quantidade de alimentos processados enriquecidos com fibras que ingerem.
A fibra é um carboidrato que fornece certos benefícios à saúde do corpo, mas não fornece muitas calorias. Vários alimentos são fontes naturais de fibras, como as frutas e vegetais. Há diferentes tipos de fibras, que fornecem benefícios específicos para a saúde. Fibra fermentável refere-se a tipos de fibra que as bactérias no intestino podem fermentar e quebrar. Em alguns casos, os fabricantes da indústria alimentícia as adicionam aos alimentos processados.
As técnicas de processamento de alimentos podem tornar a fibra fermentável, o que significa que ela pode ser decomposta por bactérias intestinais e produzir muitos subprodutos que são bons para sua saúde. No entanto, pessoas de subgrupos específicos podem precisar ter cuidado quando se trata de dietas ricas nesse componente, de acordo com os pesquisadores.
De acordo com a Sociedade Americana do Câncer, o câncer de fígado é responsável por mais de 700.000 mortes em todo o mundo a cada ano. E é cada vez mais grave nos EUA e projeções o colocam como o terceiro câncer mais mortal nesta década. Para o estudo, os autores pesquisaram como alguns componentes diferentes podem estar relacionados ao risco de desenvolver a doença.
Os pesquisadores examinaram camundongos que tinham um defeito vascular congênito específico, chamado desvio portossistêmico, que afeta o fluxo sanguíneo e a troca entre o órgão e o resto do corpo. Como consequência, esses camundongos tinham altos níveis de ácidos biliares, e um risco maior de câncer de fígado. Quando esses animais consumiram dietas enriquecidas com fibras fermentáveis, como a inulina, o risco de desenvolver câncer de fígado aumentou consideravelmente. A equipe acredita que isso tenha acontecido porque a dieta contribuiu para suprimir o sistema imunológico, impedindo o organismo de evitar o desenvolvimento do câncer.
O fígado produz ácidos biliares a partir do colesterol. E os ácidos biliares ajudam o corpo a digerir e absorver a gordura. O desvio portossistêmico é uma anomalia rara em humanos, mas, como é assintomática, é possível que sua incidência seja maior do que se imagina. A anomalia também é comum em pessoas que têm cirrose hepática – condição que pode evoluir para o câncer.
Os pesquisadores descobriram que os níveis de ácido biliar eram cerca de o dobro para os homens que desenvolveram câncer de fígado mais tarde na vida, o que pode abrir caminho para que, no futuro, isso seja usado em triagens para a prevenção da doença. Em seguida, o grupo analisou a ingestão geral de fibras e o risco associado de câncer de fígado em humanos. Entre os homens com altos níveis de ácidos biliares, a alta ingestão de fibras processadas foi associada a um risco aumentado de câncer de fígado.
As descobertas do estudo podem ajudar pessoas com doença hepática e diminuir suas chances de desenvolver câncer de fígado por modificações na dieta ou outras intervenções.
O estudo teve várias limitações, e mais pesquisas são necessárias antes que os especialistas possam entender como as dietas ricas em fibras processadas influenciam o risco de câncer de fígado. Primeiro, os dados iniciais são de estudos com camundongos, que podem fornecer muitas informações, mas são necessárias pesquisas em humanos.
Também é preciso considerar que os dados de pessoas, no estudo, eram apenas de homens, indicando que é necessário um acompanhamento mais diversificado. Os pesquisadores não conseguiram distinguir entre os tipos de fibra nos dados analisados de seres humanos. Isso significa que mais pesquisas são necessárias para entender se é realmente a fibra fermentável que contribui para o risco de câncer de fígado. Eles também recomendam mais pesquisas sobre a prevalência de desvios congênitos do fígado e sua ligação com doença hepática e câncer de fígado.
Estes são estudos desafiadores, uma vez que o câncer de fígado se desenvolve apenas em subgrupos de pessoas com doença hepática, e os efeitos das modificações na dieta precisam ser rastreados por longos períodos de tempo. No entanto, essas são questões importantes a serem abordadas, pois a síndrome metabólica e sua associação com o câncer de fígado são um problema crescente em vários países, como os EUA.
Fonte: MedicalNewsToday
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