Dificuldade para tomar decisões pode aumentar propensão ao suicídio

Pessoas com maior propensão ao suicídio tendem a fazer mais escolhas de alto risco, segundo experimentos

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h31 - Atualizado às 23h56

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Nem toda pessoa que enfrenta adversidades ou convive com a depressão tem uma tendência ao suicídio. Alguns indivíduos são mais vulneráveis do que outros, e por isso é tão difícil prevenir situações extremas, como a do repórter norte-americano que matou dois colegas e depois se suicidou.

Um estudo coordenada pelo professor de psiquiatria Fabrice Jollant, da Universidade McGill, no Canadá, mostra como a dificuldade para tomar decisões eficazes em situações de conflito predispõe as pessoas ao suicídio.

Diferente de outras pesquisas, focadas nos indivíduos que tentaram suicídio, esta avaliou parentes próximos desses indivíduos, como pais e irmãos. A ciência já sabe que ter alguém que se matou na família é um fator de risco, por isso submeteu os familiares diversos testes neuropsicológicos.

Um dos testes era um jogo de apostas, em que era preciso ganhar o máximo de dinheiro possível. Os participantes tinham que selecionar cartas de diferentes montes. Enquanto algumas pilhas de cartas eram mais seguras – pagavam menos, mas também geravam perdas menores, outras envolviam mais dinheiro e um risco mais alto de perder tudo.

Os indivíduos que não tinham suicidas na família preferiram as cartas das pilhas mais seguras, que traziam recompensa só a longo prazo. Já parentes de indivíduos que tinham tentado se matar continuavam fazendo escolhas de alto risco, mesmo depois de inúmeras tentativas. Isso, segundo os pesquisadores, demonstra maior dificuldade em aprender com as experiências.

Exames de ressonância magnética do cérebro também confirmaram que certas áreas do córtex pré-frontal envolvidas com a tomada de decisões são ativadas de forma diferente nos indivíduos com suicidas na família.

Segundo o autor do trabalho, publicado no Journal of Psychiatric Research, essas pessoas também teriam dificuldade em encontrar soluções alternativas para seus problemas. Por isso, diante de uma depressão grave, veriam a morte como uma possibilidade de por fim ao sofrimento de imediato.

Outro experimento mostrou que os familiares de suicidas que não apresentavam problemas psiquiátricos se saíram bem em outros testes, demonstrando capacidade de controlar seus pensamentos. Isso, segundo os pesquisadores, seria uma forma de contrabalancear a dificuldade de tomar decisões. Quem sabe, no futuro, terapias que ajudem a estimular essa qualidade possam ajudar na prevenção do suicídio.

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