Em sociedades pouco monetizadas, a satisfação com a vida vem de fontes diferentes
Redação Publicado em 09/02/2021, às 16h44
Você acha que crescimento econômico é fundamental para o bem-estar população? Ou, pensando em termos individuais, será que ter dinheiro é essencial para se sentir satisfeito ou feliz? Segundo um estudo publicado no periódico Plos ONE, essa é uma crença comum, mas não dá para dizer que funciona para 100% das pessoas.
Para chegar à conclusão, pesquisadores da Universidade McGill, no Canadá, e da Universidade Autònoma de Barcelona, na Espanha, decidiram investigar os níveis de bem-estar subjetivo em sociedades onde o dinheiro desempenha um papel mínimo e que, em geral, são excluídas das famosas pesquisas globais de felicidade.
Para isso, eles entrevistaram quase 700 indivíduos de 20 a 50 anos que vivem nas Ilhas Salomão, na Oceania, e em Bangladesh – ambos países de renda muito baixa. Foram incluídos na pesquisa cidadãos de áreas rurais e urbanas, e eles eram contatados em momentos inesperados, para garantir que as respostas obtidas fossem realmente espontâneas.
Os resultados mostram que a maioria dos entrevistados relatou um grau de felicidade comparável ao encontrado nos países escandinavos, que normalmente têm as taxas mais altas do mundo.
Para os pesquisadores, isso é prova de que níveis altos de bem-estar subjetivo podem ser alcançados com monetização mínima, o que desafia a ideia de que crescimento econômico é o único caminho possível para melhorar a satisfação com a vida de populações de baixa renda.
Vale dizer que em Bangladesh o número de homens entrevistados foi bem maior, porque a cultura local dificulta a abordagem de mulheres, o que constitui uma limitação do estudo. Já nas Ilhas Salomão a proporção foi equilibrada, e as respostas não variaram de maneira significativa entre os sexos, segundo os autores.
Os dados também sugerem que nas comunidades onde o dinheiro era mais usado, como nas áreas urbanas de Bangladesh, os níveis de felicidade eram mais baixos. Para os pesquisadores, é possível que, com o aumento da monetização, fatores sociais e econômicos reconhecidos em países industrializados passam a ter um papel mais importante para uma comunidade.
Para a equipe, há maneiras de alcançar a felicidade que não estão relacionadas a riqueza material. Isso pode ter uma implicação importante para o meio ambiente, por exemplo. Nos locais menos monetizados, as pessoas relatavam que passar mais tempo com a família e em contato com a natureza eram os fatores que mais geravam bem-estar.
"Quando as pessoas estão confortáveis, seguras e livres para aproveitar a vida em uma comunidade forte, elas ficam felizes - independentemente de estarem ganhando dinheiro ou não", afirma o pesquisador Chris Barrington-Leigh, professor da McGill.
Ainda que seja difícil viver numa sociedade pouco monetizada hoje em dia, saber que o conforto material não é o único caminho para se alcançar a felicidade pode trazer um certo alívio para as pessoas num momento como o atual, em que muitos muitos países estão longe de crescer economicamente.
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