Uso pontual de medicamento antes do consumo pode gerar redução duradoura
Redação Publicado em 23/02/2023, às 09h00
Você exagera nos drinques, acorda com a convicção de que nunca mais irá beber tanto de novo, só para voltar a exagerar na oportunidade seguinte? Esse é um padrão comum, conhecido como “beber pesado episódico”, ou “binge drinking”: o consumo de cinco doses ou mais de álcool em uma única ocasião. Para as mulheres, que são mais sensíveis aos efeitos da bebida, quatro doses ou mais já configuram beber pesado.
Mesmo quem consome álcool dessa forma apenas no fim de semana pode ter consequências graves – imediatas e a longo prazo. Por isso, cada vez mais, pesquisadores têm buscado formas de ajudar as pessoas a evitar esse padrão de consumo. Um estudo recém-publicado no American Journal of Psychiatry pode trazer esperanças.
Pesquisadores avaliaram um novo tipo de uso para um remédio que, há anos, tem sido prescrito para pessoas com transtorno por uso de álcool, a naltrexona. A substância tem a capacidade de reduzir a euforia provocada pela bebida, o que, por consequência, diminui o desejo de beber mais. O medicamento é indicado para uso diário, mas, neste estudo, foi avaliado pontualmente, ou seja: apenas nas ocasiões em que a pessoa iria beber.
Para o experimento, foram selecionados 120 homens interessados em reduzir seu consumo de álcool, mas sem um problema grave de dependência. Uma parte do grupo recebeu naltrexona e a outra, um placebo, sendo que os próprios pesquisadores não sabiam quem estava recebendo o quê. Todos os participantes receberam, ainda, orientações sobre como reduzir o consumo de álcool.
O estudo durou 12 semanas. Depois desse período, os homens que receberam naltrexona relataram ter bebido significativamente menos e em número menor de ocasiões do que o grupo que recebeu placebo. E essa redução durou pelo menos seis meses, ou seja, foi duradoura. O efeito colateral mais comum foi náusea.
Para os pesquisadores, os resultados são animadores. Mas é preciso que sejam replicados em outros estudos e com grupos diferentes – o atual contou apenas com homens gays e transsexuais. De qualquer forma, eles acreditam que essa pode ser uma alternativa com maior aderência do que um tratamento de uso diário.
O mais importante é que as pessoas saibam que existem tratamentos bem estudados para quem bebe pesado, com e sem uso de medicamentos. Quanto antes o padrão nocivo de uso de álcool for combatido, menores serão as consequências à saúde e à vida, uma vez que o excesso de bebida aumenta a vulnerabilidade das pessoas a uma série de riscos.
Confira:
Segundo os critérios da 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, os sintomas que indicam a existência ou a gravidade do transtorno de uso de álcool são os seguintes, levando em consideração os últimos 12 meses da sua vida:
Qualquer um dos sintomas acima pode ser um motivo de preocupação. Mas ter respondido “sim” a 2 ou 3 perguntas já configura um transtorno leve de uso de álcool. Se você se identificou com 4 a 5 critérios, você tem um transtorno moderado do uso de álcool. Se foram 6 ou mais critérios, você tem um transtorno grave.
A boa notícia é que, mesmo para casos mais graves, o tratamento baseado em evidências permite alcançar e manter a recuperação. Isso inclui terapias comportamentais, grupos de apoio mútuo e/ou uso de medicamentos. Segundo especialistas, ainda que a abstinência seja o maior objetivo do tratamento, não é o único caminho existente para controlar o transtorno, de acordo com estudos recentes.
Vale reforçar que não existe uma fórmula única, ou seja, uma abordagem de tratamento que funcione para todo mundo. Por isso é tão importante buscar um profissional especializado. Antes disso, porém, é preciso reconhecer que existe um problema, e que não há razão nenhuma para ter vergonha de admiti-lo para outras pessoas.
Ouça também:
Exagerou no álcool? Veja 5 medidas para aliviar o mal-estar
Como saber se você tem problemas com álcool? Veja 13 sinais
Dar um tempo no álcool emagrece, melhora a pele e a saúde mental
Estudo associa beber pesado e transtorno alimentar em meninas