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“Durma com moderação”: quantidade de sono pode afetar o cérebro

O Alzheimer é a principal causa de declínio cognitivo em idosos, contribuindo para cerca de 70% dos casos de demência - iStock
O Alzheimer é a principal causa de declínio cognitivo em idosos, contribuindo para cerca de 70% dos casos de demência - iStock

Redação Publicado em 20/10/2021, às 17h30

Equilíbrio. Essa é uma palavra que escutamos bastante e, talvez, para muitos, uma meta a ser atingida. Como tantas outras coisas boas da vida, o sono também precisa de equilíbrio e moderação.

Pelo menos é o que diz um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington (Estados Unidos), publicado na revista Brain. De acordo com as descobertas, tanto aqueles que dormem muito pouco quanto os que têm longos períodos de sono experimentam um maior declínio cognitivo quando comparados às pessoas que dormiram uma quantidade moderada – mesmo quando os efeitos da doença de Alzheimer precoce foram levados em conta. 

Segundo os pesquisadores, os dados mostram que há uma faixa média, ou um “ponto ideal”, para o tempo total de sono, em que o desempenho cognitivo se manteve mais estável com o passar do tempo. Em contrapartida, períodos curtos e longos de sono foram associados com um pior desempenho do cérebro, talvez devido à insuficiência ou à má qualidade do sono. 

Alzheimer, sono e cognição

O Alzheimer é a principal causa de declínio cognitivo em idosos, contribuindo para cerca de 70% dos casos de demência. O sono ruim é um sintoma comum da condição e uma das forças capazes de acelerar a progressão do caso. 

Assim, para analisar melhor – e separadamente – esses três aspectos, os autores rastrearam a função cognitiva de um grande grupo de idosos ao longo de vários anos, analisaram os níveis de proteínas relacionadas ao Alzheimer e as medidas de atividade cerebral durante o sono. Tudo isso para gerar dados capazes de ajudar a entender melhor a complicada relação entre sono, Alzheimer e função cognitiva. 

Os voluntários do estudo passaram por avaliações clínicas e cognitivas anualmente, fornecendo uma amostra de sangue a ser testada para a variante genética da doença de alto risco.

Além disso, todos os participantes também deram amostras de fluido cefalorraquidiano para medir os níveis de proteínas de Alzheimer, e cada um dormiu com um pequeno monitor de eletroencefalograma (EEG) preso à testa por quatro a seis noites para medir a atividade cerebral durante o sono.

Confira:

No total, os pesquisadores conseguiram dados de sono e Alzheimer de 100 participantes cuja função cognitiva havia sido monitorada por uma média de quatro anos e meio. A maioria das pessoas (88) não apresentava prejuízos cognitivos, 11 estavam levemente prejudicadas e uma apresentava prejuízo cognitivo leve. A idade média era de 75 anos. 

O “ponto ideal” 

Diante dos resultados, os autores observaram uma relação em forma de “U” entre o sono e o declínio cognitivo.Em geral, os escores relacionados à cognição diminuíram para os grupos que dormiram menos de 4,5 ou mais de 6,5 horas por noite, enquanto os índices permaneceram estáveis para aqueles que ficaram no meio dessa faixa de tempo.

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Essa associação manteve-se verdadeira na medição das fases específicas do sono, incluindo o sono REM e o período em que a pessoa estava sonhando. Além disso, a relação permaneceu mesmo após o ajuste para fatores que podem afetar tanto o sono quanto a cognição, como idade, sexo e os níveis de proteínas de Alzheimer. 

Para os pesquisadores, foi particularmente interessante descobrir que, não apenas aqueles com quantidades curtas de sono, mas também os que dormiam demais, tiveram mais declínio cognitivo. Isso sugere, segundo eles, que a qualidade do sono pode ser fundamental em oposição à quantidade (duração) total

Entretanto, os autores alertam ainda que, apesar dos achados, as necessidades de sono de cada pessoa são únicas, ou seja, indivíduos que acordam se sentindo descansados após dormirem curtos ou longos períodos de temponão devem se sentir pressionados a mudar seus hábitos. Porém, aqueles que não estão dormindo bem, precisam estar cientes de que os problemas de sono muitas vezes podem – e devem – ser tratados.

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