Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h46 - Atualizado às 23h54
Você está com o coração partido porque acabou de sair de um relacionamento? Faça algo que você acredita ser útil para aliviar sua dor emocional. Qualquer coisa. De acordo com uma pesquisa recém-publicada, o efeito placebo pode influenciar regiões cerebrais associadas à regulação emocional e, como consequência, diminuir a percepção do sofrimento.
Rompimentos amorosos costumam ser experiências extremamente dolorosas, e funcionam como gatilho para problemas psicológicos e até suicídio. Segundo os autores do estudo, da Universidade de Colorado Boulder, nos Estados Unidos, esse tipo de sofrimento está associado a um risco 20 vezes maior de depressão.
Como há evidências de resultados positivos do placebo para diversas doenças físicas, a equipe decidiu avaliar se a crença em algo que pudesse ajudar a superar um rompimento teria efeito também. Para isso, os pesquisadores selecionaram 40 voluntários que tinham sido rejeitados pelos parceiros até seis meses antes da abordagem.
Os participantes foram convidados a ir ao laboratório levando a foto do ex, ou da ex, e também a de um amigo do mesmo sexo. Enquanto passavam por um exame de ressonância magnética funcional, les tinham que olhar a foto e contar como tinha sido a separação. Em seguida, tinham que olhar a foto do amigo. Por último, ainda foram submetidos a um estímulo doloroso, um toque quente no antebraço. Em todos os casos, eles tinham que dizer como se sentiam, numa escala de 1 (muito mal) a 5 (muito bem).
A primeira constatação do estudo é que as regiões do cérebro ativadas pela dor física e pela emocional foram as mesmas. Ou seja: levar um fora causa uma dor real.
Em seguida, todos foram convidados a usar um spray nasal. Para metade do grupo, os pesquisadores disseram que era apenas uma solução salina. Já a outra metade ouviu que aquilo era um analgésico poderoso para combater dores emocionais.
De volta à ressonância, os participantes voltaram a ver as fotos dos ex e, de novo, foram submetidos ao estímulo doloroso no braço. O grupo que recebeu o suposto analgésico não apenas sentiu menos dor física, como se sentiu melhor emocionalmente, e a resposta do cérebro se modificou. As áreas envolvidas na modulação de emoções e de substâncias ligadas ao bem-estar tiveram atividade aumentada, enquanto a área associada à dor ficou mais fraca.
O estudo foi financiado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental norte-americano, com apoio adicional da Fundação Nacional de Ciência, na Suíça, e os resultados foram publicados no Journal of Neuroscience.