Ela não tem cura e os sintomas mais comuns são cólica, menstruação irregular, dor pélvica e infertilidade
Cármen Guaresemin Publicado em 21/07/2021, às 16h00
Endometriose é uma doença de saúde reprodutiva muito comum que ocorre quando o tecido semelhante ao revestimento uterino (o endométrio) cresce fora do útero. Os sintomas mais comuns são cólica, menstruação irregular, dor pélvica e infertilidade. Por não ter uma causa definida, ela é muitas vezes chamada de "doença misteriosa".
Diversas teorias relacionam o efeito positivo da alimentação sobre a progressão e a agressividade da endometriose. Essa relação ocorre porque ela é uma doença estrogênio-dependente, o que significa que os níveis deste hormônio no organismo podem interferir na progressão da doença. Assim, estudos diversos relacionam a melhora das dores com algumas intervenções nutricionais pontuais, como aumento do consumo de fibras, substituição de gorduras de animais por óleos de boa qualidade e consumo adequado de vitaminas antioxidantes como A, C, E e complexo B.
A melatonina é um hormônio produzido no sistema nervoso central pela glândula pineal, situada no cérebro, que ajuda a controlar o ciclo natural de horas de sono e de vigília e, por isso, é conhecida como "o hormônio do sono", regulando os ciclos circadianos (dormir-acordar). Sua produção é estimulada pela escuridão e inibida pela luz. Tem papel benéfico e recuperador na qualidade do sono. Quantidades muito pequenas são encontradas em alimentos como carnes, grãos, frutas, legumes e até no vinho tinto.
Uma vez sintetizada, a melatonina não é armazenada na glândula pineal, mas é logo liberada para a corrente sanguínea e outros fluidos corpóreos como bile, saliva, liquor, sêmen, líquido amniótico e fluido folicular. “Já é documentado que a melatonina é um excelente antioxidante natural. A partir dos 30, 40 anos poderá prevenir - ou pelo menos retardar - doenças relacionadas ao envelhecimento, os radicais livres e os processos inflamatórios. Ela também ajuda no tratamento da endometriose”, afirma Arnaldo Cambiaghi, especialista em ginecologia e obstetrícia, com certificado de atuação na área de reprodução assistida, e responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO.
O tratamento da endometriose profunda é sempre cirúrgico, feito por videolaparoscopia, e extremamente complexo, exigindo médicos qualificados e experientes neste tipo de intervenção.
Estudo feito por médicos franceses do CHU (Centre Hospitalier Universitaire) Clemont Ferrand, em 2018, mostrou que a cirurgia de endometriose reduz não só a dor pélvica, como aquela sentida durante a relação sexual, além de melhorar a qualidade de vida das pacientes. Os pesquisadores avaliaram a dor sentida antes e depois da cirurgia laparoscópica. Além disso, analisaram as respostas que as pacientes deram em um questionário sobre qualidade de vida e os resultados foram animadores.
A cirurgia exige do médico consultante um conhecimento abrangente do problema, pois pode atingir vários órgãos. Conhecida por alguns como ‘doença sem cura’, pois mesmo tratada pode reaparecer, a endometriose tem esta fama por receber de alguns profissionais um acompanhamento inadequado e insuficiente, principalmente nos casos de endometriose ovariana e endometriose infiltrativa profunda.
“Nesses casos é fundamental o acompanhamento de profissionais especializados em infertilidade e que tenham experiência em cirurgia pélvica para uma resolução satisfatória”, frisa o especialista.
Como muitas outras doenças, a endometriose é cercada de muitos mitos e crenças. Cambiaghi comenta alguns a seguir:
Mito: não é fácil diagnosticar a endometriose. De fato, é comum que médicos demorem vários anos para diagnosticar a endometriose.
Verdade: infelizmente, não há ainda cura. No entanto, conforme dito, existem tratamentos que podem controlar ou eliminar a dor por algum período de tempo.
Mito: não é normal que os períodos sejam extremamente dolorosos. Se a mulher está experimentando uma dor severa menstrual que não pode ser aliviada pela medicação para a dor, a endometriose pode ser a causa. Marque uma consulta para discutir isso com seu médico.
Verdade: infelizmente, algumas mulheres com endometriose podem não apresentar nenhum sintoma, o que dificulta ainda mais para fechar o diagnóstico.
Mito: a endometriose pode ser tratada, sim, por meio de medicamentos, terapia hormonal e cirurgia.
Verdade: diversas terapias complementares, como naturopatia, acupuntura, yoga e fitoterapia podem ajudar a lidar melhor com a endometriose e melhorar a qualidade de vida.
Parcialmente verdade: cerca de 30% das mulheres com endometriose têm dificuldade em engravidar. A cirurgia para remover as células endometriais, que crescem fora do útero, pode aumentar as chances de gestação.
Mito: este é um dos maiores mitos sobre o problema. Enquanto não há cura conhecida para a endometriose, existem vários tratamentos. A gravidez pode oferecer algum alívio dos sintomas, mas eles tendem a retornar.
Mito: a endometriose é definida como “tecido do tipo endometrial fora do útero”. A remoção do útero e/ou dos ovários sem retirar os implantes endometrióticos fora do útero não eliminará os sintomas da endometriose.
Verdade: exercício é bom tanto para a saúde geral quanto para lidar com a endometriose. Recomenda-se que a mulher exercite-se por pelo menos 30 minutos por dia. Porém, com atividades físicas que não causem dor.
Mito: muitos médicos ainda acreditam nisso. O que pode explicar essa crença é que antes da introdução da laparoscopia, na década de 1970, a endometriose só podia ser diagnosticada durante uma laparotomia, uma grande cirurgia envolvendo uma incisão de 10 cm a 15 cm no abdômen. Os riscos e os custos de uma laparotomia significavam que ela geralmente era feita apenas como último recurso. Porque apenas aquelas na faixa dos 30 ou 40 anos foram operadas, a doença só foi encontrada em adolescentes.
Verdade: a dor pode ser intermitente ou contínua. Às vezes ocorre durante ou após a atividade sexual também e pode surgir antes ou depois da menstruação.
Mito: até meados do século 20, pensava-se que o problema existia apenas em mulheres brancas. Isso acabou sendo resultado da falta de cuidados médicos contínuos para muitas mulheres afrodescendentes. Hoje, ginecologistas entendem que qualquer mulher, de qualquer etnia, adolescente ou mais velha, pode experimentar a dor da endometriose.
Mito: embora a endometriose possa ser encontrada principalmente na região pélvica, ela foi descoberta tão longe quanto o olho e o cérebro. A doença fora da região pélvica é mais rara, mas pode acontecer.
Mito: embora ginecologistas devam saber um pouco sobre a endometriose, a maioria recebe muito pouco treinamento e não é especialista. Para conhecer os melhores tratamentos e obter os melhores resultados cirúrgicos, as mulheres com a doença devem procurar um profissional que tenha se especializado no problema. Encontrar um especialista em endometriose pode ser fundamental no sucesso do tratamento.
Parcialmente verdade: embora a endometriose possa piorar para algumas mulheres ao longo do tempo, para outras pode desaparecer espontaneamente ou permanecer inalterada. Mulheres com endometriose devem procurar tratamento, mas as decisões não devem ser tomadas quando estão em pânico. Geralmente não há uma corrida contra o tempo, e as mulheres podem aprender sobre o diagnóstico e as opções com calma.
Mito: a diminuição dos níveis de estrogênio durante a menopausa pode ajudar a minimizar os sintomas da endometriose, mas não necessariamente. Há mulheres na menopausa natural e cirúrgica que continuam apresentando sintomas.
Parcialmente verdade: como o estrogênio é o combustível para a endometriose, existe uma crença de que as mulheres com diagnóstico de endometriose não devem usar a terapia de reposição hormonal (TRH) durante a menopausa. Algumas podem usá-la sem problemas, enquanto outras não.
Verdade: os sintomas crônicos nas mulheres com a síndrome do intestino irritável (SII) podem ser confundidos com a endometriose e vice-versa. Isso ocorre, geralmente, devido à proximidade da endometriose com o intestino, a condição é comumente confundida com problemas com o intestino. Mesmo a constipação severa pode imitar os sintomas.
Mito: até o momento, existem várias teorias sobre a origem da endometriose e muitas opiniões divergentes. Como o que causa a doença é desconhecido, não há como as mulheres a evitarem. Além disso, as mulheres não causam endometriose a elas mesmas e o problema não é contagioso.
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