Endometriose: por que é considerada a doença da mulher moderna?

Em live com Jairo Bouer, o ginecologista Mauricio Abrão falou sobre como a condição afeta a vida e a sexualidade da mulher

Redação Publicado em 19/10/2021, às 15h00

Entre os sintomas da endometriose estão: cólicas, menstruação irregular, infertilidade e dor pélvica - iStock

Nos últimos anos, a endometriose vem sendo caracterizada como “a doença da mulher moderna”. Mas por qual razão ela ganhou essa classificação? Para debater sobre o assunto, Jairo Bouer fez uma live com o ginecologista e especialista em endometriose Mauricio Abrão para abordar os impactos da doença na vida da mulher, inclusive em sua sexualidade. 

O estresse como gatilho

Na prática, a endometriose é provocada pela implantação do endométrio – ou seja, o tecido que reveste o útero – fora da cavidade uterina. Com isso, ele pode aparecer e permanecer nas trompas, em cima do ovário, na cavidade abdominal e, até mesmo, em outras partes do corpo. 

Todo esse fenômeno provoca muita dor e, na maioria das vezes, a endometriose é uma das principais causas de dor pélvica na mulher e uma das principais – senão a principal – razão para a infertilidade feminina.

(A doença) é extremamente prevalente, ou seja, 10 a 15% das mulheres têm. Isso significa que mais de 7 milhões de brasileiras sofrem com a condição e, além disso, ela tem um forte impacto na economia da saúde, gerando gastos semelhantes ao da diabetes, por exemplo”, fala Mauricio.

O especialista explicou que a doença acontece por duas questões básicas:

  1. A mulher menstrua e a menstruação acaba fluindo através das trompas e se implantando na cavidade abdominal;  
  2. Pela facilitação do sistema imunológico, diretamente relacionada com o estresse.

Com todas essas informações, basta refletir: quem é a mulher moderna? É aquela que engravida menos, mais tarde e que tem, atualmente, essa questão do estresse muito presente no cotidiano, o que acaba sendo um gatilho para o desenvolvimento do problema. 

7 anos até o diagnóstico

Durante a live, Jairo Bouer perguntou sobre a média de idade das meninas que chegam ao consultório ginecológico com queixa de dor. Para explicar esse ponto, Mauricio citou um trabalho que estudou quanto tempo existe entre o começo dos sintomas e o diagnóstico da doença: 

Os resultados dessa pesquisa mostraram que demora-se cerca de sete anos. E um detalhe importante: quando os sintomas começam antes dos 20 anos, esse tempo de diagnóstico salta para uma média de 12 anos. Ou seja, a mulher demora para procurar um médico por causa disso e ele, por sua vez, demora para pensar no problema” 

Confira:

Quando se fala em sintomas, os especialistas utilizam os chamados "6D´s" no momento da avaliação: dor na menstruação, na relação sexual, para evacuar, para urinar, dificuldade para engravidar e dor entre as menstruações. 

De acordo com Mauricio, 90% das mulheres com endometriose apresentam sintomas e de 40% a 50% das adolescentes com cólica incapacitante têm ou estão sob risco de desenvolver a doença. “Qual a frequência daquelas meninas que faltam à aula por causa de cólica? Não é tão raro assim”, alerta. 

Os impactos na sexualidade

Não é difícil encontrar por aí mulheres se queixando de dores durante as relações sexuais. Talvez, em um primeiro momento, podemos logo pensar: “será que ela está suficientemente estimulada, dilatada e excitada?”. Porém, essa dor pode ser um sinal da endometriose. 

Mauricio explicou que, quando definimos a dor na relação sexual, podemos dividir em dois tipos: a dor na penetração e a dor na profundidade. As dores na penetração são aquelas situações em que a vagina está seca ou a própria mulher está em uma fase mais retraída ou, até mesmo, quando existe algum corrimento ou inflamação. Essa dor não tem nenhuma relação com a que caracteriza a doença.

A dor que pode sinalizar a presença da endometriose é a que chamamos de profundidade, quando o pênis encosta no fundo da vagina”, explica o especialista. 

A grande questão é que muitas mulheres dizem que não sentem dor na relação porque elas se acostumaram a fazer sexo em posições que não levam ao desconforto. Uma dessas, por exemplo, é quando o parceiro está por trás em uma relação vaginal, o que encurta a vagina e o pênis encosta mais na região atrás do útero. Para mulheres que sofrem com endometriose, essa posição pode ser bastante dolorosa.

Por isso que o médico tem que saber perguntar sobre essa dor de profundidade e a mulher precisa procurá-lo para discutir sobre, já que uma das causas importantes pode ser a endometriose”, enfatiza Mauricio.

A importância do tratamento

Segundo Mauricio, “quando a gente consegue tratar – e às vezes uma intervenção cirúrgica é necessária – e conseguimos retirar toda a doença, o impacto positivo na qualidade de vida da mulher é estrondoso. Ela se descobre em um grau de felicidade que ela não se permitia ter antes”. 

Além disso, como a endometriose é uma doença de fundo imunológico, muitas vezes, se aquele estresse que está por trás for avaliado, existe a possibilidade desse foco de investimento do sistema imune que existe naquele local ir para outro, os chamados órgãos alvos. Por isso, é preciso olhar o todo e estimular uma série de ações complementares para fazer a proteção contra outras doenças.

Assista o vídeo completo:

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