Não tem nada melhor do que não ter hora para sair da cama nos fins de semana. Tanto que, nos EUA, virou "trend" no TikTok postar vídeos desse momento de prazer matinal, que ficou conhecida pela simpática expressão escocesa “hurkle-durkle”.
Assim como a “procrastinação de vingança na hora de dormir” (ficar acordado até tarde para compensar o tempo que você passou trabalhando ou cuidando dos outros durante o dia), ficar "de preguiça" na cama serve como recompensa para o sofrimento que é ter de levantar cedo de segunda a sexta.
Para muitos, enrolar na cama é sinônimo de autocuidado. Mas será que exagerar na dose pode causar algum problema?
Para quem sofre de insônia crônica, sim. Em uma reportagem do The New York Times, especialistas em medicina do sono sugerem moderação nesse deleite. Segundo o neurologista norte-americano Alcibiades Rodriguez, do centro de medicina do sono da NYU Langone Health, nosso corpo “aprende” a ficar na cama acordado. Em outras palavras, você pode ter a tendência de repetir o comportamento involuntariamente à noite, quando precisa levantar cedo no dia seguinte.
Para outra especialista citada no jornal norte-americano, a neurologista Marjorie Soltis, da Universidade de Duke, 30 minutos de preguiça na cama é um bom limite. E ela adverte que essa enrolada a mais não deve ser encarada como um substituto para o sono, que é vital para a saúde física e mental.
De acordo com dados divulgados recentemente pela Fundação Oswaldo Cruz, 72% dos brasileiros sofrem de distúrbios do sono, sendo que o mais comum é a insônia. Nesse cenário, é importante saber que mudanças no comportamento são a melhor conduta para tratar o problema.
Outra recomendação dos especialistas é que muita gente aproveita esse período extra na cama para ler as notícias ou os posts dos amigos nas redes sociais, e acaba ficando estressado. Por isso vale a pena pensar duas vezes antes de ligar o smartphone nessas ocasiões. Afinal, o tempo de ócio também é precioso, e precisa ser preservado.
Outra tendência similar do TikTok é sobre o desejo de passar o dia todo na cama, cujo nome técnico é “clinomania”. No inglês, a expressão usada é “bed rotting”.
Para os especialistas em sono, a prática pode ser inofensiva se ocorrer de vez em quando, depois de uma semana mais difícil de trabalho, por exemplo. Já se você faz isso sempre, é bom se questionar se essa vontade crônica de não fazer nada não sinaliza algo preocupante, como um sintoma de depressão.
Assim como a mania de ficar enrolando na cama, passar o dia deitado pode prejudicar o sono de quem já sofre para dormir cedo. Dar uma volta ao ar livre, em contato com a luz natural, é algo que ajuda a regular nosso relógio biológico e um conselho comum dos médicos para quem sofre de insônia. Se for o seu caso, talvez seja bom evitar essa tentação.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin