Estudos têm mostrado que a discriminação também é um problema de saúde pública
Tatiana Pronin Publicado em 23/05/2023, às 18h00
Cada vez mais estudos evidenciam que o racismo é um problema grave de saúde pública, uma vez que enfrentar a discriminação é algo que torna as pessoas mais vulneráveis a diversas doenças.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles, que têm estudado os impactos do racismo estrutural na saúde da população norte-americana há muitos anos, explicam que a discriminação cotidiana afeta as respostas do organismo ao estresse, que por sua vez levam a um estado de inflamação sistêmica e consequências adversas à saúde como um todo.
Eles também relatam que essas experiências afetam a conectividade nas regiões frontais do cérebro, responsáveis por funções como raciocínio, atenção e memória. E até mesmo o sistema gastrointestinal é afetado, uma vez que a inflamação passa a atuar na comunicação entre o cérebro e o intestino, levando a modificações na microbiota que deixam o organismo mais propenso a certas condições de saúde.
Um estudo recente feito nos EUA, por exemplo, mostrou que mulheres pretas com 20 anos ou mais têm um risco 26% maior de sofrer com doença coronariana, em comparação com mulheres brancas, e também morrem mais em consequência disso.
De acordo com a American Heart Association (Associação Norte-Americana para o estudo do Coração), ser vítima de racismo aumenta a pressão arterial, o nível de inflamação e o risco de doenças como obesidade e diabetes. Todas essas condições, juntas, são uma forte ameaça ao coração.
Além disso, a discriminação tem um efeito indireto também, ao reduzir o acesso a serviços de saúde e programas de prevenção e tratamento.
Uma revisão de pesquisas publicada em 2019 encontrou associações positivas entre relatos de discriminação racial e muitas condições de saúde física e mental, como as que você vê abaixo:
Um estudo qualitativo publicado na JAMA Network Open, em 2020, dá uma ideia do quanto o problema é percebido desde cedo, e cria feridas de difícil cicatrização. Ao ouvir grupos de adolescentes falarem sobre o tema, pesquisadores perceberam os sentimentos de desamparo dos entrevistados quando expostos ao racismo proveniente da internet.
As consequências de todo esse processo a gente vê nas estatísticas sobre transtornos mentais e suicídio entre jovens. Segundo cartilha publicada no ano passado pelo Ministério da Saúde, no Brasil, a cada 10 adolescentes que tiram a própria vida, seis são negros. Em 2016, adolescentes negros de 10 a 19 anos apresentaram um risco 67% maior de suicídio em relação a brancos da mesma faixa etária.
Nos EUA, segundo dados publicados no periódico Pediatrics, as taxas de suicídio vêm crescendo entre meninos negros de 5 a 12 anos – o risco, nessa faixa etária, é o dobro daquele observado em brancos.
De acordo com a American Psychological Association (APA), falar sobre as experiências pode ajudar uma pessoa a processar sentimentos de angústia após uma situação traumática ligada ao racismo.
Da mesma forma, sentimentos de pertencimento e coesão social podem agir como um colchão contra emoções negativas, por isso se envolver em grupos de ajuda mútua ou ativismo pode ser um fator de proteção.
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