Um estudo recente revela que o medo de ficar de fora, ou Fomo (do inglês “Fear of Missing Out”) não tem a ver apenas com o receio de perder momentos divertidos. A origem dessa sensação estaria relacionada ao medo de perder oportunidades de conexão com pessoas que são importantes para nós.
A pesquisa, publicada no periódico Journal of Personality and Social Psychology, sugere que o Fomo surge pela ansiedade sobre como nossa ausência pode afetar nossos relacionamentos e nosso senso de pertencimento em grupos sociais.
Segundo o trabalho, essa ansiedade pode surgir mesmo quando os eventos perdidos não são particularmente agradáveis.
Os pesquisadores conduziram sete experimentos com um total de 5.441 participantes. Esses experimentos exploraram vários cenários de eventos perdidos para desvendar os fatores psicológicos que impulsionam o Fomo. Veja o que os resultados mostraram:
A pesquisa também destacou a natureza complexa do Fomo, mostrando que ele é distinto de outros fenômenos sociais, como arrependimento ou sentimentos de ostracismo. Enquanto o arrependimento se concentra nas recompensas imediatas de uma experiência perdida e o ostracismo está relacionado à exclusão ativa, o Fomo gira em torno da ansiedade sobre relacionamentos sociais futuros.
Essa distinção ajuda a explicar por que as pessoas podem sentir Fomo mesmo em eventos desagradáveis perdidos, se perceberem esses eventos como oportunidades de conexão entre seus pares.
“O FOMO não se trata do evento perdido em si: se perdemos um jantar de grupo em um restaurante, não ficamos realmente chateados pela comida e bebida que não consumimos,” explicou Jacqueline Rifkin, autora do estudo e professora assistente da Universidade Cornell.
O que nos incomoda é o fato de termos perdido a chance de nos conectar, criar memórias e estreitar laços com pessoas importantes para nós. Ainda mais, nos preocupamos com o significado de que outras pessoas que valorizamos tenham conseguido se conectar, criar memórias e estreitar laços entre si. O que isso significa para nós (e para nossos relacionamentos sociais) por termos ficado de fora? Isso pode, de alguma forma, prejudicar nossos relacionamentos ou nosso senso de pertencimento? Este é o cerne da ansiedade.”
Um detalhe importante é que o estudo identificou uma intervenção capaz de reduzir o Fomo: refletir sobre um momento passado de conexão social. Participantes que realizaram esse exercício simples relataram níveis mais baixos de Fomo ao se depararem com postagens em redes sociais sobre eventos perdidos.
Essa intervenção sugere que relembrar momentos anteriores de pertencimento pode funcionar como um amortecedor contra o sofrimento emocional associado à exclusão social percebida.
O efeito foi particularmente notável em comparação a outras estratégias, como imaginar conexões futuras ou adotar uma perspectiva de terceira pessoa, que mostraram benefícios menores e menos consistentes.
“Como o FOMO é realmente uma ansiedade sobre nossos relacionamentos e senso de pertencimento, faz sentido que lembrar-se de conexões fortes existentes e de momentos anteriores em que você sentiu pertencimento possa ajudar a atenuar isso. Além disso, oferece uma técnica relativamente simples, quase como um pequeno exercício de mindfulness, que podemos usar quando o FOMO surge.”
Embora o estudo forneça insights significativos sobre as raízes sociais e psicológicas do Fomo, ele não está isento de limitações. A maioria das pessoas foram recrutadas em plataformas online, limitando a diversidade de origens culturais e faixas etárias. Além disso, embora os resultados sugiram relações causais, alguns dados são correlacionais, dificultando o estabelecimento de vínculos definitivos de causa e efeito. Assim, outros estudos precisam confirmar as descobertas.
“Alguns podem se perguntar se o FOMO é um fenômeno novo que surgiu com as redes sociais ou o uso de celulares, ou se é algo antigo com um nome novo,” acrescentou Rifkin.
“Pessoalmente, minha perspectiva é que as pessoas têm buscado pertencimento desde o início dos tempos. Mas o que é novo ou moderno é o quanto de nossas vidas sociais aparece nas redes sociais e o quão interconectados podemos estar o tempo todo. Assim, as lembranças sobre o que fizemos ou deixamos de fazer, e a ansiedade sobre o que isso pode significar para nós, tornaram-se onipresentes e inescapáveis.”
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin