Envelhecimento da pele: entenda o processo e como adiá-lo

O processo de envelhecimento da pele é um fenômeno biológico, complexo e contínuo

Cármen Guaresemin Publicado em 30/06/2022, às 13h00

Entre as principais causas do envelhecimento estão tabagismo, sedentarismo e exposição desprotegida ao sol - iStock

A pele é o maior órgão do corpo humano, tendo como principal função a proteção dos tecidos. E, claro, com o tempo, ela também envelhece. O processo de envelhecimento da pele é um fenômeno biológico, complexo e contínuo. Isso pode não ter um impacto físico, mas, para muitas pessoas, a questão estética é muito importante, especialmente no mundo ocidental. Assim, vários recursos dermatológicos despontam a cada dia como promessas de tratamento para reverter e retardar o envelhecimento da pele.

Para entender melhor como ocorre esse processo e quais os tratamentos atuais disponíveis para retardar os efeitos do tempo, entrevistamos a dermatologista Paola Pomerantzeff. Confira:

Em que consiste o processo de envelhecimento cutâneo?
O envelhecimento da pele se divide em intrínseco e extrínseco. Envelhecimento intrínseco, ou cronológico, inclui os processos de glicação e oxidação da pele. A glicação é a deterioração da estrutura da pele, nesse processo ocorre a danificação de fibras de colágeno e elastina (importantes para a pele se manter jovem e firme). Quanto maior a idade, maior a glicação.
Já a oxidação altera o funcionamento das células da pele, como se as peças de um relógio ficassem antigas e enferrujadas. Tudo fica mais lento. As células da pele estão em constante renovação, e quando há oxidação, elas se regeneram de maneira mais lenta e de forma menos efetiva.

Apesar de irreversíveis com o avanço da idade, podemos retardar os efeitos da glicação e oxidação da pele, minimizando o aparecimento de rugas. O segredo está em hábitos saudáveis, comer bem (evitar doces que causam glicação), e fazer atividade física regular (para evitar a oxidação). O envelhecimento extrínseco da pele é decorrente de fatores externos, como a luz do sol, poluição, tabagismo, etilismo, má alimentação e estresse (tanto físico quanto emocional). O uso de protetor solar FPS 30 diariamente, uma rotina de hábitos de vida saudáveis e uma rotina de skincare adequada para o seu tipo de pele podem prevenir o envelhecimento extrínseco.

Associado ao envelhecimento de pele, há o envelhecimento facial. As estruturas internas da face também envelhecem: há perda de gordura da face, diminuição das fibras musculares e reabsorção óssea. Com isso (com a diminuição do “conteúdo da face”) a nossa pele “cai”. Essa “pele caída” é representada por exemplo pela formação do “bigode chinês” num estágio mais leve e pelo “bulldog” num envelhecimento mais avançado. Para prevenir e/ou reverter esse envelhecimento, precisamos agir em todas as estruturas da face.

Há uma causa principal para o envelhecimento da pele?
O principal fator de envelhecimento extrínseco da pele é, sem dúvida, à exposição ao sol de maneira desprotegida. A radiação solar provoca a “degradação do colágeno” causando flacidez e rugas, além de causar manchas na pele. Fora isso, pode levar ao aparecimento do câncer de pele. O envelhecimento intrínseco, determinado pela genética de cada pessoa, não temos como alterar, mas podemos minimizar com hábitos de vida saudáveis.

Quais são as alterações fisiológicas desse envelhecimento?
O envelhecimento do corpo, assim como da pele, se dá pelo fato das células começarem a morrer e não serem substituídas por novas, como ocorre na juventude. Fisiologicamente, o envelhecimento está associado à perda de tecido fibroso da pele (perda de colágeno), à taxa mais lenta de renovação celular e à diminuição da rede de vasos que nutrem a região. Dependendo da genética e estilo de vida de cada pessoa, as funções fisiológicas da pele podem diminuir em até 50% até a meia idade.

Quais são as principais causas do processo de envelhecimento?
Como dito anterioremente, as principais causas são hábitos de vida inadequados: tabagismo, etilismo, sedentarismo, dieta hiperglicêmica, grande exposição à poluição, exposição desprotegida ao sol, estresse físico e/ou mental.

Quais são as características do envelhecimento cutâneo?
A pele pode se apresentar de diferentes formas frente ao envelhecimento. Mas algumas características são pele flácida, ressecada e sem viço pela diminuição do colágeno e do ácido hialurônico; manchas, pintas e sardas; rugas (mais ou menos profundas, dependendo do grau de envelhecimento da pessoa).

Explique melhor como o processo de glicação participa do envelhecimento cutâneo?

A exposição crônica a níveis elevados de glicose pode levar ao processo de glicação - iStock

A glicose é um combustível para nossas células. Porém, a exposição crônica a níveis elevados de glicose pode levar ao processo de glicação. A consequência principal desse processo é o estresse oxidativo da célula que leva ao envelhecimento precoce dessa célula. Os níveis elevados de glicose podem ser devido ao açúcar exógeno (presente nos alimentos) ou endógeno (no caso do diabetes não tratado).

Quais são os tipos de rugas mais comuns?
Existem as rugas dinâmicas e as rugas estáticas. As rugas dinâmicas são as “rugas de expressão” porque aparecem com o movimento da face. Elas são as primeiras a serem notadas pelas pessoas e não aparecem quando se está em repouso. Elas surgem na testa quando levantamos as sobrancelhas, entre as sobrancelhas quando fazemos “cara de bravos” e ao redor dos olhos quando sorrimos (os famosos “pés de galinha”). Também podem surgir ao redor da boca (“código de barras”) e no nariz (algumas pessoas franzem o nariz ao sorrirem). São as mais comuns. As rugas estáticas são visíveis mesmo sem o movimento facial, e mais comuns em rostos mais maduros.

Atualmente, uma pessoa consegue bons resultados em tratamentos estéticos sem ter de partir para uma cirurgia plástica?
Sim, atualmente a dermatologia é capaz de prevenir o processo natural de envelhecimento da pele, e consegue também a reversão desse processo. Os tratamentos para cada caso são diferentes. Variam de acordo com o grau de envelhecimento de cada um e qual a abordagem a ser realizada: prevenção ou reversão. Os resultados são surpreendentes. Lembrando que a associação de técnicas e a capacitação adequada do médico dermatologista é fundamental para resultados satisfatórios e naturais.

Pode citar alguns tratamentos novos disponíveis no país e o que eles fazem, resumidamente.
Ultrassom microfocado (o nome do aparelho original é Ulthera): é um aparelho que “firma” a pele. Único procedimento não invasivo aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration é uma agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) e Anvisa para lifting da pele. Por meio do calor liberado pelo ultrassom microfocado, há estímulo de produção de novas fibras de colágeno. Ele cria pontos profundos de coagulação nos tecidos mais fundos que são estruturais para a pele. Como resultado, temos a pele mais firme e com mais colágeno. Pode ser feito em toda a face, inclusive nas pálpebras, pescoço e colo. Não tem downtime (tempo de inatividade), a pele não fica marcada. Não há nenhuma restrição após o procedimento. Deve ser realizado uma vez ao ano. Adoro esse procedimento para combater a perda de colágeno (em torno de 1% ao ano a partir dos 30 anos de idade).

Microagulhamento com radiofrequência: o aparelho (Morpheus 8) tem agulhas que atingem até 7 mm de profundidade e liberam calor quando estão “dentro da pele”. As agulhas fazem o microagulhamento na superfície da pele, melhorando cicatrizes, poros dilatados, viço, linhas finas. Já a energia térmica gerada pela radiofrequência em diferentes camadas da pele (pois as profundidades variam de 1 mm até 7 mm dependendo da região a ser tratada), levam à produção de novas fibras de colágeno e “reorganização dos tecidos”. O resultado é uma pele mais firme.

Bioestimuladores de colágeno injetáveis (ácido L Poli Láctico - Sculptra): são injetados na pele com agulha ou cânula e causam uma reação inflamatória na pele que leva à produção de novas fibras de colágeno. Eles aumentam a espessura das fibras antigas de colágeno e estimulam o aparecimento de novas. Com isso, a pele fica mais “firme”, mais “colada”, e com mais viço.

Toxina botulínica (“botox) da face, do pescoço e do contorno da face. A aplicação do botox nos músculos das mímicas faciais faz com que esses músculos relaxem e não se contraiam. Com a interrupção dos movimentos da mímica, a pele para de ser “vincada” e as rugas dinâmicas desaparecem. Tem um músculo no pescoço, o platisma, que “sobe para a face”. Quando aplicamos “botox” nele, o seu relaxamento, além de melhorar as linhas do pescoço, melhora o contorno facial porque o platisma para de “puxar o rosto para baixo”.

Skinbooster: é um ácido hialurônico que tem função de “hidratante injetável “, ele “puxa água para a pele”, mas não “dá volume”. Pode ser feito em rugas estatísticas da face, do pescoço, do colo. Pode ser usado nas mãos para melhora da qualidade da pele.

Preenchimento com ácido hialurônico: o preenchimento pode ser feito em pontos de sustentação para “lift” da face. O ácido hialurônico impede a morte celular espontânea das células de gordura da face impedindo a perda de volume e consequentes “bigode chinês” e “bulldog”. Além disso, quando injetado profundamente, pode ajudar a evitar a absorção óssea da face.

Também existem lasers, microagulhamento (puro) e peelings para tratamento de manchas. Enfim, o ideal, cada vez mais, é associar técnicas, para atuar em todas as “camadas e estruturas da face” e, com isso, alcançar resultados naturais e excelentes, parecendo, que a “pessoa tem sorte, tem genética boa”. Quanto mais técnicas associadas, melhores os resultados, e mais naturais, mantendo a fisionomia e a individualidade de cada um. 

Fonte: Paola Pomerantzeff é membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina Santo Amaro, a médica é especialista em Dermatologia pela Associação Médica Brasileira e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. Instagram: @drapaoladermatologista

Veja também:

envelhecimento beleza tratamento pele dermatologia

Leia também

4 alimentos para consumir e ter uma pele brilhante, e 4 para evitar


Suplemento de colágeno funciona? Especialistas respondem


Confira 7 alimentos que fazem bem para a pele


11 alimentos que ajudam a prevenir o envelhecimento da pele