Escrever sobre experiências traumáticas em cinco sessões supervisionadas de 30 minutos se mostrou tão eficaz quanto as terapias mais recomendadas hoje em dia para combater o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). É o que revela um estudo publicado esta semana no periódico Jama Psychiatry.
O TEPT é uma condição que acomete muita gente após a vivência de eventos traumáticos, como doenças graves, acidentes e violência, entre outros exemplos. Os sintomas mais comuns, e com frequência incapacitantes, são:
- ficar revivendo a situação traumática o tempo todo;
- tendência a evitar tudo que possa fazer lembrar do acontecimento;
- pesadelos constantes;
O novo tratamento em estudo chama-se "terapia de exposição escrita". Ela envolve pedir que os pacientes escrevam sobre pensamentos e sentimentos ocorridos durante o evento traumático e depois conversem com o terapeuta sobre o processo de escrita. Nas sessões posteriores, eles são convidados a escrever sobre como o evento afetou suas vidas.
No estudo, 178 veteranos com o transtorno receberam a terapia de exposição escrita ou a terapia de exposição prolongada, que consiste em oito a 15 sessões de terapia com duração de 90 minutos, nas quais o paciente imagina vividamente a situação aterrorizante e, em seguida, entre as sessões, confronta lembretes sobre o ocorrido.
As duas terapias foram igualmente eficazes e apenas 12,5% dos indivíduos abandonaram o grupo de exposição escrita antes de completarem o tratamento, em comparação com 35,6% no grupo de exposição prolongada. Em 2018, um estudo da mesma equipe descobriu que a terapia de exposição escrita era tão eficaz quanto a terapia de processamento cognitivo, outro tratamento de primeira linha, ou seja, mais altamente recomendado para TEPT.
Anotar memórias traumáticas pode ser mais fácil para algumas pessoas, especialmente quando elas sentem vergonha ou constrangimento pelo que lhes aconteceu. Vale destacar que nos estudos os pacientes foram solicitados a escrever à mão, o que leva mais tempo e permite que eles se envolvam com a memória.
A terapia foi inspirada no trabalho de James Pennebaker, um psicólogo do Texas que, na década de 1980, começou a experimentar o que chamou de “escrita expressiva”, e descobriu que as pessoas que escreviam regularmente sobre experiências de vida negativas tinham sistemas imunológicos mais fortes e iam menos ao médico.
O primeiro estudo da terapia de exposição escrita como tratamento para o TEPT apareceu em 2012. Ela funciona da mesma forma que outros tratamentos focados no trauma: faz com que o paciente confronte a memória traumática, diminuindo seu medo e evitação, e permitindo-lhes identificar equívocos como autoculpa. Um método mais recente, a dessensibilização e reprocessamento com uso de movimentos oculares, também tem se tornado mais popular.
Mas todos os três tratamentos são demorados, exigindo sessões de 60 a 90 minutos durante três meses ou mais. Um grande número de pacientes – uma média de 20%, e às vezes até 50% desistem antes de completar o tratamento, segundo estudos. Assim, a nova modalidade pode se tornar mais atraente e acessível, caso mais estudos tragam resultados positivos, como o atual.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin