Tatiana Pronin Publicado em 02/04/2022, às 12h00
Este ano, famílias que participarem do Censo Demográfico irão responder perguntas sobre a presença de integrantes com transtorno do espectro autista (TEA). A iniciativa representa o primeiro passo para possíveis avanços, no futuro, no acesso ao diagnóstico precoce e tratamento adequado – ambos fundamentais para quem está no espectro, ou seja, possui algum grau de alteração do comportamento social, comunicação e linguagem.
Nos EUA, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgou, no fim do ano passado, um relatório em que estima a prevalência do transtorno em 1 em cada 44 crianças de 8 anos de idade. A pesquisa anterior, de 2020, indicava uma proporção de 1 para 54 crianças. Esse crescimento vem sendo observado há muitos anos, e as justificativas para isso incluem maior conscientização e melhora nas ferramentas de diagnóstico.
Para a Associação de Amigos do Autista, entre outras organizações, mapear o transtorno na população brasileira pode ajudar na elaboração de políticas públicas. Faltam estatísticas confiáveis no país, mas é consenso que os diagnósticos também têm aumentado, e isso tem reduzido ainda mais o acesso das famílias a profissionais capacitados.
Além dos atendimentos médicos regulares, é preciso que a criança com TEA conte com uma equipe multidisciplinar, com psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, entre outros profissionais, e todos eles devem ser especializados no transtorno. “O tratamento é um pouco pesado no início, e mesmo para quem tem condições financeiras é difícil”, afirma o neurologista infantil Erasmo Casella, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Quem depende do SUS (Sistema Único de Saúde) não tem acesso ao tipo de tratamento que é referendado por estudos e evidências. E, de acordo com o neurologista, mesmo quem possui plano de saúde às vezes precisa entrar na Justiça para garantir cobertura.
Mais importante ainda é o diagnóstico precoce. Como a plasticidade cerebral (capacidade de o cérebro se modificar) é bem maior nas crianças pequenas, o ideal é que o tratamento seja iniciado o quanto antes. Casella conta que é importante começar a intervenção mesmo que a suspeita ainda não tenha sido confirmada, tamanho o prejuízo que adiar 3 ou 6 meses pode representar no desenvolvimento do indivíduo. “Algumas crianças podem ter uma melhora absurda, tornando-se funcionais”, comenta. O desafio é convencer as famílias dessa urgência, já que muitas se negam aceitar o diagnóstico, ou levam muito tempo para isso.
Confira:
O termo transtorno do espectro autista (TEA) foi adotado em substituição a “autismo” há alguns anos, passando a englobar diversas condições que, até então, eram referidas como autismo infantil, autismo de alto funcionamento, transtorno desintegrativo da infância e síndrome de Asperger, entre outros nomes.
Pessoas dentro do espectro têm déficits na comunicação ou na interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento, como as chamadas estereotipias, movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais.
Acredita-se que o TEA seja causado por múltiplos fatores, genéticos e ambientais. É importante ressaltar que não há evidências científicas que relacionem o transtorno a vacinas, nem ao tiomersal ou alumínio presentes em alguns imunizantes.
É muito comum que pessoas com TEA tenham outras condições associadas (comorbidade), como epilepsia, distúrbios de sono, ansiedade, depressão, agressividade ou transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
O diagnóstico é clínico, ou seja, depende da avaliação do indivíduo por um ou mais especialistas, e existem alguns testes padronizados para isso. Mas não há nenhum exame de sangue ou de imagem que possa confirmar a presença do transtorno. De acordo com a organização Autismo e Realidade, em geral são avaliados sintomas como:
- Dificuldade para interagir socialmente, como manter o contato visual, expressão facial, gestos, expressar as próprias emoções e fazer amigos.
- Dificuldade na comunicação, com o uso repetitivo da linguagem e bloqueios para começar e manter um diálogo.
- Alterações comportamentais, como manias, apego excessivo a rotinas, ações repetitivas (também conhecidas como estereotipias), interesse intenso em assuntos específicos e dificuldade de imaginação.
Veja também: