Campanha lança dicionário anticapacitista com objetivo de combater o preconceito relacionado à condição
Redação Publicado em 02/06/2022, às 14h00
Pode até passar despercebido, mas algumas palavras que usamos no dia a dia podem potencializar um preconceito. Transtornos mentais, como a esquizofrenia, são estigmatizados ante termos como: imbecil, retardado, demente, surtado e lunático.
Para mudar esse cenário, a Janssen – empresa farmacêutica da Johnson & Johnson – criou a campanha “Ouçam Nossas Vozes”, que promove a conscientização sobre a doença. O projeto ainda traz um dicionário anticapacitista sobre saúde mental.
O dicionário nasceu de uma curadoria de palavras feita a partir da vivência de famílias e de pacientes com esquizofrenia e seus respectivos médicos. Foram compartilhadas as principais expressões e palavras que ouvem e acreditam reforçar o preconceito.
O foco da iniciativa é alertar a população sobre a importância de combater os estigmas relacionados aos transtornos mentais, como a esquizofrenia, além de promover o debate sobre a busca por uma linguagem mais inclusiva.
A luta contra o capacitismo, definido como um termo discriminativo que faz referência à falta de aptidão de uma pessoa com alguma deficiência (física ou mental) em realizar tarefas cotidianas, é longa e complexa.
Segundo a equipe envolvida no projeto, o preconceito tem início já na forma como as pessoas usam a palavra “esquizofrenia”, impactando no entendimento das doenças mentais, aumentando o estigma e dificultando o acesso a um tratamento adequado.
Assim, o dicionário procura mostrar a origem das expressões para que possamos compreender seus efeitos e adotar alternativas mais inclusivas. O material pode ser acessado na íntegra e de forma gratuita no site da Janssen.
A esquizofrenia é uma doença crônica incapacitante e pode fazer com que a pessoa tenha dificuldades nos estudos e no trabalho. Ela fundamentalmente se caracteriza por uma percepção distorcida da realidade.
Entre os principais sintomas estão delírios, alucinações, alterações de comportamento, redução do afeto com as pessoas, isolamento social e dificuldade em iniciar e manter atividades.
A esquizofrenia também pode estar associada a outras condições, como depressão, transtorno bipolar e uso de substâncias, como álcool, drogas e medicamentos.
Os primeiros sinais de esquizofrenia surgem geralmente na casa dos 20 anos. Também é possível que a esquizofrenia comece a se manifestar durante a adolescência, mas o diagnóstico nesses casos pode ser confundido por questões próprias da fase, como falta de motivação, irritabilidade e queda no desempenho escolar. É incomum que sejam feitos diagnósticos tanto para crianças quanto para adultos com mais de 45 anos.
Confira:
Conheça alguns exemplos de termos que o dicionário da campanha traz e que devem ser evitados e/ou substituídos para deixar a linguagem mais inclusiva:
Grande parte das pessoas usa o termo “surto” quando vivencia mudanças de comportamentos inesperadas ou desproporcionais. Porém, diferente do que acontece durante um excesso de raiva em uma briga de trânsito, por exemplo, o surto psicótico é um dos sintomas que caracterizam a esquizofrenia.
Indivíduos diagnosticados com a condição podem apresentar alucinações, ansiedade, delírios, pensamento ou comportamento desorganizados, agressividade e dificuldade de comunicação. Portanto, chamar alguém de “surtado(a)” pode potencializar ainda mais o preconceito.
Faça a troca por: “Sem controle”, “Está impulsivo”, “Está descontrolado”
Apesar da esquizofrenia provocar sintomas de embotamento afetivo, dificuldade de demonstrar sentimentos e emoções e mudança da expressão facial, ela não causa nenhuma mudança na fisionomia ou nos traços.
Quando uma pessoa diagnosticada com esquizofrenia está com o tratamento e com os sintomas controlados, não é possível notar se ela vive ou não com esse transtorno. Se uma pessoa compartilhar com você o diagnóstico, não faça esse tipo de comentário.
Faça a troca por: na realidade, não há substituição para esta expressão. Afinal, como já foi mencionado, a esquizofrenia não tem “cara”.
A palavra “lunático” é derivada do latim “lunaticus” que, em sua origem, fazia referência a quadros de epilepsia ou de loucura, ambas doenças que se acreditava serem provocadas pela lua. Atualmente, essa conotação pode diminuir o caráter médico dos transtornos mentais e desencorajar a busca por um acompanhamento adequado. Usando essa expressão, a pessoa acaba insinuando que o outro é imprevisível, perigoso e não tem controle sobre si.
Faça a troca por: não há substituição para esta expressão. Por isso, é melhor não a utilizar.
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