Redação Publicado em 04/11/2021, às 11h00
Você é daquelas pessoas que vão até o fim quando começam algo ou que desistem diante dos primeiros obstáculos? Sente que tem dificuldade para aprender algo; sente-se cansado para assimilar novas informações e vai procrastinando a situação até onde consegue? Você não está sozinho. Mas saiba que essas sensações e a vontade de desistir podem ser explicadas pela neurociência.
Ao estarmos diante de problemas e avaliarmos que não teremos como lidar com ele, desistir é uma opção que surge muitas vezes, e isso desde a primeira infância. Segundo os neurocientistas, nosso cérebro tem duas maneiras de pensar: uma automatizada, capaz de listar os estímulos do ambiente com episódios arquivados na memória e dar respostas sem se esforçar. A segunda forma é o modo controlado, que utilizamos enquanto fazemos tarefas cognitivas complexas, sendo que o estudo é uma delas.
A neurocientista Livia Ciacci explica que o sistema automático, por exemplo, usamos para atravessar a rua, quando reagimos à uma poça de água na pista ou quando emitimos uma opinião sem pensar. Já o controlado é capaz de manter uma série de dados no foco e deliberar para uma tarefa nova ou uma decisão.
No modo controlado, gastamos mais energia para pensar, pois usamos neurônios específicos para não só entender como resolver uma tarefa em particular. Quanto mais tempo nos concentramos nessa tarefa, mais os neurônios trocam informações entre si. O que faz com que as células da glia, que são vizinhas aos neurônios, liberem uma molécula que impede a hiperativação dos neurônios, a adenosina, o que freará todo o sistema, literalmente.
“Imagine que você está caminhando com um colega, vocês conversam e andam tranquilamente, mas peça para ele calcular 125 x 74 de cabeça imediatamente – com certeza ele vai parar de andar. A energia e o esforço serão direcionados para a atividade pensante difícil”, exemplifica Livia.
O que também impacta a disposição de persistir ou desistir é a quantidade de decisões que uma pessoa tem de tomar durante o dia. O cérebro tem uma capacidade limitada de decidir. E isso vai diminuindo ao longo de um dia. Livia conta que não se trata de ser ou não ser bem-dotado intelectualmente, mas de compreender os limites biológicos e ordená-los da melhor maneira possível.
“Muitos estudos testaram os desempenhos de grupos de pessoas em resolução de problemas, com diferenças entre os que fizeram ou não escolhas (decisões) logo antes do problema ser proposto. Todos eles demonstraram que as pessoas que tomaram mais decisões antes foram as mais propensas a desistir e ter um pior desempenho no problema”, comentou a especialista.
O cansaço que vem em decorrência da fadiga mental ocorrerá em todas as vezes que a atividade intelectual for demasiada, pois isso é algo biológico. Livia lembra que a boa notícia é que as causas e costumes podem ser alterados a favor do aprendizado.
Entender como você aprende melhor, eleger quais aprendizados vão trazer impactos positivos para a vida e criar uma estratégia de estudos ou práticas que não conflitem com momentos em que você já esteja saturado de decisões tomadas ao longo do dia são ações possíveis, segundo Livia.
Ela conta que a explicação disso pode estar no sistema de recompensas do cérebro, e que é necessário treiná-lo para que ele entenda que, após o empenho, aprender é prazeroso e traz ganhos. Dar passos claros e celebrar cada avanço, mesmo que pequeno, ajuda muito. Conforme os avanços sejam bem-sucedidos, o cansaço diminuirá.
Como a tendência do cérebro é poupar esforços, e isso também pode ser uma barreira para seu desenvolvimento pessoal, fica fácil entender a importância de incitar o cérebro durante toda a vida também por meio da prática de treino cognitivo ou ginástica cerebral.
Por tudo isso, Livia lembra que é importante investir em atividades que tragam novidade, variedade e grau de desafio crescente, além de manter uma rotina nos estudos, fazer um planejamento prévio, e segui-lo. Isso facilitará o aprendizado e manterá o cérebro mais sereno, despreocupado com o que fazer – ou seja, livre da obrigação de decidir a cada momento o que deve ser feito.
Para deixar sua rotina mais favorável, Livia sugere:
Fonte: Livia Ciacci, mestre em Sistemas Neuronais e neurocientista do Supera.
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