Estudo encontra risco maior para 17 tipos de câncer; mas também há uma boa notícia
Tatiana Pronin Publicado em 07/08/2024, às 18h00
Um estudo identificou 17 tipos de câncer que parecem ser mais comuns na Geração X e nos Millennials do que nas gerações anteriores.
Entre adultos nascidos entre 1920 e 1990, há uma diferença significativa na incidência das taxas de câncer e dos tipos da doença, de acordo com estudo publicado na revista The Lancet Public Health.
Um dos exemplos que se destaca é o do câncer de corpo de útero (não o de colo de útero). A taxa de incidência é cerca de 169% maior para quem nasceu na década de 1990 em comparação com quem nasceu na década de 1950 – levando-se em conta pessoas na mesma idade.
O médico William Dahut, diretor científico da American Cancer Society e um dos autores do estudo, conta que o trabalho investigou a incidência de uma variedade de cânceres na população.
“Ele [o estudo] analisou, na verdade, 34 tipos diferentes de câncer, sendo que em 17 vimos um aumento na incidência e em 5, um aumento na mortalidade em jovens adultos com menos de 50 anos.”
Esses 17 tipos de câncer são:
- cárdia gástrica (transição entre esôfago e estômago)
- intestino delgado
- mama com receptor de estrogênio positivo
- ovário
- fígado e ducto biliar intra-hepático (em mulheres)
- cânceres orais e de faringe não associados ao HPV (em mulheres)
- ânus
- cólon e reto
- corpo uterino
- vesícula biliar e vias biliares
- rim e pelve renal
- pâncreas
- mieloma
- gástrico não-cárdia
- leucemia
- sarcoma de Kaposi, que afeta o revestimento dos vasos sanguíneos e linfáticos (em homens)
Os pesquisadores, da American Cancer Society e da Universidade de Calgary, no Canadá, analisaram dados de mais de 23 milhões de pacientes diagnosticados com 34 tipos de câncer e mais de 7 milhões de pessoas que morreram de 25 tipos de câncer.
Os dados, que vieram da North American Association of Central Cancer Registries e do US National Center for Health Statistics, incluíam adultos de 25 a 84 anos de janeiro de 2000 a dezembro de 2019.
Os pesquisadores calcularam as taxas de incidência de câncer e as taxas de mortalidade por câncer por anos de nascimento, separados por intervalos de cinco anos, de 1920 a 1990.
A taxa foi cerca de duas a três vezes maior entre aqueles nascidos em 1990 do que entre aqueles nascidos em 1955 para cânceres de pâncreas, rim e intestino delgado em homens e mulheres e para câncer de fígado em mulheres.
Entre os tipos de câncer, a taxa de incidência aumentada entre pessoas nascidas em 1990 variou de 12% a mais para câncer de ovário a 169% a mais para câncer de corpo uterino em comparação com as coortes de nascimento que tiveram as menores taxas de incidência.
Para os pesquisadores, o aumento da incidência de certos cânceres entre jovens adultos nos EUA tem a ver com mudanças no estilo de vida ou exposição a determinados fatores ambientais.
Os pesquisadores descobriram que 10 dos 17 cânceres com aumento de incidência em coortes de nascimento mais jovens estão relacionados à obesidade: cólon e reto, rim e pelve renal, vesícula e vias biliares, corpo uterino, pâncreas, cárdia gástrica, mama com receptor de estrogênio positivo, ovário, mieloma e fígado e ducto biliar.
Como o câncer requer tempo para se desenvolver, um câncer relacionado à obesidade em um jovem adulto pode estar associado à sua saúde na infância.
Os pesquisadores também descobriram que as taxas de mortalidade por câncer aumentaram em gerações mais jovens, junto com as taxas de incidência para câncer de fígado entre mulheres, corpo uterino, vesícula biliar, testículo e cânceres de cólon e reto.
Mas o estudo também teve algumas boas notícias: os cânceres que estão estáveis ou até em declínio nas gerações mais jovens incluem aqueles relacionados ao tabaco, como o câncer de pulmão, e infecções por HPV, como o câncer cervical.
A “queda acelerada” na tendência de incidência de câncer cervical mostra a eficácia da vacinação contra o HPV entre mulheres nascidas por volta de 1990. E as tendências descendentes para cânceres relacionados ao tabaco acompanham um rápido declínio na prevalência do tabagismo entre as gerações mais jovens.
Outra notícia positiva é que, cada vez mais, a medicina dispõe de ferramentas que permitem o diagnóstico de vários tipos de câncer em estágios iniciais, o que leva a maiores chances de sobrevivência.
Em 2021, a Força-Tarefa dos Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF, na sigla em inglês) reduziu a idade recomendada para iniciar a triagem de adultos de risco médio para cânceres de cólon e reto de 50 para 45 anos.
Essa orientação é para aqueles que não têm sintomas e que não têm diagnóstico de câncer colorretal, histórico de pólipos no cólon ou reto, ou histórico pessoal ou familiar de distúrbios genéticos que os colocam em maior risco.
A força-tarefa também atualizou suas recomendações de triagem de câncer de mama para adultos de risco médio, aconselhando uma mamografia a partir dos 40 anos e até os 74 anos. A recomendação anterior pedia mamografias a partir dos 50.
De qualquer forma, os pesquisadores recomendam que haja maior conscientização sobre sinais e sintomas de câncer entre jovens adultos. A maioria dos tipos de câncer pode incluir sangramentos anormais (como por exemplo o vaginal ou nas fezes).
Também devem ser observadas dores persistentes que a pessoa não costumava sentir, bem como linfonodos ou crescimentos anormais sem explicação. Fadiga e perda de peso também são sintomas que podem indicar um câncer avançado.
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