Estilo de vida reduz risco genético de câncer, diz estudo

Genes não determinam nosso destino: hábitos saudáveis podem evitar a doença

Redação Publicado em 13/08/2021, às 18h51

Ter bons hábitos, como se exercitar, evitar o cigarro e a bebida alcoólica, pode diminuir a incidência do câncer - iStock

Será que adotar um estilo de vida saudável pode evitar o câncer em quem possui risco genético? Diversos estudos têm mostrado que sim, como um trabalho publicado recentemente pela Associação Americana para a Pesquisa do Câncer  (AACR, na sigla em inglês).

Segundo pesquisadores da Universidade de Nanjing, na China, ter bons hábitos, como se exercitar, evitar o cigarro e a bebida alcoólica, pode diminuir a incidência da doença em indivíduos com alto risco genético de câncer. Para chegar à conclusão, eles calcularam as pontuações de risco poligênico (PRS), ou seja, a análise da propensão genética com base em mudanças específicas em áreas do DNA.

Genética e estilo de vida

Eles utilizaram informações de genótipo de 202.842 homens e 239.659 mulheres do UK Biobank, com participantes da população geral recrutados na Inglaterra, Escócia e País de Gales entre 2006 e 2009. Esse banco de dados inclui informações de estilo de vida dos participantes, como tabagismo, consumo de álcool, índice de massa corporal, frequência de atividade física e tipo de dieta adotada.

O estilo de vida dos participantes foi classificado como desfavorável (zero a um fator saudável), intermediário (dois a três fatores saudáveis) ou favorável (quatro a cinco fatores saudáveis). As pontuações foram calculadas para 16 tipos de câncer em homens e 18 em mulheres. A equipe, então, usou métodos estatísticos para combinar esses escores em uma única medida de risco de câncer, com base na proporção relativa de cada doença na população em geral.

Propensão x hábitos

"Um escore de risco poligênico indicando o risco de um certo câncer é importante, mas não o suficiente”, afirma o geneticista Marcelo Sady, diretor e consultor científico da Multigene, que não participou do estudo.

De acordo com os resultados, 97% dos pacientes tiveram um alto risco genético de pelo menos um tipo de câncer, o que sugere que quase todos são suscetíveis a pelo menos um tipo de câncer. “Isso indica ainda a importância da adesão a um estilo de vida saudável para todos”, diz o geneticista.

Pacientes com estilo de vida desfavorável e com risco genético para câncer mais alto tiveram 2,9 vezes (nos homens) e 2,3 vezes (nas mulheres) mais probabilidade de desenvolver câncer do que aqueles com um estilo de vida favorável.

Entre os pacientes com alto risco genético, a incidência de câncer em cinco anos foi de 7,2% em homens e 5,7% em mulheres com estilo de vida desfavorável, em comparação com 5,5% em homens e 3,6% em mulheres com estilo de vida favorável.

“As porcentagens diminuídas são comparáveis ​​ao risco de câncer em indivíduos com risco genético intermediário. Tendências semelhantes foram observadas em todas as categorias de risco genético, sugerindo que os pacientes poderiam se beneficiar de um estilo de vida saudável, independentemente do risco genético”, conta Sady.

Confira:

Sobrepeso e obesidade

A médica nutróloga Marcella Garcez, da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), observa que o índice de massa corporal não é o único nem o melhor modo de diagnosticar sobrepeso e obesidade, pois não leva em consideração a composição corporal.

“Porém, o cálculo serve de alerta e um IMC entre 25 e 30 Kg/m2 já pode sinalizar a necessidade de adotar estratégias para retornar à faixa de normalidade de peso e, assim, evitar o desenvolvimento de inúmeras doenças causadas por equívocos alimentares como obesidade, síndrome metabólica, dislipidemias, diabetes, doenças cardiovasculares, osteoarticulares, digestivas e, também, alguns tipos de câncer”, diz a médica.

Alimentos na prevenção do câncer

Veja quais os alimentos funcionais recomendados pela nutróloga para reduzir o risco não só de câncer, mas também de outras doenças crônicas degenerativas, se consumidos com frequência:

- sementes oleaginosas

- cereais e grãos integrais

- azeite de oliva

- vegetais como tomate, alho, cebola, verduras e folhas verdes e crucíferas, tubérculos e raízes, frutas vermelhas e alaranjadas

- algas

Garcez diz que esses alimentos têm ação antioxidante, imunomoduladora, ajudam a controlar o colesterol e a glicemia. Mas ela reforça que, apesar das funcionalidades, eles não se prestam a substituir medicamentos ou estratégias terapêuticas para doenças estabelecidas.

O médico geriatra e nutrólogo Juliano Burckhardt, também da Abran, também concorda com a importância da alimentação para redução do risco de câncer: “Segundo estudos, o consumo de 10 porções diárias de frutas e hortaliças poderia evitar até 7,8 milhões de mortes prematuras. Pequenas quantidades de frutas e verduras todos os dias já trazem benefícios para a saúde, mas é certo que quanto maior a porção diária, melhor; a incidência de câncer é menor em quem consome alimentos verdes, amarelos e as chamadas crucíferas, como couve-flor, repolho e brócolis”, explica o médico.

Outro conselho importante é evitar o excesso de carboidratos e açúcares, que levam à obesidade e agravam os riscos de diversas doenças. “O consumo de açúcares adicionados e escondidos é um dos principais equívocos alimentares da dieta ocidental, com inúmeras consequências indesejáveis à saúde, e não deve compor mais de 10% de todas as calorias ingeridas”, comenta Marcella Garcez.

Outros fatores de proteção

Além de não fumar e limitar o consumo de álcool – ambos os itens associados a diversos tipos de câncer, a prática de atividade física tem um papel relevante na prevenção da doença. “Estudo recente da Universidade de Copenhague destaca que 6 semanas de exercícios físicos de força, como a musculação, levaram a mudanças na informação epigenética das células do músculo em homens jovens e essas mudanças ocorreram em áreas do genoma que foram associadas a doenças”, finaliza Marcelo Sady.

Jairo Bouer lembra que o uso da camisinha e a vacinação contra o HPV (papilomavírus humano) também são medidas que ajudam na prevenção do câncer. Um estudo recente que acompanhou mais de 1,6 milhão de mulheres na Suécia mostra que a vacina foi capaz de reduzir em 88% os casos de câncer de colo de útero naquela população.

O trabalho, publicado no The New England Journal of Medicine, envolveu meninas e mulheres que tinham de 10 a 30 anos de idade em 2006, um ano antes da introdução da vacina quadrivalente de HPV naquele país. Vale lembrar que o vírus está envolvido em muitos casos de tumores de cabeça e pescoço, ânus e pênis.

Veja também:

 

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