Antipsicóticos muitas vezes são prescritos para acalmar residentes em casas de repouso
Tatiana Pronin Publicado em 06/12/2024, às 14h00
É comum que, em casas de repouso, idosos com sintomas de agitação ou agressividade por causa da demência sejam medicados com antipsicóticos. Esse uso é “off-label”, ou seja, está fora da recomendação de bula, que é o tratamento de condições como esquizofrenia ou certos tipos de psicose.
Há anos, pesquisadores têm alertado para os riscos desse tipo de uso dos antipsicóticos. Agora, um novo estudo reforça a contraindicação, mostrando que essas drogas não apenas não agem como esperado, como agravam o comportamento dos pacientes.
Uma equipe da Universidade de Waterloo, no Canadá, analisou dados de quase 500 mil pacientes que viviam em casas de repouso naquele país entre 2000 e 2022. Cerca de 26% deles receberam antipsicóticos de forma não recomendada pela bula entre 2014 e 2020.
Os resultados mostram que quase 68% dos residentes que recebiam antipsicóticos tiveram mais problemas comportamentais durante os acompanhamentos.
“Este é o primeiro estudo longitudinal nacional desse tipo, utilizando uma técnica estatística para medir o efeito dos tratamentos antipsicóticos”, afirmou o médico Daniel Leme, autor principal do estudo e pesquisador de pós-doutorado na Escola de Ciências da Saúde Pública de Waterloo.
Embora os antipsicóticos sejam frequentemente usados para acalmar residentes com comportamentos agressivos ou agitados, esses medicamentos podem causar efeitos colaterais graves. Alguns exemplos são: tremores, inquietação, rigidez, contrações musculares dolorosas e dificuldade para ficar de pé ou andar, o que pode agravar os sintomas comportamentais e psicológicos já existentes.
“Às vezes, as pessoas podem dizer que não há pessoal suficiente para lidar com essas questões, mas a realidade é que esses medicamentos podem piorar a deficiência e o comprometimento cognitivo”, disse o médico John Hirdes, professor na Escola de Ciências da Saúde Pública.
“Precisamos reconsiderar seriamente o uso de antipsicóticos para pessoas que não têm condições associadas à psicose.”
O estudo destaca o uso inadequado de antipsicóticos para tratar sintomas comportamentais e psicológicos da demência (SCPD), que podem incluir irritabilidade, agressividade, agitação, ansiedade, depressão, alterações no sono ou apetite, apatia, deambulação, questionamentos repetitivos, comportamentos sexualmente inadequados e recusa de cuidados.
Em vez de recorrer imediatamente a medicamentos, os pesquisadores sugerem focar no cuidado centrado na pessoa – investigando as causas dos comportamentos dos residentes e oferecendo suporte de outras maneiras.
Por exemplo: um residente pode precisar de melhor controle da dor, comunicação mais clara ou atividades que reduzam a ansiedade. Terapias não medicamentosas, como música, arte, interação social e exercícios leves, têm mostrado ser eficazes na gestão dos comportamentos sem necessidade de antipsicóticos.
Treinar a equipe para compreender os riscos dos antipsicóticos e oferecer cuidados de melhor qualidade também tem sido associado a melhores resultados para os residentes de casas de repouso, incluindo menos agitação e uma melhor qualidade de vida.
O estudo, publicado no Journal of the American Medical, e faz parte de um projeto internacional chamado I-Care4Old, financiado por um fundo global de financiamento de pesquisas, o New Frontiers Research Fund Global Grant.
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