Doenças Inflamatórias Intestinais: ultraprocessados aumentam riscos

DII são doenças que causam inflamação crônica no trato gastrointestinal, como doença de Crohn e a colite ulcerosa

Redação Publicado em 19/07/2021, às 11h20

Alimentos produzidos em massa contêm aditivos, como conservantes, adoçantes e aromatizantes, gorduras trans e corantes - iStock

Um recente estudo de coorte prospectivo [grupo de participantes observados por um determinado tempo] multinacional explorou a relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o risco de desenvolver doenças inflamatórias intestinais (DII), um grupo de doenças que causam inflamação crônica no trato gastrointestinal, sendo que a doença de Crohn e a colite ulcerosa são as mais conhecidas.

A pesquisa foi liderada pela Universidade McMaster, em Hamilton, Canadá, e os resultados foram publicados no British Medical Journal. Os médicos acreditavam que esse tipo de alimentação pode comprometer a saúde do trato gastrointestinal, porém, faltavam evidências. Agora, esse estudo fornece boas pistas de que o consumo regular de alimentos e bebidas altamente processados está associado a inflamações e DII.

As doenças inflamatórias intestinais são mais prevalentes em países ricos do que naqueles com renda média mais baixa e alguns estudos apontam para fatores de risco genéticos para as doenças. Porém, evidências crescentes vinculam os padrões alimentares ao aumento do consumo, especialmente em nações em desenvolvimento, onde alimentos ultraprocessados estão cada vez mais disponíveis e populares.

Os pesquisadores chamavam a DII como "uma doença de nações ricas". No entanto, à medida que sociedades progridem economicamente, elas renunciam aos métodos tradicionais de cultivo, preparação e preservação de alimentos em favor de adquirir produtos convenientemente embalados. Como não havia nenhuma pesquisa real demonstrando o que ocorre com a saúde intestinal quando uma nação fica melhor economicamente, essa nova pesquisa veio para confirmar o que eles já desconfiavam.

Estados Unidos

O estudo avaliou os dados médicos de mais de 116.000 adultos com idade entre 35 e 70 anos. Os participantes vieram de 21 países de baixa, média e alta renda da América do Norte, América do Sul, Europa, África, Oriente Médio, Sul da Ásia, Sudeste Asiático e China. Eles respondiam a um questionário de frequência alimentar pelo menos a cada três anos, de 2003 a 2016.

Na pesquisa, relatavam o consumo de todos os tipos de alimentos e bebidas embalados e formulados que contivessem aditivos alimentares, aromatizantes artificiais, cores ou outros ingredientes químicos. O desfecho primário do estudo foi o diagnóstico de DII após a conclusão do questionário de linha de base.

Participantes da América do Norte, América do Sul e Europa relataram maior consumo de alimentos ultraprocessados do que nas outras regiões. A ocorrência de DII foi maior nessas três áreas também. Os pesquisadores apontaram que os adultos nos Estados Unidos consomem mais alimentos altamente processados do que aqueles que vivem em qualquer outro país do mundo e que essa alimentação responde por mais de 60% da ingestão calórica por lá.

No entanto, o estudo não pôde confirmar uma ligação causal entre os alimentos ultraprocessados e o desenvolvimento de DII. Isso porque, embora o alto consumo de alimentos ultraprocessados esteja associado a uma maior incidência de DII, a ingestão dos mesmos alimentos na forma não processada não apresenta os mesmos riscos. Desse modo, os pesquisadores concluem que o risco de DII está associado ao processamento dos alimentos.

A doença de Crohn e a colite ulcerosa são as doenças inflamatórias intestinais mais conhecidas - iStock

Fatores limitantes

Os pesquisadores admitiram várias limitações que podem ter afetado os resultados. Eles reconhecem que os questionários alimentares podem não avaliar a ingestão absoluta. Além disso, eles não têm certeza se suas descobertas, que vieram de participantes com pelo menos 35 anos, podem se aplicar a crianças ou jovens adultos que desenvolvem DII. A faixa etária dos participantes do estudo pode ter limitado a capacidade de determinar os fatores de risco para a doença de Crohn também. Por isso, eles reconhecem que mais pesquisas são necessárias.

Embora o estudo não leve em consideração as modificações dietéticas ao longo do tempo, os padrões dietéticos relatados parecem permanecer estáveis. Porém, a natureza observacional do estudo pode ter deixado algum viés residual, devido a variáveis não medidas, como o uso de antibióticos durante a infância e fatores de confusão desconhecidos. A equipe do estudo, porém, admite que o consumo de alimentos de “baixa qualidade” perturba a  microbiota intestinal (bactérias que habitam o intestino e têm efeito positivo para a saúde), enfraquece o sistema imunológico e causa reações inflamatórias exageradas por trás de muitas doenças comuns.

Portanto, o melhor a fazer é sempre optar por uma alimentação o mais saudável possível, apostando em legumes, frutas e verduras, e evitando ao máximo os alimentos e bebidas produzidos em massa, que contêm aditivos alimentares, como emulsificantes, conservantes, adoçantes e aromatizantes, gorduras trans e corantes.

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