Redação Publicado em 05/08/2021, às 18h00
Adultos com sobrepeso ou obesidade têm probabilidade até sete vezes maior de desenvolver doenças crônicas, como diabetes tipo 2, doença hepática gordurosa e doenças cardíacas em comparação com indivíduos com peso moderado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 4 milhões pessoas morrem a cada ano em todo o mundo devido ao sobrepeso e à obesidade.
Muitos lutam para manter um peso moderado apenas com dieta e exercícios. Existem poucos tratamentos com medicamentos para o sobrepeso e a obesidade e eles têm efeitos colaterais. Uma nova estratégia de tratamento que os cientistas estão explorando é direcionar o sistema imunológico, conhecido por afetar o metabolismo da gordura ou tecido adiposo.
Pesquisadores da Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, especulam que conseguiram tratar a resistência à insulina em camundongos obesos aumentando os níveis de uma proteína que pertence à família das citocinas (proteínas que modulam a função de outras células ou da própria célula que as geraram), a chamada linfopoietina estromal tímica (TSLP). Eles relatam as descobertas na Science.
Os médicos caracterizam o diabetes tipo 2 pelos tecidos do corpo que não respondem mais à insulina, hormônio que regula os níveis de glicose no sangue. Eles ficaram surpresos ao descobrir que o TSLP não apenas melhorou o metabolismo de glicose, mas também reduziu o peso dos camundongos. Curiosamente, a perda de peso não teve associação com metabolismo mais rápido, maiores níveis de atividade física, aumento da excreção de calorias ou diminuição da ingestão de alimentos. Na verdade, os ratos com níveis elevados de TSLP comeram 20%-30% mais do que os de controle.
Taku Kambayashi, professor associado de patologia e medicina laboratorial da universidade e líder do estudo, diz ter finalmente resolvido o quebra-cabeça.
Quando olhei para os corpos dos camundongos tratados com TSLP, percebi que eles brilhavam na luz. Sempre soube quais ratos exatamente foram tratados porque eles eram muito mais brilhantes do que os outros”, diz ele.
A análise do pelo dos ratos tratados mostrou que os animais secretavam mais sebo rico em gordura e calorias das glândulas sebáceas da pele. Isso deu à pele uma aparência brilhante e oleosa.
Para testar os efeitos metabólicos do TSLP, os cientistas injetaram um vírus geneticamente modificado em ratos obesos para carregar o gene que produz essa citocina. Eles injetaram o mesmo vírus em ratos de controle, sem o gene adicional. Após quatro semanas, durante as quais todos os animais comeram a mesma dieta rica em gordura, os ratos de controle ganharam peso. Enquanto isso, naqueles com TSLP extra, os níveis de glicose no sangue e de insulina em jejum melhoraram enquanto o peso caiu, em média, de 45 gramas para saudáveis 25 gramas.
Os ratos perderam gordura visceral - aquela branca que se acumula ao redor dos órgãos vitais – o que fez os especialistas relacionaram a um aumento do risco de diabetes, doenças cardíacas e derrames. A produção de sebo também aumentou na pele, conferindo ao pelo uma aparência brilhante característica.
Para confirmar que a perda de peso ocorreu como resultado do aumento da produção de sebo, os pesquisadores injetaram a citocina em ratos obesos que não têm capacidade de produzir sebo. Como previsto, esses ratos não conseguiram perder peso. A citocina parece funcionar enviando células imunológicas para a pele, onde induzem as glândulas sebáceas produtoras de sebo a produzirem quantidades anormalmente grandes da substância gordurosa.
O sebo tem uma série de funções importantes, incluindo bloqueio da luz ultravioleta, atividade antimicrobiana e regulação do calor. Experimentos revelaram que, além de aumentar a produção de sebo, as células do sistema imunológico também aumentaram a quantidade de proteínas antimicrobianas.
Os pesquisadores estão otimistas de que a descoberta possa inspirar novos tratamentos, com medicamentos para sobrepeso e obesidade que atuam por meio do sistema imunológico, aumentando a produção de sebo.
Não acho que controlamos naturalmente nosso peso regulando a produção de sebo, mas podemos desviar o processo e aumentar a produção de sebo para causar perda de gordura. Isso pode levar a novas intervenções terapêuticas que revertam a obesidade e os distúrbios lipídicos”, diz Kambayashi.
Em seguida, os pesquisadores planejam investigar como as células T ativadas por TSLP estimulam as glândulas sebáceas a aumentarem a produção de sebo. Em humanos, isso pode fornecer informações sobre doenças da pele, como eczema, em que a capacidade da pele de atuar como uma barreira é quebrada.
Em humanos, existem duas versões do TSLP: uma forma curta e uma longa. A longa é conhecida por causar inflamação e está ligada à asma e a outras doenças alérgicas, então os pesquisadores esperam descobrir que é a forma curta que aumenta a produção de sebo. A dosagem em um potencial tratamento humano também seria muito menor do que a usada em experimentos com camundongos.
Em camundongos, a perda de gordura induzida por TSLP é dramática (eles perderão toda a gordura corporal em cerca de duas semanas). Em humanos, não acho que precisamos aumentar a produção de sebo a esse ponto. Em vez disso, aumentar a produção de sebo em três vezes ou mais seria suficiente para eliminar as calorias de um hambúrguer extra por dia”, disse Kambayashi.
Como o sebo resulta da extração de lipídios da corrente sanguínea, acrescentou ele, o TSLP pode melhorar a saúde cardiovascular, além de induzir a perda de peso. Agora, porém, o estudo tem de ser realizado em humanos para comprovar os resultados.
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