Redação Publicado em 12/07/2021, às 19h00
Uma pesquisa feita com pessoas transgêneras e não binárias em seis continentes e em treze idiomas diferentes mostrou que, durante os primeiros meses da pandemia de Covid-19, muitas enfrentaram acesso reduzido a recursos de afirmação de gênero - e essa diminuição está diretamente ligada à piora da saúde mental.
Segundo os pesquisadores, a expressão “recursos de afirmação de gênero” pode englobar cuidados de saúde, como procedimentos cirúrgicos, bem como serviços e produtos que oferecem a afirmação de gênero e são conhecidos por aumentar significativamente o bem-estar psicológico e a qualidade de vida de pessoas trans e não binárias.
Entretanto, a transfobia, a falta de qualificação de profissionais e serviços de saúde e a insegurança econômica individual podem dificultar o acesso desse grupo a esses recursos. O estudo, conduzido por uma equipe do Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health (Estados Unidos), foi publicado no jornal PLOS ONE.
Diante dessas informações, evidências sugerem que as medidas adotadas para controlar a disseminação da Covid-19 agravaram e intensificaram esses desafios. Por exemplo, provavelmente, muitos indivíduos trans precisaram cancelar a cirurgia de afirmação de gênero porque esta foi considerada eletiva durante o período da pandemia.
Ou, ainda, necessitaram voltar a morar com parentes que não dão apoio e passar mais tempo vivendo de acordo com o sexo atribuído no nascimento em vez do seu gênero real.
Para entender melhor o impacto mundial da pandemia de Covid-19 sobre as pessoas que se classificam como transgêneras e não binárias, os pesquisadores entrevistaram 964 adultos residentes em 76 países diferentes – incluindo Turquia e Tailândia – por meio dos aplicativos Hornet e Her.
A pesquisa, realizada entre abril e agosto de 2020, perguntou aos participantes sobre como a pandemia afetou o seu acesso a recursos de afirmação de gênero, bem como a sua saúde mental e a estabilidade financeira.
Confira:
Após analisar estatisticamente as respostas, a equipe revelou que mais da metade dos entrevistados (55%) disse que enfrentou redução do acesso aos recursos de afirmação de gênero durante o período do estudo, bem como quase 40% contaram que a pandemia diminuiu a sua capacidade de viver de acordo com o seu gênero.
Além disso, muitos relataram prever grandes chances de ter algum tipo de dificuldade financeira no futuro. Uma em cada seis pessoas, por exemplo, esperava perder o seguro de saúde e 77% acreditavam que teriam a renda reduzida.
Aqueles que disseram ter tido uma diminuição do acesso aos recursos de afirmação de gênero também apresentaram maiores prevalências de sintomas relacionados à saúde mental: depressão, ansiedade e pensamentos suicidas eram mais prevalentes em indivíduos cujo acesso aos recursos de afirmação de gênero foi reduzido.
Para os pesquisadores, as comunidades de pessoas transgêneros e não binárias já enfrentavam dificuldades em relação à saúde antes da pandemia, experimentando ainda mais desafios com a chegada das restrições impostas pela Covid-19. Segundo eles, além de desenvolver políticas para tornar a saúde de afirmação de gênero mais acessível, também é importante reconhecê-la como essencial.
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