Estudo revela efeitos psicológicos da pandemia na gravidez e pós-parto

Medo do contágio e solidão são algumas variáveis que agravam ansiedade e depressão

Redação Publicado em 17/02/2021, às 19h00

O estado psicológico influencia diretamente o risco de ansiedade e depressão na gravidez - iStock

Mulheres que deram à luz durante a pandemia de Covid-19 relataram ter sentido maior estresse no parto e menor qualidade no atendimento recebido. Além disso, houve um aumento de cerca de 15% no número de mulheres que desenvolveram sintomas de depressão pós-parto

Os resultados acima são de um estudo realizado pela Universidade de Granada, na Espanha, sobre os efeitos psicológicos provocados pela pandemia na gravidez e no pós-parto, e publicado na revista Medicina Clínica.

De acordo com os pesquisadores, variáveis como estresse, preocupações com a evolução da gravidez, resiliência pessoal, insônia, medo de ser infectada pelo coronavírus e sensação de solidão têm contribuído para quadros de ansiedade e depressão mais severos entre gestantes desde o início da pandemia. 

Além disso, toda a incerteza provocada pela situação de confinamento, junto com as experiências dessas mulheres em hospitais sobrecarregados com pacientes de Covid-19, pode ter potencializado os níveis de estresse

Para Borja Romero González, pesquisador e principal autor do estudo, grande parte da população experimentou situações altamente estressantes, de tristeza ou ansiedade ao longo da pandemia e aprendeu a lidar com o novo modo de vida. Mas esse cenário parece afetar as grávidas de maneira especial, já que elas têm medo não apenas de se infectar, mas também de transmitir o vírus ao bebê

Descobertas

Por conta do confinamento, a população viu-se forçada a mudar hábitos cotidianos. Nesse contexto, a pesquisa contou com uma amostra de 131 gestantes e teve como objetivo determinar quais as variáveis contribuíram para aumentar ou diminuir os níveis de ansiedade e depressão

A equipe também analisou fatores da própria experiência de confinamento, como o tipo de residência das mulheres, se seguiram uma dieta equilibrada e a frequência com que realizaram chamadas de vídeo com familiares e amigos. 

Os resultados obtidos mostram que, independente do local de moradia, tipo de dieta ou do contato com parentes e amigos, o estado psicológico influencia diretamente e contribui para o agravamento dos problemas de ansiedade e depressão

Os pesquisadores enfatizam a importância da intervenção psicológica para as gestantes, para oferecer a escuta e permitir que falem sobre suas emoções para minimizar o impacto da situação atual. Essa iniciativa também pode provocar um efeito positivo para a criança que vai nascer, já que existe uma estreita relação entre os níveis de estresse da mãe e o neurodesenvolvimento do bebê. 

Segundo estudo 

Um segundo estudo realizado pela equipe com 162 mulheres e publicado no International Journal of Gynecology and Obstetrics, comparou os níveis de satisfação com o parto e a incidência de depressão pós-parto em mulheres que deram à luz antes e durante a pandemia.  

Os resultados mostraram que quase 15% mais mulheres desenvolveram sintomas de depressão pós-parto na pandemia, e grávidas que tiveram bebê nesse período sentiram maior estresse durante o processo de parto e se mostraram menos satisfeitas com a qualidade de atendimento que receberam nos hospitais.

De acordo com os pesquisadores, a satisfação com o parto é um indicador de bem-estar posterior, ou seja, estar satisfeita é um ponto importante na redução do risco da mulher sofrer com depressão pós-parto. 

Veja também:

gravidez Covid-19 pandemia

Leia também

Fiuk: remédios para depressão e ansiedade causam abstinência?


Pandemia trouxe consequências positivas para muita gente, diz pesquisa


Estava no período fértil e “melou” a calcinha. Tem perigo de gravidez?


Ansiedade pela vacina pode ter impacto no uso de bebidas alcoólicas